segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Aborto no Holocausto - Gisella Perl

Gisella Perl
Durante o holocausto, nos barracões dos campos de extermínio nazis, os judeus encontravam-se para fazer sexo, rodeados de excrementos e de cheiro de carne queimada vindo das chaminés dos crematórios.

Na maioria das vezes, os prisioneiros e prisioneiras encontravam-se para ter relações sexuais furtivas e sem amor, nas quais o corpo era utilizado como uma mercadoria da qual usavam para pagar os produtos de que tanto precisavam e que os homens eram capazes de roubar dos armazéns.

Não era só uma forma de prostituição desesperada mas também havia uma necessidade incontrolável de luxúria no pior lugar do mundo, segundo Gisella Perl, ginecologista romena que foi presa em Auschwitz: "O nitrato de potássio que colocavam na nossa comida não era suficiente para matar o desejo sexual. Não tínhamos menstruação, mas isso era uma consequência do trauma psicológico provocado pelas circunstâncias em que vivíamos do que pelo nitrato de potássio. O desejo sexual ainda era um dos instintos mais fortes".

Era o pior local, mas algumas mulheres ficavam grávidas em Auschwitz e muitas outras já se encontravam grávidas quando chegavam aos campos.

Gisella Perl com a sua profissão conseguiu salvar a sua própria vida, ao receber a incumbência do médico nazi Josef Mengele de reanimar mulheres judias de quem se extraía sangue à força para os soldados feridos. Gisella anotou em 1948: "A rassenschande, a contaminação com o sangue judeu inferior, foi esquecida. Éramos inferiores para viver, mas servíamos para manter o Exército alemão vivo com o nosso sangue".

Gisella Perl salvou a sua vida e, possivelmente, a de centenas de mulheres.

Ao chegar a Auschwitz, os chefes das SS dirigiam-se às mulheres judias e pediam que as grávidas dessem um passo à frente, sob a promessa de uma ração dupla de pão e leite num lugar reservado às futuras mães. No entanto, a maioria delas ia diretamente para as câmaras de gás.

Gisella lembra do dia de 1944 em que, enquanto cumpria uma tarefa perto do crematório, descobriu que aquilo era uma farsa horrível. Com os seus próprios olhos viu que as mulheres grávidas "eram espancadas com porretes e chicotes, destroçadas por cães, arrastadas pelos cabelos e golpeadas na barriga com pesadas botas alemãs. Então, quando caiam, eram atiradas para o crematório. Vivas."

Gisella paralisada, ficou incapaz de gritar ou fugir: "Mas, aos poucos, o horror tornou-se um sentimento de rebeldia que me tirou da letargia e me deu um novo incentivo para viver. Tinha que permanecer viva. Dependia de mim salvar todas as mulheres grávidas (...) do seu destino infernal. Dependia de mim salvar a vida das mães, se não havia outra maneira, destruindo a vida dos seus filhos não nascidos", relatou.

Nas noites sem lua, enquanto todos dormiam, ajudava as grávidas a parir ou abortar, sem uma gota de água e joelhos sobre o chão sujo e cheio de excrementos dos barracões. "Ajudei muitas mulheres a dar à luz no oitavo, sétimo, sexto ou quinto mês de gravidez, sempre de forma apressada, sempre com os meus cinco dedos, na escuridão, em condições terríveis. Ninguém jamais entenderá o que significou para mim destruir aquelas crianças", disse Gisella Perl. Segundo Gisella, chegou a estrangular um bebé de três dias depois de lhe dar um beijo de despedida.

Ajudou centenas de mulheres a interromper a gravidez. "O maior crime que se podia cometer em Auschwitz era estar grávida", afirmou numa entrevista em 1982.

Mengele, o chamado Anjo da Morte, tinha encarregado Perl de informá-lo sobre todas as mulheres grávidas que houvesse no campo. "Soube que todas eram enviadas ao edifício de investigação para serem usadas como cobaias. E depois, duas vidas eram lançadas ao crematório. Decidi que nunca mais haveria uma mulher grávida em Auschwitz", disse.

Em janeiro de 1945, quando o Exército soviético aproximava-se, as tropas da SS começaram a evacuar o campo de concentração. Cerca de 60 mil prisioneiros foram obrigados a fazer a chamada marcha da morte para oeste, no meio do inverno. Mais de 15 mil morreram, de frio ou a tiros, mas Perl não estava entre eles.

Perll tinha sido levada para outro campo perto de Hamburgo e, pouco depois, a Bergen-Belsen, também na Alemanha. Gisella Perl sobreviveu para ver as tropas britânicas entrarem no campo. Segundo contou, nesse momento estava a ajudar uma mulher a dar à luz. Foi o primeiro menino judeu nascido em liberdade em Bergen-Belsen, o lugar que representou "a suprema culminação do sadismo e da bestialidade alemães", segundo Perl.

Em 1947, depois de saber que toda a sua família tinha sido assassinada, exceto uma filha que conseguiu ficar na Roménia, a ginecologista tentou suicidar-se, sem sucesso. Depois emigrou para Nova Iorque, nos EUA, onde foi recebida como suspeita de crimes de guerra.

"Gisella foi acusada de colaborar com Mengele, o que, na minha opinião é uma parvoíce, porque qualquer um que tenha trabalhado no hospital para os presos poderia ser acusado disso", diz o historiador Weisz.

O testemunho de Perl, no entanto, coincidia com os de outros sobreviventes. A voz da ginecologista foi crucial para condenar um médico nazi nos julgamentos de Auschwitz, segundo destacam os historiadores.

Já com a sua reputação limpa, a médica tornou-se especialista em infertilidade no Hospital Monte Sinai de Nova Iorque.

Gisella morreu a 16 de dezembro de 1988, aos 81 anos de idade, na cidade israelita de Herzliya, para onde se tinha mudado para morar com a filha.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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