sábado, 26 de outubro de 2019

A Família Romanov e a sua Execução

Família Romanov
A Dinastia Romanov foi uma família nobre russa, sendo a segunda e última dinastia imperial e portanto, a família imperial que governou a Moscóvia e o Império Russo, de 1613 a 1762.

Entre 1762 e 1917, a Rússia foi governada por uma ramificação da Casa de Oldenburgo, que manteve o sobrenome Romanov, hoje ainda utilizado pelos descendentes.

O último Czar foi Nicolau II, que foi assassinado com a sua esposa e filhos, após a revolução de 1917, liderada pelos bolcheviques.

Nicolau II nascido em 1868, era filho do Czar Alexandre III e da Imperatriz Maria Feodorovna.
Pais de Nicolau: Czar Alexandre III e Imperatriz Maria Feodorovna
Nicolau e os irmãos foram educados rigorosamente, dormiam em camas de armar duras e os seus quartos eram pobremente mobilados, exceto num objeto religioso da Virgem e Filho rodeado por pérolas.

Desde cedo Nicolau demonstrou um temperamento tímido e inclinações que o orientavam mais para a vida doméstica. Dançava de forma elegante, era um bom atirador, andava a cavalo e praticava desportos. Falava francês, alemão e inglês. Adorava a história e a pompa do exército.

Contrariando os pais, Nicolau quis casar com a princesa Alice de Hesse e Reno.

Alice hesitou em aceitar a proposta de casamento devido ao requerimento de que teria que se converter do luteranismo para a ortodoxia russa e renunciar à sua fé inicial. Tornaram-se oficialmente noivos no dia 8 de abril de 1894, em novembro seguinte Alice converteu-se à ortodoxia e passou a chamar-se Alexandra Feodorovna.
Fotografia oficial do noivado de Nicolau e Alice de Hesse e Reno
O casamento estava marcado para a primavera seguinte, mas por insistência de Nicolau foi antecipado, o casamento aconteceu a 26 de novembro de 1894. Alexandra usou o tradicional vestido de noiva da família Romanov e Nicolau usou um uniforme dos Hussardos.
Casamento de Nicolau e Alexandra Feodorovna
Nicolau governou desde a morte do seu pai, a 1 de novembro de 1894 até à sua abdicação a 15 de março de 1917, quando renunciou em seu nome e do seu herdeiro.

Do casamento de Nicolau e Alexandra nasceram cinco filhos, quatro raparigas e o mais novo um rapaz: Olga em 1897, Tatiana em 1897, Maria em 1899, Anastácia em 1901 e Alexei em 1904.
Filhos de Nicolau e Alexandra
Olga era inteligente e rápida a captar ideias, falava rapidamente, com sinceridade e perspicácia. Lia muito e adorava passear e nadar com o pai, conversavam durante longas caminhadas.
Olga Nikolaevna
Tatiana era a mais sociável e aparecia em mais ocasiões públicas do que as suas irmãs. Os seus irmãos tratavam-na como a “Governanta” porque era ela quem intercedia por eles aos pais. Era muito próxima da mãe.
Tatiana Nikolaevna
Maria tinha um grande talento para a pintura e desenho, era considerada a mais amável e simpática, o que lhe rendeu o apelido de “o anjo da família”. Maria flertava com jovens soldados e os seus assuntos preferidos eram casamento e filhos. Muitos achavam que Maria seria uma boa esposa para qualquer homem.
Maria Nikolaevna
Anastácia era a mais travessa e esperta, fazia imitações maldosas das pessoas que conhecia e brincadeiras, que por vezes iam longe demais. Em pequena, subia às árvores e apenas Nicolau conseguia que descesse. Era chamada de “diabinho” e “a criança terrível”.
Anastácia Nikolaevna 
Alexei foi um bebé muito desejado, já que até ao seu nascimento não havia um herdeiro para o trono. Apesar disso, poucos meses depois, descobriu-se que sofria de hemofilia, uma doença hereditária que impede a coagulação normal do sangue, na época era uma doença que não tinha tratamento e normalmente levava à morte precoce. Os seus pais decidiram não divulgar a sua condição, ninguém fora do palácio sabia. Quando faltava a eventos públicos era dito que ele tinha-se constipado ou magoado no tornozelo, mas já ninguém acreditava nessas explicações e passou haver rumores de que ele era mentalmente retardado, epiléptico ou que tinha sido vítima de bombas anarquistas. Tirando a doença, Alexei era uma criança barulhenta, vivo e reguila como a sua irmã Anastácia.
Alexei Nikolaevna
Durante o reinado de Nicolau viu a Rússia a decair de uma potência do mundo para um desastre económico e militar. Ficou conhecido pelos críticos como “o Sanguinário” devido à Tragédia de Khodynka, pelo Domingo Sangrento e pelos fatais ataques antissemitas que aconteceram durante o seu reinado.

Havia um aumento cada vez maior da pobreza à medida que o governo fracassava em produzir abastecimentos, criando tumultos e rebeliões.

Na primavera de 1917, a Rússia estava próxima a um colapso total. O exército levou 15 milhões de homens das fazendas e os preços dos alimentos elevaram-se.

No final da Revolução de Fevereiro de 1917, Nicolau II foi forçado a abdicar. Inicialmente abdicou a favor do filho Alexei, mas rapidamente mudou de ideias depois do conselho dos médicos de que Alexei não viveria muito tempo longe dos pais, que poderiam ser forçados a ir para o exílio.

Tudo indica que abdicou por motivos patrióticos, convencido pelos generais de que tal atitude era indispensável para manter a Rússia na guerra e garantir a vitória. Nicolau abdicou a favor do seu irmão, o Grão-duque Miguel.

O Grão-duque Miguel não aceitou o trono até que o povo fosse permitido votar através de uma assembleia constituinte para a continuação da monarquia ou de uma república.
Grão-duque Miguel, irmão de Nicolau
A abdicação de Nicolau e a revolução bolchevique levou ao fim de três séculos de governo da dinastia Romanov. Também levou a uma massiva destruição da cultura russa, com o fecho e demolição de várias igrejas e mosteiros, confisco de objectos valiosos e bens da antiga aristocracia e classes ricas e a supressão de formas de arte religiosas e folclóricas.

Na Rússia, o anúncio da abdicação do Czar foi recebido com muitas emoções, incluindo alegria, alívio, medo, raiva e confusão.

Em agosto de 1917, o governo de Alexander Kerensky que ocupava o cargo de Primeiro-Ministro, evacuou os Romanovs para Tobolsk, nos montes Urais, alegando que isso os protegeria do crescente fluxo da revolução. A 30 de abril de 1918, foram transferidos para o seu destino final, a Casa Ipatiev em Ecaterimburgo.
Alexander Kerensky
À medida que o tempo passava, Kerensky continuou a visitar a família e o seu relacionamento com eles melhorou nitidamente. A 25 de abril, Kerensky confessou que começou a sentir afeto pelas maneiras modestas e completa ausência de pose. Talvez, era essa a simplicidade sincera e natural que dava ao imperador a fascinação peculiar, o charme que era reforçado ainda mais pelos seus olhos maravilhosos, profundos e tristes.

Em Ecaterimburgo, o Czar foi proibido de usar as dragonas e as sentinelas desenhavam desenhos obscenos na cerca para ofender as filhas de Nicolau.

A 1 de março de 1918, a família foi posta a comer rações de soldados, o que significou a partida de dez criados devotados. A partir daí, manteiga e café foram considerados luxos. O que fez aa família continuar foi a fé de que alguém os ajudaria.
Filhas de Nicolau II durante o cativeiro
Como a guerra civil continuava e o Exército Branco estava ameaçar capturar a cidade, o medo foi que os Romanovs iriam cair em mãos do Exército Branco. Isto era inaceitável para os bolcheviques por duas razões, a primeira era que o Czar ou qualquer um dos membros da sua família poderiam conseguir apoio para a causa Branca, a segunda, se o Czar estivesse morto, qualquer um dos membros da sua família poderiam ser considerados os legítimos governantes da Rússia pelas outras nações europeias.

Em julho de 1918, forças da Legião Checoslovaca estava a chegar a Evaterimburgo, para proteger a Ferrovia Transiberiana, da qual eles tinham controlo. Os bolcheviques falsamente acreditavam que os checoslovacos estavam numa missão para resgatar a família, entraram em pânico e executaram a família.

Perto da meia-noite, Yakov Yurovsky o comandante da Casa da Proposta Especial, ordenou ao médico dos Romanovs, Dr. Eugene Botkin, para acordar a família e pedir para que se vestissem, sob o pretexto de que a família seria transferida para um local seguro devido ao iminente caos em Ecaterimburgo.
Yakov Yurovsky (esquerda) e Dr. Eugene Botkin (direita)
Os Romanovs foram então levados para uma sala onde Nicolau pediu duas cadeiras, onde Alexei e Alexandra se sentaram. Os prisioneiros ficariam a esperar na sala do porão enquanto o caminhão que iria transportá-los não chegava. Uns minutos depois, um esquadrão da polícia secreta foi trazido e Yurovky leu alto a ordem dada pelo Comité Executivo Ural, que os mandava executar.

Assim que é dada a ordem de execução Alexandra e Olga tentam fazer o sinal da cruz, mas não conseguiram devido ao começo do tiroteio. Primeiro morreu Nicolau, depois atiraram em Alexei. Os executores então começaram a disparar caoticamente até todas as vítimas terem caído.
Nicolau II dias antes de ser executado, em julho de 1918
Havendo alguns sobreviventes, Pyotr Ermakov esfaqueou-os com baionetas porque os tiros poderiam ser ouvidos do lado de fora. As últimas a morrer foram Tatiana, Anastácia e Maria, que tinham alguns diamantes costurados na sua roupa, o que as tinham protegido dos tiros.

Tatiana morreu apenas com uma bala na cabeça, Alexei recebeu dois tiros, pois não tinha morrido com o primeiro.
Quarto onde a família imperial foi assassinada após o acontecimento
Então os corpos dos Romanov foram levados para fora da cidade e atirados numa mina, no entanto, para limitar as possibilidades de que os cadáveres fossem descobertos, os soldados os levaram para um túmulo não identificado e os desfiguraram com ácido.
Local onde foram encontrados os corpos de Nicolau II e da sua família, em 1991
A princípio as autoridades soviéticas apenas transmitiram a morte de Nicolau II. Por algum tempo, a informação oficial era a de que a família tinha sido evacuada de Ecaterimburgo e enviada para longe do caos da guerra civil russa. Só no início da década de 1920 é que os detalhes da execução foram expostos, quando os envolvidos confessaram.

O assassino de Nicolau, Yakov Yurovky, em 1920, entregou pessoalmente as jóias que pertenciam à família imperial a Moscovo. Conseguiu alguns cargos importantes no novo Estado bolchevique.

A casa onde os Romanov foram executados, foi demolida em 1977, quando o governo regional era liderado pelo futuro presidente, Boris Yeltsin. Mais tarde, uma igreja foi construída no local, que hoje é um ponto de peregrinação.
A casa Ipatiev a ser demolida, em 1977
Durante a União Soviética, foi oficialmente declarado que a família imperial fora executada sob ordens do governo soviético dos Urais, que afirmou que as execuções foram necessárias, pois os regimentos da Checoslováquia estavam-se aproximando. O governo soviético também mencionou uma conspiração “contra-revolucionária” armada para libertar o antigo monarca. Nenhum sinal de uma possível conspiração foi encontrado, embora os checos tenham tornado a cidade oito dias depois da execução da família imperial.

Na Rússia pós-soviética, a investigação sobre a execução do último Czar e a sua família chegou à conclusão de que a ordem foi dada pelas autoridades locais dos Urais. Não há qualquer documento evidenciando que Lenine ou outro dos líderes bolcheviques estivessem interessados na execução do Czar. Alguns historiadores argumentam que Moscovo queria organizar um julgamento para Nicolau.

Ao mesmo tempo, alguns envolvidos disseram que, na véspera do assassinato, receberam um telegrama codificado de Moscovo, ordenando a morte do Czar, mas não de toda a sua família. Matar todos foi uma iniciativa do governo soviético local, cujos membros eram muito mais radicais do que os bolcheviques do Kremin.

Nicolau II, a sua mulher e três das suas filhas receberam um funeral de Estado antes de serem sepultados na Fortaleza de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, em 1998. O presidente Boris Yeltsin compareceu à cerimónia, embora o então Patriarca da Igreja, Alexei II se tenha recusado a ir.
Militares levam o caixão de Nicolau II durante o seu sepultamento e da sua família na Catedral de S. Pedro e S. Paulo, em S. Petersburgo, em 1998
Em 1981 a família foi canonizada pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior como Neomártires. Em 2000, a Igreja Ortodoxa Russa canonizou a família como Portadores da Paixão.

Canonização de Nicolau foi controversa. A Igreja Ortodoxa Russa no Exterior ficou dividida sobre a questão em 1981, e alguns membros sugeriram que ele era um governante fraco que falhou em impedir a ascensão dos bolcheviques. Um padre salientou que o seu martírio na Igreja Ortodoxa Russa não teve nada relacionado com as suas ações pessoais, mas sim pelo motivo que foi morto.

A Igreja dentro da Rússia rejeitou a classificação da família como neomártires por não terem morrido por causa da sua fé. Os líderes religiosos nas duas igrejas também tinham objeções quanto à canonização da família do Czar pois a sua incompetência levou a uma revolução e ao sofrimento do seu povo, além de ter sido em parte o motivo do seu assassinato, o da sua família e criados. Para os seus oponentes, o facto de que Nicolau era um homem gentil, bom marido ou um líder que mostrava genuína preocupação com o povo não o remia por sua época à frente da Rússia.

A 30 de setembro de 2008, a Suprema Corte da Rússia reabilitou a família real russa e o Czar Nicolau II, 90 anos após a sua morte. A Suprema Corte russa declarou que a sua execução foi ilegal e que a família real russa foi vítima de um crime.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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