segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Série Lore: Venda de Corpos pela Ciência

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

Venda de Corpos pela Ciência

William Burke e William Hare a carregar uma das suas vítimas
No início do séc. XIX, Edimburgo (Escócia) teve vários professores de anatomia pioneiros, como Alexander Monro, o seu filho também Alexander, John Bell, John Goodsir e Robert Knox.

Por causa dos esforços destes pioneiros, Edimburgo tornou-se um dos principais centros de estudo de anatomia na Europa.

O estudo de anatomia, essencial para o estudo de cirurgia, exigia um grande número de cadáveres, e a procura por corpos aumentou à medida que a ciência se desenvolvia.

A lei escocesa determinou que os corpos que seriam usados para dissecações eram daqueles que morriam na prisão, ou de vítimas de suicídio ou os corpos de crianças abandonadas e órfãos.

Com o aumento do prestígio e popularidade da formação médica em Edimburgo, a oferta legal de cadáveres não era suficiente para a procura. Então estudantes, professores universitários e ladrões de túmulos, também conhecidos como homens da ressurreição, iniciaram um comércio ilegal de cadáveres exumados.

A lei na época podia ser deturpada. Era uma ofensa criminal perturbar um túmulo ou tomar a propriedade do falecido, mas roubar o corpo não era uma ofensa, pois legalmente não pertencia a ninguém.

O preço por cadáver mudou de época para época. Eram 8£ durante o verão, quando as temperaturas mais altas provocavam uma decomposição mais rápida, e 10£ nos meses de inverno, quando a procura dos anatomistas era maior, porque as temperaturas frias permitiam armazenar os corpos por mais tempo.

Na década de 1820, os moradores de Edimburgo saíram à rua para protestar contra o aumento dos roubos de túmulos. Para evitar que os corpos fossem desenterrados, as famílias usavam várias técnicas para deter os ladrões, contratavam guardas para vigiar as sepulturas e torres de vigia eram construídas em vários cemitérios, algumas famílias contratavam uma grande laje de pedra que poderia ser colocada sobre um túmulo por um curto período (até que o corpo tivesse começado a sua decomposição além de ser útil para um anatomista). Outras famílias usavam um mortsafe, que era uma gaiola de ferro que rodeava o caixão.

Os altos níveis de vigilância do público e as técnicas usadas para deter os ladrões de túmulos levaram ao que a historiadora Ruth Richardson descreve como "uma crescente atmosfera de crise" entre os anatomistas, devido à escassez de cadáveres.

O Dr. Robert Knox formou-se médico em 1814. Fez serviço médico no exército na Batalha de Waterloo em 1815, e depois durante a Guerra da Fronteira do Cabo, em 1819, no sul de África. Voltou a Edimburgo, a sua cidade natal, em 1820.
Dr. Robert Knox
Em 1825, tornou-se membro do Royal College of Surgeons de Edimburgo, onde deu aulas de anatomia. Realizava dissecações duas vezes por dia, e a sua publicidade prometia "uma demonstração completa de novos assuntos anatómicos". Knox afirmou que as suas aulas atraíam mais de 400 alunos.

Quem vendia os corpos a Knox para as suas aulas foram William Burke e William Hare.

William Burke, nascido em 1792 em Urney, na Irlanda, teve uma educação confortável e juntou-se ao exército britânico ainda adolescente. Serviu em Donegal até que se casou. O casamento durou pouco, então ele mudou-se para a Escócia. Passou a morar na pequena aldeia de Maddiston, onde ficou na casa de Helen McDougal, a quem ele carinhosamente chamou de Nelly, esta viria a tornar-se a sua segunda mulher.
Helen McDougal e William Burke
Depois de alguns anos, o casal mudou-se para Tanners Close, em Edimburgo, em novembro de 1827. Tornaram-se vendedores ambulantes, Burke depois tornou-se num sapateiro, negócio no qual ele teve algum sucesso, ganhando 1£ por semana.

Burke tornou-se conhecido localmente como um homem trabalhador e bem-humorado. Embora tenha sido criado como um católico romano, Burke tornou-se um adepto da Igreja Presbiteriana.

William Hare provavelmente nasceu no condado de Armagh ou em Newry, o seu ano de nascimento é desconhecido. Quando foi preso em 1828, terá dito que tinha 21 anos, mas uma fonte afirma que ele nasceu entre 1792 e 1804. Informações sobre a sua vida são escassas, sabe-se que trabalhou na Irlanda como trabalhador agrícola antes de viajar para a Escócia.

Mudou-se para Edimburgo por volta de 1820, onde trabalhou como assistente de carvão. Ficou em Tanner's Close, na casa de um homem chamado Logue e da sua mulher, Margaret Laird. Quando Logue morreu em 1826, Hare poderá ter-se casado com Margaret.
William Hare, a sua mulher Margaret e a filha
Em 1827, Burke e a sua mulher foram trabalhar nas colheitas em Penicuik, onde conhecera Hare. Os homens tornaram-se amigos. Quando o casal voltou para Edimburgo, mudaram-se para uma casa em Tanner's Close, onde frequentemente Hare e a mulher se encontravam com Burke e Helen.

A 29 de novembro de 1827, Donald, um inquilino na casa de Hare, morreu de hidropisia. Depois que Hare comentou a morte com Burke, estes decidiram vender o corpo de Donal. Levaram o corpo para a Universidade de Edimburgo, onde procuraram um comprador.

Acabaram por chegar às instalações de Knox. Burke fixou o preso de 7£10s, Hare recebeu £4,5s enquanto Burke recebeu £3,5s. A maior parte foi para Hare para cobrir a sua perda do aluguer não pago por Donald.

De acordo com a confissão oficial de Burke, quando ele e Hare deixaram a universidade, um dos assistentes de Knox disse-lhes que os anatomistas "ficariam felizes em vê-los novamente quando tivessem outro corpo para se desfazerem".

Não existe certezas da ordem dos assassinatos que ocorreram. Burke fez duas confissões, mas deu sequências diferentes para os assassinatos em cada declaração.

A primeira foi oficial, dada a 3 de janeiro de 1829, dada ao xerife substituto, ao procurador fiscal e ao assistente de xerife. A segunda foi em forma de entrevista com o "Edinburgh Courant" publicado a 7 de fevereiro de 1829.

A maioria das fontes concorda que o primeiro assassinato, que ocorreu entre janeiro e fevereiro de 1828, foi o de um moleiro chamado Joseph que estava alojado na casa de Hare, ou foi Abigail Simpson, uma vendedora de sal.

No caso de Joseph foi utilizada uma almofada para o matar, enquanto nos casos seguintes as vítimas foram sufocadas com a mão a tapar a boca e nariz. O corpo de Joseph terá rendido £10.

A ordem das duas vítimas depois de Joseph também não é clara. Certamente terá sido Abigail Simpson e depois um inquilino inglês de Hare. O inglês não identificado era um vendedor ambulante de fósforos e lixo que ficou doente com icterícia enquanto estava em casa de Hare. Como aconteceu com Joseph que sofria de febres, Hare preocupado com o efeito que a doença poderia ter para o seu negócio de aluguer, ele e Burke mataram o vendedor ambulante.

Abigail Simpson era uma reformada que vendia sal para ganhar mais alguma coisa. A 12 de fevereiro de 1828, a única data exata citada por Burke na sua confissão, Abigail foi convidada para a casa de Hare e bebeu tanto álcool que ficou incapaz de voltar para casa. Depois Burke e Hare a mataram e colocaram o seu corpo numa caixa de chá e venderam a Knox, recebendo 10£.

Entre fevereiro e março, uma mulher idosa ficou em casa de Hare. Novamente, deram-lhe álcool até ela adormecer. Durante a tarde, Hare cobriu a boca e o nariz da mulher com uma capa dura de colchão e a deixou. Ao anoitecer a mulher já estava morta, então levaram o corpo para Knox e, novamente, receberam £10.

Burke conheceu duas mulheres no início de abril, Mary Paterson e Janet Brown. Ele comprou álcool para as duas mulheres antes de as convidar para tomarem o pequeno-almoço. Os três deixaram a taberna com duas garrafas de uísque e foram para casa onde começaram a beber. Mary adormeceu à mesa, enquanto Burke e Janet conversavam, quando foram interrompidos pela mulher de Burke que os acusou de terem um caso.
Mary Paterson
Então Burke começou a discutir com a mulher, Burke atirou um copo à cara da mulher, cortando-a perto do olho. Janet que não sabia que Burke era casado, foi embora. Entretanto vem Hare com a sua mulher, os dois homens trancaram as suas mulheres num quarto, enquanto assassinavam Paterson.

Naquela tarde, a dupla levou o corpo até Knox, novamente numa caixa de chá. Receberam £8 pelo corpo que ainda estava quente quando o entregaram.

Fergusson, um dos assistentes de Knox, perguntou onde tinham encontrado o corpo, pois ele achou que o reconhecia. Burke explicou que Mary se embebedou até à morte a compraram "de uma velha da Canongate".

Knox ficou encantado com o cadáver e o armazenou em uísque durante três meses antes de dissecá-lo. Janet voltou para saber da sua amiga, então disseram-lhe que Mary tinha ido para Glasgow com um vendedor ambulante.

Em algum momento do início de 1828, a Sra. Haldane, que Burke descreveu como "uma mulher forte e corpulenta", alojou-se na casa de Hare. Depois que ficou bêbada, adormeceu no estábulo, então foi sufocada e vendida a Knox.

Meses depois, a filha de Haldane, também ficou em casa de Hare. Ela e Burke beberam muito e ele a matou, sem sequer precisar da ajuda de Hare, o seu corpo rendeu £8.

O assassinato seguinte aconteceu em maio de 1828, quando uma mulher idosa se hospedou na casa de Hare. Uma noite em que ela estava bêbada, Burke a sufocou. O seu corpo foi vendido por £10.

Depois foi o assassinato de Effy, uma "coletora de cinzas" que vasculhava os contentores do lixo para encontrar coisas para vender. Depois de ficar bêbada, Burke e Hare a mataram, e Knox deu £10 pelo corpo.

Outra vítima foi encontrada por Burke. A vítima estava tão bêbada que não se conseguia manter em pé e estava a ser ajudada por um polícia, então Burke ofereceu-se para levá-la. Burke então a levou para casa de Hare, onde foi morta. Mais uma vez, conseguiram £10 pelo corpo.

Burke e Hare assassinaram dois inquilinos em junho, "uma mulher idosa e um menino mudo, o seu neto", como Burke mais tarde recordou na sua confissão. Enquanto o menino se sentou perto do fogo na cozinha, a sua avó foi assassinada no quarto. Burke e Hare, em seguida, pegaram no menino e levaram-o para a mesma sala onde estava a sua avó e o mataram.

Burke disse mais tarde que este foi o assassinato que o perturbou mais, pois foi perseguido pela expressão do rapaz. Burke e Hare receberam £8 por cada corpo.

A 24 de junho, Burke e a mulher foram até Falkirk para visitar o pai de Burke. Como Burke sabia que Hare estava com pouco dinheiro, ao voltar e ao ver que Hare estava a usar roupas novas e tinha dinheiro extra, desconfiou que ele tivesse vendido mais algum corpo. O que se veio a confirmar, quando Burke perguntou a Knox, e este confirmou que Hare lhe tinha vendido o corpo de uma mulher por £8. Isto levou a uma discussão entre os dois homens e chegaram mesmo a se agredirem fisicamente.

A zanga entre os dois não demorou muito. No final de setembro ou início de outubro, Hare estava a visitar Burke quando a senhora Ostler, lavadeira, foi à propriedade lavar as roupas. Os homens a embebedaram e a mataram. Levaram logo o cadáver a Knox, pelo qual receberam £8.

Uma semana ou duas depois, um dos parentes da mulher de Burke, Ann Dougal estava de visita, então os dois homens a mataram e receberam £10 pelo corpo.

A vítima seguinte era uma figura conhecida nas ruas de Edimburgo, James Wilson, um rapaz de 18 anos de idade, que coxeava devido aos pés deformados. Era deficiente mental e, segundo Alanna Knight na sua história dos assassinatos, era uma pessoa inofensiva. Wilson vivia nas ruas.
James Wilson
Em novembro, Hare atraiu Wilson a sua casa. Burke e Hare então levaram Wilson até um quarto. Como Wilson não gostava muito do uísque, não estava tão bêbado como as outras vítimas, também era forte e lutou pela sua vida, mas foi dominado e morto.

O corpo de Wilson foi examinado no dia seguinte por Knox e pelos seus alunos, vários deles reconheceram Wilson, mas Knox negou que pudesse ser alguém que os estudantes conhecessem. Quando começou a circular a notícia de que Wilson estava desaparecido, Knox removeu a cabeça e os pés do corpo para que não pudesse ser identificado.

A última vítima foi Margaret Docherty, uma mulher irlandesa de meia-idade, morta a 31 de outubro de 1828. Burke a atraiu para o alojamento alegando que a sua mãe também era uma Docherty da mesma região da Irlanda, então os dois seriam primos, e começaram a beber.
Margaret Docherty
A certa altura, Burke deixou Margaret na companhia da sua mulher, enquanto ele iria sair para, supostamente, comprar mais uísque, mas na verdade ele foi chamar Hare. Quando voltaram, o consumo de bebida continuou até à noite, em algum momento da noite eles assassinaram Margaret.

Burke e Hare não se desfizeram logo do corpo, e na manhã seguinte, dois outros hóspedes encontraram o corpo de Margaret. Ao saírem para chamarem a polícia a mulher de Burke tentou suborná-los com uma oferta de £10 por semana, mas eles recusaram.

Enquanto os hóspedes relatavam os acontecimentos à polícia, Burke e Hare levaram o corpo até Knox.

Durante a busca da polícia, encontrara as roupas ensanguentadas de Margaret escondidas debaixo da cama. Burke e a mulher deram vários horários para a saída de Margaret da casa, o que levantou suspeitas suficientes para a polícia levá-los para interrogatório.

Na manha seguinte, a polícia foi até às salas de dissecação de Knox, onde encontraram o corpo de Margaret. Um dos hóspedes que tinha feito queixa à polícia, James Gray, identificou o corpo. Hare e a sua mulher também foram presos, todos negaram qualquer conhecimento dos eventos.

No total, 16 pessoas foram assassinadas por Burke e Hare.

Burke afirmou mais tarde que ele e Hare estavam "geralmente em estado de embriaguez" quando os assassinatos aconteciam, e que "não conseguia dormir à noite sem uma garrafa de uísque ao lado da cama e uma vela para queimar duas vezes", quando ele acordava tomava a bebida, às vezes meia garrafa de uma vez e isso o fazia dormir. Também chegou a tomar ópio para aliviar a sua consciência.

A 3 de novembro de 1928, um mandado foi emitido para a detenção de Burke, Hare e as suas mulheres. Os quatro suspeitos foram mantidos separados e declarações foram feitas, estes contradiziam-se com as respostas iniciais dadas.

Depois que o Dr. Alexander Black, um cirurgião da polícia, examinou o corpo de Margaret, dois especialistas forenses foram nomeados, Robert Christison e William Newbigging, relataram que era provável que a vítima tivesse sido assassinada por sufocamento, mas não poderiam comprovar isso medicamente.
Médico forense Sir Robert Christison
Com base no relatório dos dois médicos forenses, os quatro foram acusados de assassinato. Como parte da sua investigação, Christison entrevistou Knox, que afirmou que Burke e Hare estavam em casas de alojamento pobres em Edimburgo e compravam os corpos antes que alguém os reivindicasse para o enterro.

Embora a polícia tivesse a certeza de que ocorreu um assassinato e que pelo menos um dos quatro era o culpado, eles não tinham a certeza se conseguiriam uma condenação, a polícia também suspeitou que houvessem outros assassinatos, mas a falta de corpos dificultou essa linha de investigação.

Como as notícias de outros possíveis homicídios chamou a atenção do público, os jornais começaram a publicar histórias escabrosas e imprecisas dos crimes, relatos especulativos levaram o público a assumir que todas as pessoas desaparecidas foram vítimas de Burke e Hare.

Então Janet Brown foi à polícia e identificou as roupas da amiga Mary Paterson, enquanto um padeiro local informava que as calças de Jamie Wilson estavam a ser usadas pelo filho de Burke. A 19 de novembro, é emitido um mandado de prisão para os quatro suspeitos pelo assassinato de Jamie Wilson.

O advogado Sir. William Rae, o Lord Avocate, seguiu uma técnica regular, concentrou-se num indivíduo para extrair uma confissão no qual os outros suspeitos poderiam ser condenados. Então a 1 de dezembro, ofereceu imunidade de acusação a Hare, caso ele revelasse a "prova do rei" e fornecesse todos os detalhes do assassinato de Margaret e de qualquer outro.

Como Hare não podia depor contra a sua mulher, ela também ficou isenta do processo. Hare fez uma confissão completa de todas as mortes e William Rae decidiu que existiam provas suficientes para garantir uma acusação.

A 4 de dezembro foram feitas as acusações formais contra William Burke e Helen McDougal pelos assassinatos de Mary Paterson, James Wilson e Margaret Docherty.

Knox não foi acusado pelos assassinatos porque a declaração de Burke à polícia ilibou o cirurgião.

O julgamento começou às 10 horas da manhã do dia 25 de dezembro de 1828, perante o Supremo Tribunal de Justiça, na Casa do Parlamento de Edimburgo. O caso foi ouvido pelo Lord Justice Clerk, David Boyle, apoiado pelos Lordes Meadowbank, Pitmilly e Mackenzie.
Lord Justice Clerk, David Boyle
O tribunal encheu assim que as portas abriram às 9 horas e uma grande multidão se reuniu do lado de fora da Casa do Parlamento. Estavam 300 polícias de plantão para evitar distúrbios, enquanto a infantaria e a cavalaria estavam em alerta também para o caso de serem precisos.

O caso passou pelo dia e noite até à manhã seguinte. No início da tarde, Burke e a mulher declararam-se inocentes do assassinato de Margaret Docherty. As primeiras testemunhas foram chamadas de uma lista de 55 que incluía Hare e Knox, nem todas as testemunhas da lista foram chamadas.

Um dos assistentes de Knox, David Paterson, que tinha sido a principal pessoa com quem Burke e Hare lidavam quando iam entregar os cadáveres a Knox, foi chamado e confirmou que a dupla tinha fornecido ao médico vários corpos.

No início da noite, Hare subiu ao banco para dar depoimento. Sob interrogatório sobre o assassinato de Margaret, Hare afirmou que Burke tinha sido o único assassino, embora ele tivesse ajudado Burke na entrega do corpo a Knox.

Após o interrogatório Hare, entrou para o banco de testemunhas a sua mulher, levava a sua filha ao colo que se encontrava com tosse convulsa. Margaret Hare usou os ataques de tosse da criança como forma para pensar em algumas respostas, e disse em tribunal que ela tinha uma memória muito fraca e não se conseguia lembrar de muitos detalhes.

As últimas testemunhas de acusação foram os dois médicos forenses, Christison e Black, ambos disseram que suspeitavam de crime, mas que não tinham provas forenses para apoiar a teoria de homicídio.

A promotoria resumiu o caso após as três horas da manhã, então o advogado de defesa de Burke iniciou a sua declaração final, que durou duas horas. O advogado de defesa de Helen iniciou o seu discurso no júri em nome da sua cliente às cinco horas da manhã.

O júri retirou-se para considerar o seu veredicto às 8h30 e voltou 50 minutos depois. O júri emitiu um veredicto de culpado contra Burke pelo assassinato de Margaret Docherty, já a mesma acusação para Helen McDougal não a provaram.

Quando o juiz, Boyle, leu a sentença de morte contra Burke disse: "O seu corpo deverá ser dissecado publicamente e anatomizado. E eu confio que, se é costume preservar esqueletos, então os seus serão preservados, com o objetivo de que na posterioridade se possa guardar na memória os seus crimes atrozes".

A mulher de Burke, Helen foi libertada no final do julgamento e voltou para casa. No dia seguinte, ela saiu para comprar uísque e foi confrontada por uma multidão que estava contra o veredicto de não comprovada a sua culpa. Então Helen foi levada para um prédio da polícia em Fountainbridge para a sua proteção. Helen fugiu por uma janela nas traseiras e foi até ao posto da polícia na High Street de Edimburgo, onde tentou ver o marido, mas não obteve permissão. Helen deixou Edimburgo no dia seguinte, e não existem relatos claros sobre a sua vida a partir daí.

A 16 de janeiro de 1829, uma petição em nome da mãe e da irmã de James Wilson, protestando contra a imunidade de Hare e a sua libertação, foi longamente considerada pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Margaret Hare viajou para Glasgow até obter uma passagem de volta para a Irlanda, a 19 de janeiro. Enquanto esperava pelo navio, foi reconhecida e atacada por uma multidão. Ficou abrigada no posto da polícia antes de receber uma escolta policial num navio em Belfast. Também não existem relatos claros do que lhe aconteceu depois que desembarcou na Irlanda.

William Burke foi enforcado na manhã de 28 de janeiro de 1829, perante uma multidão de possivelmente 25 mil pessoas, que assistiam nas janelas dos prédios em volta do cadafalso. A 1 de fevereiro, o seu corpo foi publicamente dissecado pelo professor Monro no teatro de anatomia do Old College da Universidade.
Execução de William Burke
A polícia teve de ser chamada quando um grande número de estudantes se reuniu para pedir para assistir à palestra para a qual o número limitado de bilhetes já estava esgotado. Uma pequena revolta se seguiu, a calma foi restaurada apenas depois de um dos professores da universidade ter negociado com a multidão que eles teriam permissão para passar pelo teatro em grupos de 50, após a dissecação. Durante o procedimento, que durou duas horas, Monro mergulho a sua pena no sangue de Burke e escreveu: "Isto está escrito com o sangue de Wm Burke, que foi enforcado em Edimburgo. Este sangue foi retirado da sua cabeça".

O esqueleto de Burke foi dado ao Museu de Anatomia da Escola de Medicina de Edimburgo, onde permanece atualmente. A sua máscara de morte e um livro que se diz estar amarrado com a sua pele bronzeada podem ser vistos no Museu do Salão dos Cirurgiões.
Esqueleto de William Burke no Museu de Anatomia da Escola de Medicina de Edimburgo
Hare foi libertado a 5 de fevereiro de 1829 e foi ajudado a deixar Edimburgo disfarçado. Numa das suas paragens, foi reconhecido por um companheiro de viagem, Erskine Douglas Standford, logo este informou os seus companheiros de viagem sobre a identidade de Hare.

Na chegada a Dumfries, a notícia da presença de Hare espalhou-se e uma grande multidão se reuniu na pousada onde ele estaria a passar a noite. A polícia chegou e criou um perímetro de segurança para que Hare escapasse por uma janela nas traseiras até uma carruagem que o levou para a prisão da cidade. Então uma multidão cercou o prédio, atiraram pedras a janelas e portas, até que chegaram 100 polícias especiais para restaurar a ordem.

Nas primeiras horas da manhã, Hare foi escoltado por um oficial da polícia e um guarda da milícia, foi levado para fora da cidade, colocado na estrada Annan e aconselhado a seguir para a fronteira inglesa. Depois deste acontecimento não se soube mais nada de Hare.

Knox recusou-se a fazer declarações públicas sobre a sua relação com Burke e Hare. O pensamento comum em Edimburgo era que ele também era culpado pelos acontecimentos. Knox foi ridicularizado em caricatura e, em fevereiro, uma multidão se reuniu do lado de fora da sua casa e queimou uma efígie dele.
Caricatura do Dr. Knox colhendo cadáveres
A comissão de inquérito limpou-o de cumplicidade e relataram que não tinham "visto nenhuma evidência de que o Dr. Knox ou os seus assistentes sabiam que assassinatos tinham sido cometidos na aquisição de qualquer dos corpos que lhes levaram".

Knox demitiu-se da sua posição e foi gradualmente afastado da vida universitária. Deixou Edimburgo em 1842 e deu aulas na Grã-Bretanha e na Europa continental.

Enquanto trabalhava em Londres caiu em desgraça com os regulamentos do Royal College of Surgeons e foi impedido de dar palestras. Foi excluído da Royal Society of Edinburgh em 1848. Desde 1856, trabalhou como anatomista patológico no Brompton Cancer Hospital e teve uma prática médica em Hackney até à sua morte em 1862.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

sábado, 28 de setembro de 2019

Série Lore: Transformar Cadáveres em Bonecas

Os post's anteriores foram sobre os temas principais de cada um dos seis episódios da série Lore. No entanto, em cada episódio faziam-se referências a casos semelhantes mais brevemente. E antes de começar a ver a segunda temporada da série, vamos explorar um pouco mais destes "subtemas".

Transformar Cadáveres em Bonecas 

Anatoly Moskvin
Anatoly Yurecych Moskvin, nasceu a 1 de setembro de 1966, e é u fiólogo, historiador e linguista russo.

Anatoly trabalhou no Instituto de Línguas Estrangeiras, que falava treze línguas. Moskvin escreveu vários livros, artigos e traduções, todos muito conhecidos no meio académico.

Também fez trabalhos como jornalista onde contribuiu regularmente em publicações locais e jornais.

Moskvin descreve-se como um "necropolista", foi considerado um especialista em cemitérios locais na região de Nizhny Novgorod.

Em 2005, Oleg Riabov, um colega académico e editor, encomendou um trabalho a Moskvin, no qual ele tinha que listar os mortos em mais de 700 cemitérios em 40 regiões do Oblast de Nizhny Novgorod.

Moskvin alegou que foi a pé inspecionar 752 cemitérios de 2005 a 2007, caminhando até 30 km por dia. Durante as suas viagens, ele bebeu água das poças, passou a noite em celeiros e em fazendas abandonadas, ou dormiu nos próprios cemitérios, chegando a passar uma noite num caixão que estava a ser preparado para um funeral.

Também alegou que também durante as suas viagens, foi questionado pela polícia sobre a suspeita de vandalismo e roubo, mas que nunca foi preso ou repreendido.

O trabalho em si permanece inédito, foi descrito como "único" e "inestimável" por Alexei Yesin, o editor do Necrologies, um jornal semanal para o qual Moskvin era um colaborador regular.

Moskvin foi preso a 2 de novembro de 2011 pela polícia que estava a investigar uma série de graves profanações em cemitérios em Nizhny Novgorod e arredores.

Foram encontrados 26 corpos no apartamento e na garagem de Moskvin. Um vídeo feito pela polícia mostra os corpos sentados nas prateleiras e sofás em pequenas salas cheias de livros, papéis e alguma desarrumação.

Apesar de apenas terem sido encontrados 26 corpos, Moskvin era suspeito de profanar até 150 túmulos. A polícia também encontrou placas de metal removidas das lápides e descobriu também instruções para fazer os "bonecos", mapas de cemitérios da região e uma coleção de fotografias e vídeos que mostravam as sepulturas abertas e os corpos desenterrados.

De acordo com a investigação, os corpos foram removidos de cemitérios na região de Nizhny Novgorod, bem como em cemitérios em Moscovo e nas zonas à volta. Moskvin mostrou-se sempre cooperativo com as investigações.

Depois que retirava os corpos das sepulturas, Moskvin pesquisou teorias e técnicas de mumificação de livros, na tentativa de preservar os corpos.

Secou os cadáveres usando uma combinação de sal e bicarbonato de sódio e, em seguida, armazenou os corpos em lugares seguros e secos em cemitérios. Uma vez que os corpos era secos, ele os levava para casa, onde usou vários métodos para fazer "bonecas" com os cadáveres.

Moskvin era incapaz de evitar que os corpos secassem e encolhessem, então envolvia os membros em tiras de pano para proporcionar plenitude, ou enchia os corpos de trapos e estofamento, às vezes adicionando máscaras de cera decoradas com verniz sobre os rostos antes de as vestir, com roupas coloridas e perucas.

Estes detalhes faziam com que os corpos se parecessem grandes bonecas de trapos, o que dificultou a tarefa de identificar depois os corpos das vítimas.
Um dos corpos transformados numa boneca
Não ficou claro se cada boneca continha um conjunto completo de restos humanos. Moskvin alegou que fez as bonecas ao longo de dez anos.

Moskvin declarou que sentia grande simpatia pelas crianças mortas e sentiu que elas poderiam ser trazidas de volta à vida pela ciência ou pela magia negra. Disse que estava ciente de que estava a cometer um crime, mas sentiu que as crianças mortas estavam a "chamar" por ele, implorando para serem resgatadas. Ele acreditava que resgatar as crianças era mais importante do que obedecer à lei.
Uma das meninas cujo o corpo foi desenterrado e transformado numa boneca, possivelmente a da imagem da direita
Outro dos motivos era de que Moskvin sempre quis ter filhos, em especial uma filha, muitas vezes lamentou por não ter filhos e numa altura tentou adotar uma criança, mas o seu pedido foi recusado devido à sua baixa renda.

Moskvin negou qualquer atração sexual pelas bonecas e as considerava suas filhas. Conversava e interagia com os corpos, cantava para eles, assistia a desenhos animados e até celebrava festas de aniversários.

Numa entrevista após a sua prisão, Moskvin explicou que, como especialista da cultura celta, ele aprendeu que os antigos druidas dormiam em sepulturas para se comunicarem com os espíritos dos seus mortos.

Então Moskvin começou a procurar por obituários de crianças recentemente mortas. Quando ele encontrou um obituário que "falou" com ele, ele então dormiu no seu túmulo, com o objetivo de perceber se o espírito da criança queria ser trazido de volta à vida.

Moskvin afirmou que fez isto durante cerca de 20 anos e insistiu que quando ele começou, nunca desenterrou um túmulo sem a permissão da criança.

Quando ficou mais velho, tornou-se fisicamente doloroso para ele dormir nas sepulturas, então ele começou a levar os corpos para casa, onde seria mais confortável dormir perto deles. Ele esperava que os espíritos estivessem mais dispostos a falar num lar seguro e acolhedor e que poderiam ser mais fáceis para ele ouvir quando já não estivessem enterrados.
Um dos corpos transformados numa boneca
Foi acusado, nos termos do artigo 244 do Código Penal, pela profanação de sepulturas e cadáveres, acusação que levou até cinco anos de prisão.

Depois de uma avaliação psiquiátrica, determinou-se que Moskvin sofria de uma forma de esquizofrenia paranóica. Numa audiência a 25 de maio de 2012, o tribunal de Leninsky, considerou Moskvin incapaz de ser julgado, libertando-o de responsabilidade criminal. Moskvin foi condenado a "medidas médicas coercivas".

Moskvin foi transferido para uma clínica psiquiátrica. Em fevereiro de 2013, uma audiência aprovou uma extensão do seu tratamento psiquiátrico. Em 2014, um porta-voz declarou: "Após três anos de acompanhamento numa clínica psiquiátrica, é absolutamente claro que Moskvin não é mentalmente apto para julgamento... Ele será, portanto mantido para tratamento psiquiátrico na clínica".  Em 2019, todos os pedidos de extensão do tratamento de Moskvin foram aprovados.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Série Lore: Bonecas no desenvolvimento da Ciência Forense

Os post's anteriores foram sobre os temas principais de cada um dos seis episódios da série Lore. No entanto, em cada episódio faziam-se referências a casos semelhantes mais brevemente. E antes de começar a ver a segunda temporada da série, vamos explorar um pouco mais destes "subtemas".

Bonecas no desenvolvimento da Ciência Forense

Frances Glessner Lee na criação dos seus cenários
Frances Glessner Lee (1878-1962) criou o Nutshell Studies of Unexplained Death, recreações minuciosas de cenas do crime em escala de casas de bonecas, usando estas recreações para treinar os investigadores de homicídios.

Frances também tornou-se na primeira policia mulher nos EUA e é conhecida como a "mãe da ciência forense".

Nos anos 1940 e 50, organizou uma série de seminários sobre investigação de homicídios.

Os seus cenários  eram verdadeiras salas cheias de ratoeiras e cadeiras de baloiço, comida nas cozinhas e mais, os cadáveres representavam com precisão a descoloração ou inchaço que estaria presente na cena do crime.
Uma das maquetes de Frances Lee

Uma das maquetes de Frances Lee

Uma das maquetes de Frances Lee

Uma das maquetes de Frances Lee

Pelo seu trabalho, Franes foi nomeada capitã honorária na Polícia do Estado de New Hampshire, a 27 de outubro de 1943, tornando-se a primeira mulher a ingressar na Associação Internacional de Chefes de Polícia.

MZ

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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Série Lore: A Ilha das Bonecas

Os post's anteriores foram sobre os temas principais de cada um dos seis episódios da série Lore. No entanto, em cada episódio faziam-se referências a casos semelhantes mais brevemente. E antes de começar a ver a segunda temporada da série, vamos explorar um pouco mais destes "subtemas".

A Ilha das Bonecas

Uma das imagens das bonecas espalhadas pela Ilha das Bonecas
Conta-se que em 1951 três crianças brincavam numa ilha junto ao Lago Teshuilo, entre Xochimilco e a Cidade do México, quando uma delas afogou-se. Os habitantes da ilha garantem que a alma da menina nunca teve descanso e explicam que o espírito  da criança atormentava sobretudo um homem Julián Santana Barrera, que morava perto dos canais do lago onde a menina morreu.
Julián Santana Barrera
Julián sentia-se perseguido e só encontrou uma forma que resultou para afastar o espírito da menina, pendurava bonecas por todo o lado. Bonecas velhas, abandonadas ou perdidas decoravam as árvores e vários outros espaços da ilha.

Dizia que só assim conseguia que o espírito da menina acalmasse e o deixasse. Verdade ou não, o certo é que Julián Santan passou a viver mais tranquilo, pelo menos assim o dizia.

As primeiras bonecas foi ele mesmo que procurou e pendurou-as nas árvores, mas com o passar dos anos, outros habitantes e visitantes da ilha ficaram curiosos e solidários e começaram por lhe levar mais e mais bonecas, na esperança de ele viver mais sossegado.

Ironia do destino, ou não, em 2001 Julián, na altura com 80 anos de idade, morre. Afogado, tal como a menina, precisamente meio século antes.

Fonte: Expresso

MZ

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domingo, 22 de setembro de 2019

Série Lore: Ventriloquia


Os post's anteriores foram sobre os temas principais de cada um dos seis episódios da série Lore. No entanto, em cada episódio faziam-se referências a casos semelhantes mais brevemente. E antes de começar a ver a segunda temporada da série, vamos explorar um pouco mais destes "subtemas".

Ventriloquia

Charlie McCarthy e Edgar Bergen
A ventriloquia é a arte de projetar a voz, sem que se abra a boca ou se mova os lábios, de maneira que o som pareça vir doutra fonte diferente do falante.

Nos EUA um grande ventríloquo, que atuou no filme da Disney "Fun and Fancy Free", foi Edgar Bergen, com os seus fantoches "Charlie McCarthy" e "Mortimer Snerd".

Edgar Bergen (1903-1978) alem de ventríloquo foi um ator e comediante. Graças ao seu boneco Charlie McCarthy conquistou a fama mundial. Mas foi na adolescência que começou a fazer-se acompanhar do boneco Charlie que era um fantoche que representava um vendedor de jornais irlandês.

Edgar casou-se em 1945, com Frances Westerman, Frances era modelo e atriz. Foram pais da que seria a atriz Candice Bergen, cujas primeiras apresentações foram no programa de rádio de Bergen. O segundo filho do casal foi o editor de cinema e televisão Kris Bergen.

Por volta de setembro de 1978, Edgar anunciou que se iria reformar, depois de mais de 50 anos no mundo do espetáculo. Faleceu a 30 de setembro de 1978, de doença renal.

No seu testamento, de acordo com as memórias de Candice Bergen, o seu pai não deixou nada para si, mas deixou ao seu fantoche, Charlie McCarthy, 10 mil dólares. Candice disse: "Persegui a aprovação do meu pai a minha vida toda, e aqui estava uma prova de que nunca conseguiria (...) Fiquei magoada, chocada quando descobri que ele me tinha deixado fora do seu testamento".
Candice Bergen, ainda em criança, e o boneco Charlie McCarthy
Candice explicou que a herança serviria para promover as futuras apresentações artísticas de Charlie. Diz que o seu pai escreveu no seu testamento: "Eu faço esta divisão por razões sentimentais, que para mim são vitais devido à associação com Charlie McCarthy, que tem sido o meu companheiro constante e que assumiu o carácter de uma pessoa real e de quem nunca me separei nem um dia".
Candice Bergen, o boneco Charlie e o seu pai Edgar Bergen
Ao longo do seu livro, Candice sugeriu que o seu pai parecia ter mais afinidade com Charlie do que com ela. Disse ainda que Charlie tinha o seu próprio quarto em casa.

MZ

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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Série Lore: Boneco Assombrado

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

Post relacionado anterior: https://imagenschistoria.blogspot.com/2019/09/serie-lore-lobisomem-peter-stumpp.html

Boneco Assombrado

Robert, o boneco no Museu East Martello
Robert, o boneco foi um boneco que segundo a lenda era assombrado que pertenceu ao pintor e escritor Robert Eugene Otto.
Robert Eugene Otto
O boneco teria sido fabricado pela Steiff Company da Alemanha, comprado pelo avô de Otto durante uma viagem à Alemanha em 1904 e entregue ao pequeno Robert como presente de aniversário. O boneco tinha um traje de marinheiro que era provavelmente o estilo de roupa que Robert usava quando era criança.

O boneco tinha pouco mais de um metro de altura e o menino decidiu batizar o seu boneco com o seu próprio nome.

Segundo a lenda, o boneco tinha capacidades sobrenaturais que permitiam que se move-se, mudava as suas expressões faciais e produzia sons risonhos.

Robert e o boneco eram os melhores amigos. A lenda especula que o vodu desempenhou um papel importante nos anos de formação de Robert, enquanto entrevistas com pessoas próximas à família indicam que grande quantidade de energia emocional foi colocada sobre o boneco durante a vida de Robert.

Diz-se que a criança atribuía as culpas de quando se comportava mal, ao boneco, dizendo: "Eu não fiz isto. Robert (o boneco) fez".

O menino nunca largava o boneco e não foram poucas as vezes que os seus pais e empregados da casa ouviram o menino a ter longas conversas com o boneco. O mais sinistro era que ouviam duas vozes diferentes e, no início, simplesmente deduziram que o menino tinha diálogos com o boneco usando a sua voz normal e outra com uma entoação modificada.

Os pais de Robert começaram a ter dúvidas sobre essa segunda voz que ouviam. O menino muitas vezes acordava aos gritos a meio da noite, sendo encontrado muito assustado na sua cama rodeado de móveis virados. Além disso, brinquedos mutilados passaram a surgir pela casa e várias coisas estanhas começaram a acontecer.

O boneco transformou-se num companheiro inseparável de Robert, tanto que ganhou um lugar à mesa e "dormia" com o menino na mesma cama todas as noites.

Depois de várias acontecimentos estranhos os pais de Robert decidiram enviar o filho para um colégio interno, e trancaram o boneco no sótão.

Robert estudou arte em Nova Iorque (EUA) e em Paris (França), e foi em Paris que se casou também, a 3 de maio de 1930, com Annette Parker.

Depois do casamento, o casal voltou para a casa da família de Robert em Key West para lá morar. E o boneco foi colocado num dos quartos da casa.

Logo começaram a circular rumores sobre crianças que diziam ver o boneco as encarando pela janela ou aparecendo em diferentes locais da casa durante o dia. Além disso, pessoas que visitavam o local diziam que ouviam passos vindos do andar de cima, assim como risos estranhos.

A própria mulher de Robert dizia notar as mudanças faciais do boneco.

O boneco ocupou um quarto específico até à década de 70, quando Robert e a sua mulher faleceram, e a nova família se mudou para a casa, que diz também ter sido assombrada pelo boneco.

Robert Otto faleceu em 1974 e a sua mulher morreu dois anos depois. Depois das suas mortes, a casa onde estava boneco foi vendida a Myrtle Reuter, que foi a proprietária durante 20 anos. Depois foi vendida aos atuais proprietários que a transformaram numa casa de hóspedes.
A mansão Robert Eugene Otto
Em 1994, o boneco foi doada para o Museu East Martello, e Key West, na Flórida, nos EUA, onde acabou por se tornar uma atração turística popular.

De acordo com as lendas locais, o boneco causou "acidentes de carro, ossos partidos, perda de emprego, divórcios e muitos outros infortúnios" aos visitantes do museu onde o boneco se encontra atualmente por "não respeitarem Robert, o boneco".

MZ

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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Série Lore: Lobisomem Peter Stumpp

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

Post relacionado anterior: https://imagenschistoria.blogspot.com/2019/09/serie-lore-mansao-assombrada.html

Lobisomem Peter Stumpp

Ilustração da execução de Peter Stumpp, em Colonia, na Alemanha, em 1589
Durante o séc. XVI foram encontradas várias pessoas assassinadas em Bedburg, na Alemanha. Os habitantes locais atribuíam a culpa a uma criatura mítica, o lobisomem.

Mas depois de alguns assassinatos vieram a descobrir que o assassino era tão humano quanto eles, tratava-se de um agricultor, Peter Stumpp, que ficou então conhecido como o lobisomem de Bedburg, por ser um assassino em série e canibal.

A fonte mais completa deste caso é um panfleto de 16 páginas publicado em Londres, durante o ano de 1590, uma tradução de uma impressão alemã. Este panfleto descreve a vida de Stumpp, os crimes que lhe são atribuídos, o seu julgamento, e inclui também muitas declarações tanto de vizinhos quanto de testemunhas dos crimes.

Entre 1564 e 1569, rumores da população fizeram de Stumpp o principal suspeito. Haviam boatos de que ele devorava animais das quintas locais e praticava canibalismo, o que reforçou o interesse da inquisição alemã em condená-lo.

Logo, começaram a surgir as histórias que Stumpp era capaz de se transformar e lobisomem, graças a um suposto cinturão mágico. Diziam que o acessório tinha sido um presente do diabo e que sem ele o criminoso voltava à forma humana.

Peter Stumpp foi julgado por matar e torturar 14 crianças e duas mulheres grávidas. O esquartejamento dos corpos encontrados nas florestas de Bedburg entraram para a lista de atrocidades praticadas por Stumpp, que também foi acusado de se alimentar do sangue das suas vítimas.

Depois de ser capturado, o assassino relatou que se envolvia com a magia negra desde os 12 anos. Durante a sua confissão, admitiu ter contacto frequente com um súcubo (demónio de aparência feminina que suga a energia vital de humanos com quem mantém relações sexuais).

Os detalhes dos seus crimes foram dados durante sessões de tortura. Peter foi amarrado a uma roda onde pedaços da sua carne eram arrancados com pinças aquecidas e os seus ossos eram partidos. Para finalizar, foi decapitado e teve a sua cabeça atirada para uma fogueira.

MZ

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Série Lore: Mansão Assombrada

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

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Mansão Assombrada

Mansão da família Phelps
O episódio quatro da primeira temporada da série Lore leva-nos até à mansão da família do Dr. Eliakim Phelps.

Eliakim era um ministro presbiteriano e morava na casa com a sua mulher e filhos.

Aparentemente, o Sr. Phelps gostava de se envolver com o espiritualismo e com o ocultismo. Numa dessas sessões de espiritualismo terá convocado o espírito de Goody Bassett, uma bruxa que foi enforcada por feitiçaria em 1661.

A atividade paranormal começou enquanto a família Phelps vivia na mansão e diz-se que ainda hoje acontecem coisas inexplicáveis.

Num domingo, depois de voltar da igreja, a família relatou que quando voltou a casa encontrou o cadáver fantasma de Goody Bassett, na mesa de sala de jantar e depois desapareceu.

Ainda na tarde desse domingo, a família alegou que, quando entraram nos seus quartos, encontraram as suas roupas colocadas sobre a cama na posição em que uma pessoa estaria deitada dentro de um caixão.

Apareciam bonecos de vodu em várias partes da casa. Estes bonecos não pertenciam à família, mas apareciam por toda a casa.

Eventualmente, a família começou a relatar acontecimentos inexplicáveis, como batidas, objetos que se moviam sozinhos, móveis levantando-se do chão e objetos atirados à parede. E então, as crianças foram atacadas durante a noite e agredidas por esta entidade invisível.

Não foram apenas os membros da família Phelps que presenciaram estes acontecimentos paranormais, muitas das suas visitas também testemunhavam.

Phelps e a sua mulher enviaram as crianças para um internato para poupá-las das agressões noturnas que as atormentavam e depois disso, as assombrações pararam.

Em 1947, a mansão foi transformada num hospital e as assombrações começaram novamente. Durante os 20 anos seguintes, os funcionários do hospital relataram batidas, vozes e portas que se abriam e fechavam sozinhas.

Em 1971, a mansão foi abandonada. Um dias, policias viram uma menina dentro da casa e a seguiram até ao terceiro andar. Os policias relataram que depois que chegaram ao terceiro andar, a menina desapareceu diante dos seus olhos.

A mansão acabou por ser demolida.

MZ

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sábado, 14 de setembro de 2019

Série Lore: Rapto das Fadas

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

Rapto das Fadas

Bridget e Michael Cleary
Bridget Cleary (1869-1895) foi uma mulher irlandesa assassinada pelo seu marido.

Mas a sua morte está envolta em grandes particularidades, porque o seu marido justificou o assassinado pela sua crença que Bridget tinha sido raptada por fadas Changeling.

Changeling é uma criatura lendária de vários países da Europa. Trata-se de uma criança fada que tinha sideo deixada no lugar de uma criança humana roubada pelas fadas. O tema da criança trocada é comum na literatura medieval e reflete a preocupação com os bebés que são afetados por doenças inexplicáveis, distúrbios ou deficiências de desenvolvimento.

Bridget casou-se com Michael Cleary em agosto de 1887. Depois do casamento, Bridget voltou para casa dos pais e Ballyvadlea, enquanto o marido ficou a trabalhar em Clonmel, então a sua independência cresceu, com ela mantendo o seu próprio negócio de frangos e de venda de ovos. Algo pouco comum na época, ter uma mulher com uma carreira profissional.

Bridget que tinha trabalhado como aprendiz de costureira, recebeu uma máquina de costura Singer, e foi descrita como boa costureira e chapeleira.

O casal teve casado durante oito anos, mas não tiveram filhos. Após a morte de Bridget, o casal viu-se responsável pelo pai idoso de Bridget, Patrick Boland. A casa onde eles moravam foi construída no local de um suposto anel de fada.

Anel de fada eram os locais onde se encontravam casas circulares na Irlanda. Desde, possivelmente, o final da Idade do Ferro até os primeiros tempos cristãos, os ocupantes da ilha construíram estruturas circulares com bancos de terra ou valas.
A tradição afirma que estes espaços eram "fortalezas de fadas" imbuídas da magia dos druidas e fadas. Os primeiros habitantes pré-celtas da Irlanda passaram a ser vistos como míticos e foram associados a histórias de fadas. Fortes de fadas eram vistos como entradas para o mundo deles.

Bridget foi dada como desaparecida em março de 1895. Encontrava-se doente há vários dias, e o seu diagnóstico era de bronquite. Mais de uma semana após a doença, a 13 de março de 1895, um médico a visitou em casa, a sua condição era considerada suficientemente grave que um padre a visitou também.

Vários amigos e familiares a visitaram nos dois dias seguintes, e vários remédios caseiros foram-lhe dados, incluindo um ritual que previa a sua morte posterior: o seu pai e o seu marido a acusaram de ser uma fada enviada para tomar o lugar de Bridget.

Regaram-na com urina e foi levada para a lareira para expulsar a fada.

A 16 de março começaram a circular rumores de que Bridget estava desaparecida e o polícia local começou a procurar por ela. Michael foi citado como alegando que a sua mulher tinha sido levada por fadas, e ele parecia estar de vigília.

Declarações de testemunhas foram reunidas durante a semana seguinte, e no momento em que o cadáver de Bridget Cleary foi encontrado numa cova rasa a 22 de março, nove pessoas foram indiciadas pelo seu desaparecimento, incluindo o marido.

O relatório do médico-legista no dia seguinte deu o veredicto de que Bridget terá morrido queimada ou terá sido queimada logo após a sua morte.

Em algum momento, Bridget terá dito a Michael que a única pessoa que tinha saído com as fadas tinha sido a sua mãe. Michael então tentou forçar Bridget a comer, atirando-a ao chão diante da lareira da cozinha e ameaçando-a com um pedaço de madeira a arder. A camisa de Bridget pegou fogo e Michael atirou-lhe com óleo de lâmpada.

As testemunhas não sabiam se ela já estava morta nessa altura. Michael manteve as testemunhas longe do corpo enquanto queimava, insistindo que se tratava de uma fada e como não tinha passado ainda uma semana de que ela fora levada pelas fadas, ele ainda conseguiria recuperá-la.

Como parte do julgamento, o júri foi levado ao local onde estava o corpo de Bridget a ser mantido até ao seu enterro. O júri teve a oportunidade de ver o estado do corpo e a extensão dos seus ferimentos, bem como verificar pessoalmente se o corpo era realmente de Bridget olhando para o seu rosto. O que o júri testemunhou convenceu-os do sofrimento horrível que Bridget tinha sofrido antes de morrer.

Michael Cleary foi considerado culpado de homicídio e passou 15 anos na prisão. Foi libertado a 28 de abril de 1910 e foi viver para Liverpool (Inglaterra) e depois para Montreal (Canadá).

A morte de Bridget Cleary permaneceu famosa na cultura popular. Até uma rima foi feita: "Are you a witch or are you a fairy? Or are you the wife of Michael Cleary? (PT: "Você é uma bruxa ou uma fada? Ou é a mulher de Michael Cleary?").

MZ

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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Série Lore: O Pai da Lobotomia da Picadora de Gelo

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

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O Pai da Lobotomia da Picadora de Gelo

Walter Freeman
Walter Jackson Freeman II (1895-1972) foi um médico norte-americano lembrado como lobotomista e um apoiante da psicocirurgia.

Filho de um médico bem sucedido e neto de um presidente da Associação Médica Americana, Walter licenciou-se na Universidade de Tale e na escola médica da Universidade da Pensilvânia.

A lobotomia é uma intervenção cirúrgica no cérebro em que são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Foi utilizada em casos graves de esquizofrenia.
Esquema da lobotomia
Em muitos casos, a lobotomia deixava os pacientes num estado vegetativo ou simplesmente os tornava mais dóceis, passivos e fáceis de controlar.

Walter Freeman realizou cerca de 3500 lobotomias, a maior parte delas com muita pouca base cientifica, mas popularizou de forma significativa a lobotomia como forma legítima de psicocirurgia.
Walter Freeman durante uma lobotomia
Walter era um neurologista sem qualquer formação cirúrgica, inicialmente trabalhou com vários cirurgiões, como James W. Watts. Em 1936, Walter e James tornaram-se nos primeiros americanos a realizar a lobotomia pré-frontal através de craniotomia numa sala de operações.
James W. Watts
Tentando que o tratamento fosse mais rápido e menos invasivo, Walter inventou um aparelho que possibilitava a lobotomia transorbital. Este aparelho no início era literalmente um picador de gelo introduzido, martelado com um martelo de borracha, por detrás do globo ocular até ao cérebro.

Este aparelho deu a Walter a possibilidade de realizar lobotomias de uma maneira muito rápida, fora de uma sala de operações e sem a assistência de um cirurgião.

Com o passar dos anos, o picador de gelo passou a ser um instrumento criado de propósito para a operação, chamado leucotomo.
Leucotomo
Em 1948, Walter desenvolveu uma nova técnica que consistia em girar o leucotomo num movimento ascendente após a inserção inicial. Este procedimento colocava o instrumento numa grande tensão e num caso resultou na rutura do instrumento dentro do crânio do paciente. Então, Walter desenhou um novo leucotomo, mais forte, que deu o nome de Orbitoclast.
Orbitoclast
Walter Freeman então iniciou uma campanha nacional numa carrinha chamada "Lobotomóvel" para demonstrar a sua técnica a médicos que trabalhavam em hospitais psiquiátricos.
Walter Freeman no seu "lobotomóvel"
Nessa época os hospitais psiquiátricos encontravam-se sobrelotados e não tinham tratamentos eficazes. Walter viu na sua lobotomia transorbital como um meio para retirar um grande número de pacientes dos hospitais.

A mais famosa doente de Walter Freeman foi Rosemary Kennedy, irmã de John F. Kennedy a qual ficou inválida aos 23 anos como resultado da operação.
Rosemary Kennedy
Outros dos seus pacientes, Howard Dully escreveu o livro "My Lobotomy", no qual conta a sua experiência com Freeman e a sua lenta recuperação da lobotomia.
Howard Dully quando fez a lobotomia (esquerda) e atualmente (direita)
Howard Dully, nascido em 1948, é um dos mais jovens recetores da lobotomia transorbital, o procedimento que fez aos 12 anos de idade.

Com o avanço das drogas anti-psicóticas, principalmente a Clorpromazina, em meados dos anos 50, a lobotomia foi sendo gradualmente abandonada e substituída pelos novos medicamentos, Freeman viu então a sua reputação cair rapidamente.

A sua licença médica foi anulada quando um dos seus pacientes morreu durante uma lobotomia.

Walter Freeman continuou a conduzir o seu "lobotomóvel", para visitar os seus antigos pacientes até ao dia da sua morte por cancro, a 31 de maio de 1972. 

MZ

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