segunda-feira, 22 de julho de 2019

Mário Soares

Mário Soares
De nome completo Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa, a 7 de dezembro de 1924.

Foi o segundo filho do professor e antigo sacerdote João Lopes Soares e de Elisa Nobre Baptista. Os seus pais só se casaram quando Mário tinha 10 anos, devido às obrigações eclesiásticas do seu pai.
Mário Soares com os pais: João Soares e Elisa Baptista
Mário Soares licenciou-se em Histórico-Filosóficas, não lhe foi permitido ingressar no ensino público ou particular, juntou-se aos país na gerência do Colégio Moderno, atividade em que seria depois sucedido pela sua mulher, Maria de Jesus Barroso e, posteriormente, pela sua filha, Isabel Soares.

Nos finais dos anos 1950, conseguiu obter a licença para exercer a função de professor do ensino particular, licença que lhe foi concedida pelo Ministro Francisco de Paula Leite Pinto.
Mário Soares com a sua turma do Colégio Moderno do 4.º ano de 1955-56
Como advogado, estagiou com Leopoldo do Vale, tendo parceria com Gustavo Soromenho e Pimentel Saraiva, especialistas em Direito Fiscal. Mais tarde juntar-se-iam Vasco da Gama Fernandes e Manuel Castilho. Mário Soares terá dito que o seu maior sucesso como advogado foi quando representou Maria Cristina de Mello contra os irmãos, na disputa por ações da CUF, vencendo em juízo o professor Marcello Caetano.
Maria Cristina de Mello
Participou em numerosos julgamentos, defendendo presos políticos, realizados no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou, nomeadamente, Álvaro Cunhal e Octávio Pato, quando acusados de crimes políticos, e a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato pela PIDE, o que deu a Mário uma certa visibilidade internacional.
Álvaro Cunhal (esquerda) e Octávio Pato (direita)
Juntamente com Adelino da Palma Carlos defendeu também a causa dinástica de D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança.
D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança
A sua família tinha uma tradição republicana e oposicionista. O pai de Mário Soares era republicano convicto e ocupou vários cargos depois da implantação da República. A atividade política de Mário Soares levá-lo-ia por 12 vezes para a prisão.

Estava preso quando casou por procuração, embora com registo na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, a 22 de fevereiro de 1949, com a atriz Maria Barroso.
Mário Soares e a mulher, Maria Barroso
O casal teve dois filhos: João Barroso Soares e Isabel Barroso Soares.
Mário Soares com a mulher, Maria, e os dois filhos, João e Isabel
Por influência de Álvaro Cunhal, Mário aderiu em 1943 ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), estrutura ligada ao Partido Comunista Português (PCP), e integrou a partir de 1946 a Comissão Central do MUD (Movimento de Unidade Democrática), sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes, tendo sido nesse âmbito co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central.

Em 1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República. Obrigado pela direção do PCP a confessar ao velho General que estava a colaborar na Comissão Central da candidatura em representação dos comunistas, Norton de Matos quis afastá-lo totalmente de qualquer atividade na campanha. Devido à interferência de Mário de Azevedo Gomes, acabou por aceder e mantê-lo na estrutura, mas sem responsabilidades de facto.
General Norton de Matos (esquerda) e  Mário de Azevedo Gomes (direita)
No início dos anos 1950, Mário Soares acaba por romper com o MUD e em definitivo com o PCP, por não se rever nem na linguagem, nem na metodologia.

Afastado do PCP, Soares fundou em 1955 a Resistência Republicana e Socialista, reunindo outros elementos vindos daquele partido, da União Socialista, entre outros.

Foi em nome da Resistência Republicana e Socialista que Mário Soares entrou em 1956 para o Directório Democrato-Social, a convite de Armando Adão e Silva.

Em 1958 pertenceu à comissão de honra da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
General Humberto Delgado
Em 1961 foi redator e signatário do Programa para a Democratização da República.

Candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, em 1965, pela CDE.

Durante as 12 vezes que esteve preso, cumpriu um total de cerca de três anos de cadeia, foi deportado sem julgamento para a Ilha de São Tomé, em 1968, após divulgar a um jornalista do Sunday Telegraph um caso de prostituição que envolvia membros do Governo e homens de negócios próximos do regime de Salazar, conhecido como Ballet Rose. Esta deportação despertou a atenção da comunicação social internacional.
Três fotografias de Mário Soares para o cadastro, pela PIDE em 1949
No período a seguir à morte de Salazar, o sucessor deste na Presidência do Conselho, Marcello Caetano, dita o regresso de Soares à metrópole, na madrugada de 9 de novembro de 1968.

Nesta altura, afirma a sua oposição contra o socialismo totalitário que representava o comunismo e chega a ser acusado de denunciar comunistas à PIDE.

Apresenta-se de novo candidato à Assembleia Nacional, no Círculo de Lisboa, pela CEUD - Comissão Democrática da Unidade Eleitoral, agrupando os socialistas anticomunistas da Ação Socialista Portuguesa, monárquicos constitucionais, da Comissão Eleitoral Monárquica e católicos antifascistas.

Em julho de 1970 é chamado à PIDE, onde lhe é feito um ultimato, para abandonar o país ou então seria preso. É então que resolve exilar-se na França.

Na França deu conferências nas universidades de Paris VIII e Paris IV, e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que décadas depois lhe atribuiu o grau de doutor honoris causa.

Foi também consultor jurídico no Banco Franco-Português. Fazia uma intervenção política em França através da imprensa estrangeira e da captação de apoios internacionais.

Ainda na França, em 1972, foi à loja maçónica parisiense "Les Compagnons Ardents" pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "adormecido".

Três dias depois da Revolução dos Cravos, volta a Portugal do exílio, no dia 28 de abril de 1974, no chamado "Comboio da Liberdade". Viajou acompanhado da mulher e por Manuel Tito Morais e Francisco Ramos da Costa.
Chegada de Mário Soares do exílio, vindo no comboio conhecido por "Comboio da Liberdade"
Dois dias depois, Mário Soares esteve presente no Aeroporto da Portela, na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. A 1 de maio de 1974, nas primeiras comemorações do Dia do Trabalhador após o 25 de Abril, e ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a Avenida da Liberdade.
Mário Soares junto de Álvaro Cunhal - 1 de maio de 1974
Durante o período revolucionário ficou conhecido como PREC. Mário Soares afirma-se como o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.

Tornou-se Ministro dos Negócios Estrangeiros, de maio de 1974 a março de 1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.

A partir de março de 1977, colaborou no processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), vindo a subscrever, como Primeiro-Ministro, o Tratado de Adesão, a 12 de junho de 1985.

Foi Primeiro-Ministro de Portugal em:
  • I Governo Constitucional entre 1976 e 1977
  • II Governo Constitucional em 1978
  • IX Governo Constitucional entre 1983 e 1985
Como Presidente da República de Portugal esteve no poder entre 1986 e 1996, durante dois mandados de cinco anos.
Retrato oficial do Presidente da República Mário Soares - obra de Júlio Pomar - encontra-se no Museu da Presidência da República 
Em dezembro de 1995, assumiu a presidência da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos e foi escolhido em setembro de 1997 para a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água.

Também em 1997, assumiu a presidência da Fundação Portugal África e a presidência do Movimento Europeu Internacional, uma ONGD cuja fundação remonta ao pós-Segunda Guerra Mundial e que foi impulsionadora da fundação do Conselho da Europa, em 1949.

Em 1999, três anos após terminar o seu mandato como Presidente, foi cabeça-de-lista do PS (Partido Socialista) às eleições europeias de 1999. Uma vez eleito foi logo de seguida candidato a presidente do Parlamento Europeu, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine.

Surpreendeu Portugal, em 2005, em entrar na disputa para o cargo de Presidente da República. Foi então, aos 81 anos, o segundo candidato anunciado, após Jerónimo de Sousa (candidato do PCP).
Mário Soares na apresentação do manifesto eleitoral, no Hotel Ritz em 2005
O motivo para a sua candidatura foi para impedir que José Sócrates, então secretário-geral do PS tivesse de apoiar o candidato Manuel Alegre. Na eleição presidencial, realizada a 22 de fevereiro de 2006, obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura de Manuel alegre, que acabou por não ter apoio partidário. Nestas eleições foi elegido como Presidente da República Aníbal Cavaco Silva com maioria absoluta.

Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphuët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte.

A 11 de outubro de 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa.

Aos 89 anos de idade, foi eleito a personalidade do ano 2013 pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal.

A 25 de abril de 2016, recebeu a chave de Lisboa, do Presidente da CML, Fernando Medina, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.
Fernando Medina e Mário Soares, aquando da entrega da chave da cidade de Lisboa a Mário Soares - 2016
Morreu às 15h28 do dia 7 de janeiro de 2017, aos 92 anos de idade, no Hospital da Cruz Vermelha, em São Domingos de Benfica, em Lisboa, onde estava internado, em coma profundo, desde 13 de dezembro de 2016, após um longo período de doença, que se agravou após a morte da sua mulher, a 7 de julho de 2015.
Assinatura de Mário Soares


MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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