Destroços do incêndio no Gran Circo Norte-Americano Fonte: Aventuras na História |
O dia 17 de dezembro de 1961 estava quente em Niterói. Instalado na Praça do Expedicionário, o Gran Circo Norte-Americano, autoproclamado maior da América Latina, recebia mais de três mil visitantes.
No panfleto anunciaram orgulhosamente terem uma tenda do mais moderno material, o nylon, coberto por parafina para impermeabilizar.
Parafina, a matéria-prima das velas. Estava para começar o pior desastre circense de toda a História, em todo o mundo, e o pior incêndio do Brasil, com mais do dobro das vítimas do Edifício Joelma, em 1974 e da Boate Kiss, em 2013.
Dois dias antes do acidente, havia um trabalhador do circo, de nome Adilson Marcelino Alves, mais conhecido por Dequinha. Foi um dos 50 trabalhadores que o dono, Danilo Stevanovich, tinha contratado para a montagem da estrutura, mas Adilson tinha cadastro por roubo, apresentava problemas mentais e acabou por ser despedido após dois dias de trabalho.
Adilson Marcelino Alves, conhecido como Dequinha Fonte: Wikipédia |
Na véspera do incêndio, Adilson foi agredido por Maciel Felizardo, um funcionário do circo, após estes discutirem por Adilson culpar Maciel pelo seu despedimento.
Na fatídica tarde do incêndio, o ódio de Adilson acabou multiplicado ao ser barrado à entrada após tentar entrar de borla no circo.
O circo conseguiu atingir a sua lotação máxima. Três mil pessoas estavam a assistir ao espetáculo. Faltava apenas 20 minutos para o fim quando o pânico se instalou, quando a lona incendiou-se ruidosamente e os seus pedaços começaram a cair sobre as pessoas, que se empurraram em desespero, até que algumas delas não conseguissem respirar pelo aperto. A elefanta saiu disparada, atropelando quem estivesse à sua frente.
Em pouco mais de cinco minutos, a lona foi totalmente consumida pelo fogo. De imediato, 372 pessoas perderam a vida. As outras, num total oficial de 503 vítimas, morreriam depois.
Os médicos estimaram que 70% dos mortos eram crianças. Na ocasião, o episódio foi definido como "a maior tragédia circense da história" pela agência internacional de notícias Associated Press.
O que poderia ser considerado um acidente foi declarado homicídio pela polícia. Após ser barrado na entrada, Adilson juntou-se a dois amigos, José dos Santos, conhecido como Pardal e Walter Rosa dos Santos, conhecido como Bigode, para começarem a vingança.
A vingança resumiu-se a atirarem gasolina sobre a lona e acenderam o fogo.
Todos foram presos até ao final do mês de dezembro. Em outubro de 1962, Adilson foi condenado a 16 anos de prisão. Acabou por ser assassinado ao tentar fugir, em 1973, nunca ficou claro porque e quem o matou.
Pardal foi condenado a 14 anos de prisão e Bigode a 16 anos.
O então presidente, João Goulart, foi imediatamente para Niterói para acompanhar a situação. Muitas pessoas se voluntariaram para doar sangue. O caso causou uma comoção mundial, com doações vindas desde os EUA até ao Vaticano.
O cirurgião Ivo Pintaguy tornou-se numa celebridade, ao atender centenas de vítimas e mostrar que a cirurgia plástica não era apenas usada para vaidade. Com as técnicas por ele desenvolvidas, a cirurgia plástica no Brasil muito deveria a esta tragédia.
Caso a tenda não fosse feita de nylon e parafina, o incidente não teria tomado as proporções que teve. Mas a polícia, a imprensa e o governo, considerando a origem criminosa, não responsabilizaram Stevanovich.
Fonte: Aventuras na História
MZ
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