quarta-feira, 10 de julho de 2019

Almada Negreiros

Almada Negreiros
José Sobral de Almada Negreiros, mais conhecido por Almada Negreiros, nasceu em Trindade, em São Tomé e Príncipe, a 7 de abril de 1893.

Filho de António Lobo de Almada Negreiros, um tenente de cavalaria e da sua mulher, Elvira Sobral de Almada Negreiros.
Pai de Almada Negreiros, António Lobo de Almada Negreiros
Passou os primeiros anos da sua infância em São Tomé. Em 1900, o seu pai é nomeado encarregado do Pavilhão das Colónias na Exposição Universal de Paris, Almada e o seu irmão, António, foram colocados no Colégio Jesuíta de Campolide, em Lisboa, onde ficariam até à extinção do colégio, em 1910.

Depois de uma breve passagem pelo Liceu de Coimbra, em 1911, matricula-se na Escola Internacional, em Lisboa, onde a frequenta até 1913.

Em 1911, publica os seus primeiros desenhos e caricaturas, no ano seguinte redige e ilustra de forma integral o jornal manuscrito A Paródia e expõe na I Exposição dos Humoristas Portugueses.

Em 1913, expõe individualmente pela primeira vez, na Escola Internacional, onde apresenta 90 desenhos. Tem contacto com Fernando Pessoa na sequência da crítica à exposição que este pública em A Águia.
Fernando Pessoa
Também em 1913, participa na II Exposição dos Humoristas Portugueses, colabora como ilustrador em jornais, escreve a sua primeira obra poética, prepara o primeiro projeto de bailado e desenha o primeiro cartaz.

Em 1914, colabora como diretor artístico no semanário monárquico Papagaio Real.
Semanário monárquico "Papagaio Real"
Escreve a novela "A Engomadeira" em 1915, que é publicada em 1917. Escreve também, o poema "A Cena do Ódio", publicado parcialmente em 1923. Colabora no primeiro número da Revista Orpheu e publica o Manifesto Anti-Dantas e por extenso.
1.º Nº da Revista "Orpheu" (esquerda) e "Manifesto Anti-Dantas e por extenso" de Almada Negreiros (direita)
Participa na exposição da Galeria das Artes de José Pacheko em 1916. Publica o manifesto de apoio à I Exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, em Lisboa, tornando-se num dos primeiros defensores da sua obra em território nacional. Segundo Almada Negreiros: "Amadeo de Souza-Cardoso é a primeira Descoberta de Portugal na Europa no século XX".
Amadeo de Souza-Cardoso
Almada Negreiros convivia com Santa-Rita, um pintor que proclamava ter sido encarregue por Marinetti de difundir em Portugal os manifestos do futurismo, esta aliança foi uma impulsionadora do período áureo do futurismo português.
Santa-Rita
Em 1917, realiza no Teatro da República, a conferência Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, neste mesmo ano colabora no único número da revista Portugal Futurista e publica a novela "K4 O Quadrado Azul".
"K4 O Quadrado Azul" de Almada Negreiros de 1917
Faz um pacto com Amadeo e Santa-Rita em que todos se comprometem a estudar os Painéis de São Vicente de Fora, de Nuno Gonçalvez.
Painéis de São Vicente de Fora, de Nuno Gonçalvez
Influenciado pela chegada dos Ballets Russes de Diaghilev a Lisboa, em 1918, lidera o grupo de bailado de Helena Castelo Melhor, colaborando em produções de algum amadorismo nas quais é argumentista, coreógrafo, figurinista, diretor de bailado e, por vezes, bailarino.

Em 1918 a dinâmica da arte portuguesa mais avançada é abalada pela morte prematura de Santa-Rita e Amadeo, deixando Almada Negreiros mais isolado. Em 1919 parte para Paris, no momento em que o radicalismo das vanguardas históricas é apaziguado pelos apelos generalizados de regresso à ordem que surgem na sequência do fim da Primeira Guerra Mundial.

Em Paris exerce simples atividades de sobrevivência, como empregado de armazém, desenha e escreve, escreveu o poema em prosa "Histoire du Portugal par Coeur", publicada mais tarde na Revista Contemporânea

Também em 1919, colabora no quinzenário humorístico O Riso da Vitória dirigido por Jorge Barradas e Henrique Roldão.

Regressa a Portugal em 1920. A sua primeira intervenção após o seu regresso foi na conferência A Invenção do Dia Claro, em 1921. Ainda em 1920 expõe na III Exposição dos Humoristas.

Ao longo dos anos seguintes colabora em diversos jornais e revistas, publicando capas, desenhos humorísticos, textos e ilustrações. Realiza capas de livros e revistas, participa como convidado na Exposição dos Cinco Independentes.

Em 1925 escreve o romance "Nome de Guerra", publicado em 1938, realiza obras para a Brasileira do Chiado e para o Bristol Club, em Lisboa, estuda os painéis de São Vicente e publica no Diário de Notícias "A questão dos Painéis, a história de um acaso de uma importante descoberta e do seu autor" em 1926.
Romance "Nome de Guerra" de Almada Negreiros
Em março de 1927, parte para Madrid, em Espanha, onde participaria na tertúlia intelectual do Café Pombo e, sobretudo, viveria num meio intelectual e artístico em efervescência.
Café Pombo, em Madrid
Nos anos seguintes escreve "El Uno, tragédia de la Unidad", um conjunto de duas peças dedicado à sua futura mulher, Sarah Afonso. Colabora em capas e desenhos em jornais e revistas, realiza decorações murais, que são o primeiro sinal de um extenso trabalho artístico em articulação com a arquitetura.

Regressa definitivamente a Lisboa em 1932. Embora tivesse convicções monárquicas, anos depois verifica-se uma aproximação aos ideias do Estado Novo, desde logo através da sua apologia antecipada do nacionalismo. Outros indícios desta aproximação deu-se logo em 1933, quando Almada cria o cartaz político "Votai a Nova Constituição", realiza um selo com a frase de Salazar "Tudo pela Nação" em 1935 e é nomeado Procurador à Câmara Corporativa, em 1965.

Casa-se em 1934, com Sara Afonso, e no ano seguinte nasce o seu primeiro filho, José. Mais tarde nasce o segundo filho, desta vez uma menina, Ana Paula.
Almada Negreiros com a mulher, Sara Afonso e os dois filhos, Ana Paula e José
Ainda em 1934, publica os cadernos "Sudoeste", onde são incluídos textos seus e que no terceiro número serve de ponto de encontro de colaboradores da Orpheu e da Presença. Realiza os primeiros estudos para os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, dando início à colaboração com o arquiteto Pardal Monteiro.
Arquiteto Pardal Monteiro
Até ao final da década de 30, dedica-se a uma multiplicidade de atividades, desde pinturas, desenhos, ilustrações, poesias, ensaios e romances, realiza conferências e palestras, colabora com frescos e vitrais em diversos edifícios, entre os quais o pavilhão da Colonização da Exposição do Mundo Português e o edifício do Diário de Notícias, em Lisboa, projetado por Pardal Monteiro.

Em 1941, o Secretariado de Propaganda Nacional organiza a exposição Almada - Trinta Anos de Desenho. Perante o sucesso da exposição, Cottinelli Telmo escreveria, numa carta aberta ao artista: "Hoje és o Almada de sempre, apenas com a diferença de seres o Almada aceite, o Almada compreendido. (...) O que se criou foi o hábito novo de te considerarem, em vez do hábito antigo de descrerem de ti, de te temerem, de te não tomarem a sério".
"Autoretrato" de Almada Negreiros de 1940
A partir deste momento Almada participaria em iniciativas do Secretariado de Propaganda Nacional, de que até aí se tinha distanciado. Participa na 6.ª e 7ª Exposição de Arte Moderna, em 1941 e 1942 respetivamente, vencendo o Prémio Columbano em 1942.

Em 1943, projeta cenários para a ópera Inês de Castro, de Ruy Coelho. No mesmo ano, realiza estudos preparatórios para as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara, que concretizaria no local entre 1945 a 1947. Em 1946 inicia a execução dos murais da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, que termina dois anos depois.
Estudo para os painéis da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos
Em 1946 vence o prémio Domingos Sequeira na I Exposição de Arte Moderna de Desenho e Aguarela.

Em 1952, expõe individualmente na Galeria de Março e participa na Exposição de Arte Moderna. Dois anos depois pinta a primeira versão de "Retrato de Fernando Pessoa" para o restaurante Irmãos Unidos.
"Retrato de Fernando Pessoa" de Almada Negreiros
Em 1957 participa na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo galardoado com um prémio extra concurso.

Em colaboração também com Pardal Monteiro, entre 1957 e 1961 realiza uns grandes painéis decorativos para as fachadas de vários edifícios da Cidade Universitária de Lisboa - Faculdade de Direito, de Letras e Reitoria).

Em 1960 dá uma série de entrevistas, publicadas no Diário de Notícias, onde de algum modo encerra o seu "itinerário espiritual" e retoma a questão da reconstrução dos painéis de São Vicente de Fora.

Em 1963 expõe na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. No mesmo ano é homenageado pelos seus 70 anos de idade, sendo publicada a primeira monografia sobre a sua obra, da autoria de José Augusto França.

Foi condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 13 de julho de 1967.

Em 1968-69 realiza o painel "Começar" para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
"Começar" de Almada Negreiros no átrio da Fundação Calouste Gulbenkian
Em 1969 faz a sua derradeira intervenção pública, ao participar no programa televisivo Zip-Zip.
Video do programa em: https://vimeo.com/56360623

Almada Negreiros morre em Lisboa, a 15 de julho de 1970, no mesmo quarto do Hospital de São Luís dos Franceses, onde tinha morrido Fernando Pessoa.
Assinatura de Almada Negreiros

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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