sábado, 4 de março de 2023

Alexandra Feodorovna - A Neta Preferida da Rainha Victoria

Rainha Victoria do Reino Unido e a sua neta, então Alice de Hesse-Darmsdat
Fonte: Rainhas Trágicas

Alexandra Feodorovna, nascida Alice Victoria Helena Louise Beatrice de Hesse-Darmsdat, era a 6ª filha do Grão-Duque Luís IV de Hesse com a Princesa Alice do Reino Unido.

Princesa Alice do Reino Unido e Grão-Duque Luís IV, pais de Alexandra Feodorovna
Fonte: Wikipédia

Quando  nasceu, a sua mãe escreveu à sua avó, a Rainha Victoria a dizer que Alice era "uma menina alegre, sempre a rir, com covinhas nas bochechas".

A menina sorridente logo foi apelidada pelos familiares de Sunny. A sua educação contemplou um rígido sistema de horários, cumpridos sobre os auspícios de Mrs. Orchard, uma governanta inglesa enviada para supervisionar as crianças de Hesse.

Alexandra enquanto Princesa Alice de Hesse-Darmsdat
Fonte: Wikipédia

Viviam de palácio em palácio, visitando a avó anualmente em Windsor, Balmoral, ou nas Terras Altas da Escócia, em Osborne House.

Victoria achava Alice "a criança mais bonita que já vi", com um rostinho redondo e rosado, olhos azuis e cabelos loiro-arruivados.

A mãe de Alice morreu aos 35 anos. Ao saber da notícia, a Rainha Victoria ficou despedaçada, lamentando a perda da filha. Antes da mãe de Alice, morreu a sua irmã mais nova Maria, de difteria.

Alice do Reino Unido, mãe de Alexandra (esquerda) e Maria de Hesse e Reno, irmã de Alexandra (direita)

Com a mãe da irmã mais nova, a quem era muito apegada, e da mãe um mês seguinte, tiveram consequências irreversíveis na personalidade da antes extrovertida Sunny. Uma tristeza se apoderou do seu rosto e apenas em raras ocasiões, quando estava no conforto da Inglaterra com a sua avó e primos, sorria e esquecia um pouco o peso daquelas perdas.

Durante as visitas anuais à Inglaterra, Victoria fazia de tudo para agir como uma mãe substituta e exigia dos tutores da neta em Hesse que lhe enviassem regularmente relatórios sobre os seus progressos.

De sua parte, Alice correspondia  a afeição da avó, assinando as suas cartas endereçadas à Rainha como sua "Filha muito carinhosa, respeitosa e grata". Nunca se esquecia de nenhuma data de aniversário de nascimento ou morte, que eram importantes para a Rainha.

Victoria dava conselhos aos precetores da sua neta sobre quais livros ela deveria ler, quais disciplinas cursar ou que tipo de instrumento deveria aprender a tocar.

Alice deu-se muito bem com o piano e era constantemente convidada pela Rainha a tocar uma melodia durante as suas temporadas nas residências reais inglesas.

As primeiras redações que escreveu, ainda sobre a supervisão da mãe Princesa Alice, eram quase sempre endereçadas à "querida avózinha".

Aos 15 anos, Alice tinha um ótimo conhecimento de História, Geografia, Literatura Inglesa e Germânica. Uma das suas tutoras inglesas, Margareth Jackson, transmitiu à jovem pupila o interesse pela política. Afinal, a sua avó era uma das chefes de Estado mais poderosas da Europa.

Victoria, no entanto, desaprovava este tipo de incentivo e expressou o desejo de que não deixassem a neta sozinha "com a senhorita Jackson, com a sua péssima saúde, as suas atitudes ásperas e o seu mau carácter. Tudo isso arruinaria Alice.".

Alice visita a Rússia, em 1884, pela primeira vez, para o casamento da sua irmã Ella com o Grão-Duque Serguei Aleksándrovich, é quando conhece o herdeiro do trono, o Czarevich Nicolau. Na época, Alice tinha 12 anos e ele 16.

Fotografia do noivado de Ella, irmã de Alexandra e do Grão-Duque Serguei Aleksándrovich
Fonte: Wikipédia

Apesar de encantada pelos modos e aparência do Príncipe, a jovem não punha a possibilidade de ter que mudar de religião para se casar, apesar de concordar em escrever para Nicolau em segredo.

A Rainha Victoria, porém, tinha outros planos para Alice. O seu desejo era que a neta aceitasse a proposta de casamento do primo Albert Victor, primogénito do Príncipe de Gales. Se aceitasse, Alice seria a próxima Rainha da Inglaterra.

Albert Victor, Duque de Clarence e Avondale
Fonte: Wikipédia

No entanto, Alice recusou a oferta, causando assim grande frustração na sua avó.

Quando Albert Victor morreu, a 14 de janeiro de 1892, em decorrência de uma epidemia chamada na época de gripe russa, especulou-se a possibilidade de Alice casar-se com o irmão mais novo dele, George, Duque de York. Assim como aconteceu com o pedido anterior, a jovem recusou.

George, Duque de York (Futuro George V)
Fonte: Wikipédia

Aos 20 anos, Alice era considerada uma mulher muito bonita, "afetuosa, boa e inteligente", conforme descreveu a sua avó.

A 13 de março de 1892, morre o pai de Alice, Luís IV, Grão-Duque de Hesse, aos 54 anos. Nos últimos tempos, a sua filha era uma companhia constante. Todas as outras já estavam casadas e apenas Alice permaneceu ao seu lado, ajudando-o no que fosse preciso.

Alice encontrou conforto para as constantes perdas de familiares na religião e na companhia da avó. Alice e a avó podiam ser vistas juntas nas poucas aparições públicas da Rainha, incluindo em visitas aos distritos mineradores de Gales.

Victoria a mantinha perto de si constantemente. Mas, por trás da frieza e da expressão melancólica da jovem, havia também momentos de descontração, como a própria admitiu: "posso ser alegre, às vezes, e às vezes posso ser agradável, creio (...) mas estou mais para uma criatura contemplativa e séria".

Uma questão que preocupava a Rainha Victoria, que adorava intrometer-se nos casamentos dos seus filhos e netos, era a escolha do noivo para Alice. Acima de tudo, não desejava uma união com o Czarevich Nicolau, uma vez que considerava a Rússia como "falsa" e "pérfida".

As suas hostilidades para com aquele país remontavam à época da Guerra da Crimeia (1853-1856) e ela então implorou aos irmãos de Alice, Victoria e Ernie, para que fizessem tudo para dissuadir a sua irmã mais nova dessa união.

Victoria de Hesse e Reno (esquerdo) e Ernie, Grão-Duque de Hesse, irmãos de Alexandra

No entanto, em São Petersburgo a Grã-Duquesa Ella trabalhava no sentido oposto. Quando Alice visitou a Rússia novamente em 1890, a Rainha demonstrou inquietude. Naquele ano, Victoria estava decidida a casar a sua neta com Albert Victor.

A oportunidade de se juntarem os dois, Alice e Nicolau, aconteceu no casamento de Ernie, em 1894. Vários membros da Família Real compareceram à cerimónia, em Coburg, incluindo Nicolau e os seus tios.

Dois anos antes, Nicolau escreveu no seu diário: "O meu sonho é me casal algum dia com a Princesa Alix H. Amo-a há longo tempo, e ainda mais forte profundamente desde 1889, quando ela passou seis semanas em São Petersburgo. Por muito tempo resisti ao sentimento de que o meu mais caro sonho se realizasse".

Naquele ano, em Coburg, Alice estava decidida a aceitar o pedido, mas a mudança de religião era um grande problema para ela.

Noivado de Alexandra e Nicolau, em 1894
Fonte: Wikipédia

O afeto mútuo entre os dois levou a Rainha Victoria a deixar de lado os seus preconceitos e então aconselhou a neta a aceitar o pedido. A Princesa, depois de muito deliberar, aceitou com satisfação. Nicolau descreveu o momento como "maravilhoso, inesquecível. Hoje é o dia do meu noivado com a minha querida e adorada Alix".

O casal foi convidado a passar uma temporada na Inglaterra, sob os auspícios da Rainha, para que pudessem se conhecer melhor e lá foram convidados para serem padrinhos do primogénito do Príncipe George com Mary de Teck, o futuro Rei Eduardo VIII.

Enquanto isso, a noiva aprendia a história e a língua russa, bem como os rituais da religião ortodoxa grega. Essas semanas idílicas só foram interrompidas pela notícia grave do estado de saúde do Czar Alexandre III.

Os dois voltaram imediatamente à Rússia, a tempo de receber a bênção do Imperador. Porém, a chegada da noiva ao seu novo país, naquelas circunstâncias, foi interpretado por muitos como um sinal de mau agoiro.

Alexandre III morreu a 11 de novembro de 1894, passando a coroa para o seu filho, que subiu ao trono como Nicolau II.

Alice é batizada na religião russa, e renomeada Alexandra Feodorovna, casa-se com Nicolau, em abril de 1894.

O enviado britânico, Lorde Carrington, informou a Rainha Victoria que a nova Czarina "parecia a perfeição do que se imaginaria ser uma Imperatriz da Rússia a caminho do futuro altar". Alta e esbelta, agora Alexandra chamava a atenção de todos quando apareceu com o seu vestido de brocado branco e prateado, de cauda forrada com pele de arminho e o manto imperial de tecido de ouro sobre os ombros.

Casamento de Alexandra Feodorovna e Nicolau II da Rússia
Fonte: Wikipédia

No início do ano seguinte, apresentou os primeiros sinais de gravidez. A sua irmã, Ella, escreveu à Rainha a dizer que Alexandra estava "com ótimo aspeto, graças a Deus, o rosto bem mais rechonchudo, uma pele tão saudável, fazia anos que não a via tão bem".

A 15 de novembro de 1895, depois de longas horas de trabalho de parto, deu à luz uma menina a quem chamou de Olga.

Olga da Rússia, primeira filha de Alexandra e Nicolau
Fonte: Wikipédia

Em maio de 1896, visitaram a Rainha Victoria na Escócia. A Rainha ficou encantada com o aspeto saudável da neta e exultante ao contemplar o bebé que ela trazia.

A 10 de junho do ano seguinte, Victoria escreveu à sua filha Beatriz que "Alexandra teve uma segunda filha, o que eu já absolutamente esperava", chamava-se Tatiana.

Tatiana da Rússia, segunda filha de Alexandra e Nicolau
Fonte: Wikipédia

Uma terceira menina nasceu a 26 de junho de 1899, batizada de Maria.

Maria da Rússia, terceira filha de Alexandra e Nicolau
Fonte: Wikipédia

A Rainha Victoria ao saber da notícia do terceiro nascimento de uma menina escreveu: "Sou tão grata pela querida Alice ter-se recuperado tão bem. (...) Pelo país, lastimo a terceira filha. Sei que um herdeiro seria mais bem-vindo que uma filha".

A despeito da deceção pela ausência de um herdeiro, a Rainha Victoria era cheia de atenção para com a sua neta e bisnetas. Enviava bonecas caras de porcelana de presente para as pequenas Grã-Duquesas e exigia informações detalhadas do quotidiano de Alexandra.

A Rainha Victoria estava muito preocupada com o futuro de Alexandra na corte russa, Alexandra estava isolada e quase sem amigos, exceto pela companhia do marido e das filhas.

No final de 1900, a saúde da Rainha começava a fraquejar. O Dr. Reid, que a atendia nos seus últimos anos de vida, disse que ela estava "cheia de ideias mórbidas, sobre dores imaginárias" e que ficava constantemente "nervosa, lamurienta e infantil".

Desde os 60 anos que Victoria sofria com um prolapso uterino e hérnia no ventre, decorrente dos seus sucessivos partos. No dia 19 de janeiro de 1901, o boletim oficial público dizia que "a Rainha sofre de grande prostração física, acompanhada de sintomas que geram preocupação".

Dois dias depois, teve uma leve melhora, mas a doença finalmente venceu aquele corpo idoso e cansado. Às 18h30 do dia 22 de janeiro de 1901, a Rainha morreu, na presença de alguns dos seus filhos e netos.

Quando a notícia da morte da Rainha Victoria chegou à Rússia, Nicolau II demonstrou grande preocupação com a reação da sua esposa.

Na altura, Alexandra estava grávida da sua quarta filha, Anastasia, que nasceu no dia 18 de junho.

Anastasia da Rússia, quarta filha de Alexandra e Nicolau
Fonte: Wikipédia

Alexandra ficou inconsolável, principalmente por não ter podido estar ao lado da sua avó quando o Príncipe de Gales, agora Rei Eduardo VII, lhe fechou os olhos, ou mesmo presente no grandioso funeral que percorreu as ruas de Londres.

Desde da morte da sua filha Alice, que a Rainha Victoria assumiu os cuidados da sua neta do mesmo nome, Alice, priorizando-a em relação aos outros netos.

Acima de tudo, preocupava-se com o futuro de Alexandra num país que ela considerava "corrupto, onde não se pode confiar em ninguém".

Em 1904, quando a Czarina deu à luz o tão esperado herdeiro do trono, Alexei, logo se descobriu que o bebé era portadora hemofilia, um gene que Victoria passou para os seus filhos e netos e que teve consequências desastrosas para a estabilidade da monarquia na Rússia.

Alexei, Czarevich da Rússia, o primeiro filho homem e quinto e último filho de Alexandra e Nicolau II da Rússia
Fonte: Wikipédia

A 7 de março de 1917, num dia frio de inverno, a Czarina Alexandra aconchegava-se em frente à lareira do seu Boudoir Malva, no Palácio Alexandre, em Tsárskoe Seló. Ao seu lado, havia uma mesa com uma pilha de cartas, documentos e diários pessoais, que remontavam à época da sua juventude em Hesse.

Um a um, a Czarina atirou os papéis às chamas, enquanto lágrimas lhe corriam pelos olhos. Alguns dias antes, a notícia da abdicação de Nicolau tinha chegado aos seus ouvidos e Alexandra ajudou prudente livrar-se de qualquer documento que pudesse ser utilizado contra o marido.


Fonte: Rainhas Trágicas


MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário