segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Série Lore: Venda de Corpos pela Ciência

Vou fazer mais um conjunto de post's, inspirados numa série, desta vez a série é Lore.

Esta série, que já conta com duas temporadas, fala em cada um dos episódios de algo assustador para nós, comum dos mortais, como vampiros, fantasmas, lobisomens, em resumo, lendas e como é que estas surgiram.

Com estes post's irei de falar mais em pormenor de cada situação ou pessoas retratadas nos episódios. Nos episódios há sempre uma história central e depois outras que vão complementando as principais, ou porque são do mesmo género ou de outra altura.

Venda de Corpos pela Ciência

William Burke e William Hare a carregar uma das suas vítimas
No início do séc. XIX, Edimburgo (Escócia) teve vários professores de anatomia pioneiros, como Alexander Monro, o seu filho também Alexander, John Bell, John Goodsir e Robert Knox.

Por causa dos esforços destes pioneiros, Edimburgo tornou-se um dos principais centros de estudo de anatomia na Europa.

O estudo de anatomia, essencial para o estudo de cirurgia, exigia um grande número de cadáveres, e a procura por corpos aumentou à medida que a ciência se desenvolvia.

A lei escocesa determinou que os corpos que seriam usados para dissecações eram daqueles que morriam na prisão, ou de vítimas de suicídio ou os corpos de crianças abandonadas e órfãos.

Com o aumento do prestígio e popularidade da formação médica em Edimburgo, a oferta legal de cadáveres não era suficiente para a procura. Então estudantes, professores universitários e ladrões de túmulos, também conhecidos como homens da ressurreição, iniciaram um comércio ilegal de cadáveres exumados.

A lei na época podia ser deturpada. Era uma ofensa criminal perturbar um túmulo ou tomar a propriedade do falecido, mas roubar o corpo não era uma ofensa, pois legalmente não pertencia a ninguém.

O preço por cadáver mudou de época para época. Eram 8£ durante o verão, quando as temperaturas mais altas provocavam uma decomposição mais rápida, e 10£ nos meses de inverno, quando a procura dos anatomistas era maior, porque as temperaturas frias permitiam armazenar os corpos por mais tempo.

Na década de 1820, os moradores de Edimburgo saíram à rua para protestar contra o aumento dos roubos de túmulos. Para evitar que os corpos fossem desenterrados, as famílias usavam várias técnicas para deter os ladrões, contratavam guardas para vigiar as sepulturas e torres de vigia eram construídas em vários cemitérios, algumas famílias contratavam uma grande laje de pedra que poderia ser colocada sobre um túmulo por um curto período (até que o corpo tivesse começado a sua decomposição além de ser útil para um anatomista). Outras famílias usavam um mortsafe, que era uma gaiola de ferro que rodeava o caixão.

Os altos níveis de vigilância do público e as técnicas usadas para deter os ladrões de túmulos levaram ao que a historiadora Ruth Richardson descreve como "uma crescente atmosfera de crise" entre os anatomistas, devido à escassez de cadáveres.

O Dr. Robert Knox formou-se médico em 1814. Fez serviço médico no exército na Batalha de Waterloo em 1815, e depois durante a Guerra da Fronteira do Cabo, em 1819, no sul de África. Voltou a Edimburgo, a sua cidade natal, em 1820.
Dr. Robert Knox
Em 1825, tornou-se membro do Royal College of Surgeons de Edimburgo, onde deu aulas de anatomia. Realizava dissecações duas vezes por dia, e a sua publicidade prometia "uma demonstração completa de novos assuntos anatómicos". Knox afirmou que as suas aulas atraíam mais de 400 alunos.

Quem vendia os corpos a Knox para as suas aulas foram William Burke e William Hare.

William Burke, nascido em 1792 em Urney, na Irlanda, teve uma educação confortável e juntou-se ao exército britânico ainda adolescente. Serviu em Donegal até que se casou. O casamento durou pouco, então ele mudou-se para a Escócia. Passou a morar na pequena aldeia de Maddiston, onde ficou na casa de Helen McDougal, a quem ele carinhosamente chamou de Nelly, esta viria a tornar-se a sua segunda mulher.
Helen McDougal e William Burke
Depois de alguns anos, o casal mudou-se para Tanners Close, em Edimburgo, em novembro de 1827. Tornaram-se vendedores ambulantes, Burke depois tornou-se num sapateiro, negócio no qual ele teve algum sucesso, ganhando 1£ por semana.

Burke tornou-se conhecido localmente como um homem trabalhador e bem-humorado. Embora tenha sido criado como um católico romano, Burke tornou-se um adepto da Igreja Presbiteriana.

William Hare provavelmente nasceu no condado de Armagh ou em Newry, o seu ano de nascimento é desconhecido. Quando foi preso em 1828, terá dito que tinha 21 anos, mas uma fonte afirma que ele nasceu entre 1792 e 1804. Informações sobre a sua vida são escassas, sabe-se que trabalhou na Irlanda como trabalhador agrícola antes de viajar para a Escócia.

Mudou-se para Edimburgo por volta de 1820, onde trabalhou como assistente de carvão. Ficou em Tanner's Close, na casa de um homem chamado Logue e da sua mulher, Margaret Laird. Quando Logue morreu em 1826, Hare poderá ter-se casado com Margaret.
William Hare, a sua mulher Margaret e a filha
Em 1827, Burke e a sua mulher foram trabalhar nas colheitas em Penicuik, onde conhecera Hare. Os homens tornaram-se amigos. Quando o casal voltou para Edimburgo, mudaram-se para uma casa em Tanner's Close, onde frequentemente Hare e a mulher se encontravam com Burke e Helen.

A 29 de novembro de 1827, Donald, um inquilino na casa de Hare, morreu de hidropisia. Depois que Hare comentou a morte com Burke, estes decidiram vender o corpo de Donal. Levaram o corpo para a Universidade de Edimburgo, onde procuraram um comprador.

Acabaram por chegar às instalações de Knox. Burke fixou o preso de 7£10s, Hare recebeu £4,5s enquanto Burke recebeu £3,5s. A maior parte foi para Hare para cobrir a sua perda do aluguer não pago por Donald.

De acordo com a confissão oficial de Burke, quando ele e Hare deixaram a universidade, um dos assistentes de Knox disse-lhes que os anatomistas "ficariam felizes em vê-los novamente quando tivessem outro corpo para se desfazerem".

Não existe certezas da ordem dos assassinatos que ocorreram. Burke fez duas confissões, mas deu sequências diferentes para os assassinatos em cada declaração.

A primeira foi oficial, dada a 3 de janeiro de 1829, dada ao xerife substituto, ao procurador fiscal e ao assistente de xerife. A segunda foi em forma de entrevista com o "Edinburgh Courant" publicado a 7 de fevereiro de 1829.

A maioria das fontes concorda que o primeiro assassinato, que ocorreu entre janeiro e fevereiro de 1828, foi o de um moleiro chamado Joseph que estava alojado na casa de Hare, ou foi Abigail Simpson, uma vendedora de sal.

No caso de Joseph foi utilizada uma almofada para o matar, enquanto nos casos seguintes as vítimas foram sufocadas com a mão a tapar a boca e nariz. O corpo de Joseph terá rendido £10.

A ordem das duas vítimas depois de Joseph também não é clara. Certamente terá sido Abigail Simpson e depois um inquilino inglês de Hare. O inglês não identificado era um vendedor ambulante de fósforos e lixo que ficou doente com icterícia enquanto estava em casa de Hare. Como aconteceu com Joseph que sofria de febres, Hare preocupado com o efeito que a doença poderia ter para o seu negócio de aluguer, ele e Burke mataram o vendedor ambulante.

Abigail Simpson era uma reformada que vendia sal para ganhar mais alguma coisa. A 12 de fevereiro de 1828, a única data exata citada por Burke na sua confissão, Abigail foi convidada para a casa de Hare e bebeu tanto álcool que ficou incapaz de voltar para casa. Depois Burke e Hare a mataram e colocaram o seu corpo numa caixa de chá e venderam a Knox, recebendo 10£.

Entre fevereiro e março, uma mulher idosa ficou em casa de Hare. Novamente, deram-lhe álcool até ela adormecer. Durante a tarde, Hare cobriu a boca e o nariz da mulher com uma capa dura de colchão e a deixou. Ao anoitecer a mulher já estava morta, então levaram o corpo para Knox e, novamente, receberam £10.

Burke conheceu duas mulheres no início de abril, Mary Paterson e Janet Brown. Ele comprou álcool para as duas mulheres antes de as convidar para tomarem o pequeno-almoço. Os três deixaram a taberna com duas garrafas de uísque e foram para casa onde começaram a beber. Mary adormeceu à mesa, enquanto Burke e Janet conversavam, quando foram interrompidos pela mulher de Burke que os acusou de terem um caso.
Mary Paterson
Então Burke começou a discutir com a mulher, Burke atirou um copo à cara da mulher, cortando-a perto do olho. Janet que não sabia que Burke era casado, foi embora. Entretanto vem Hare com a sua mulher, os dois homens trancaram as suas mulheres num quarto, enquanto assassinavam Paterson.

Naquela tarde, a dupla levou o corpo até Knox, novamente numa caixa de chá. Receberam £8 pelo corpo que ainda estava quente quando o entregaram.

Fergusson, um dos assistentes de Knox, perguntou onde tinham encontrado o corpo, pois ele achou que o reconhecia. Burke explicou que Mary se embebedou até à morte a compraram "de uma velha da Canongate".

Knox ficou encantado com o cadáver e o armazenou em uísque durante três meses antes de dissecá-lo. Janet voltou para saber da sua amiga, então disseram-lhe que Mary tinha ido para Glasgow com um vendedor ambulante.

Em algum momento do início de 1828, a Sra. Haldane, que Burke descreveu como "uma mulher forte e corpulenta", alojou-se na casa de Hare. Depois que ficou bêbada, adormeceu no estábulo, então foi sufocada e vendida a Knox.

Meses depois, a filha de Haldane, também ficou em casa de Hare. Ela e Burke beberam muito e ele a matou, sem sequer precisar da ajuda de Hare, o seu corpo rendeu £8.

O assassinato seguinte aconteceu em maio de 1828, quando uma mulher idosa se hospedou na casa de Hare. Uma noite em que ela estava bêbada, Burke a sufocou. O seu corpo foi vendido por £10.

Depois foi o assassinato de Effy, uma "coletora de cinzas" que vasculhava os contentores do lixo para encontrar coisas para vender. Depois de ficar bêbada, Burke e Hare a mataram, e Knox deu £10 pelo corpo.

Outra vítima foi encontrada por Burke. A vítima estava tão bêbada que não se conseguia manter em pé e estava a ser ajudada por um polícia, então Burke ofereceu-se para levá-la. Burke então a levou para casa de Hare, onde foi morta. Mais uma vez, conseguiram £10 pelo corpo.

Burke e Hare assassinaram dois inquilinos em junho, "uma mulher idosa e um menino mudo, o seu neto", como Burke mais tarde recordou na sua confissão. Enquanto o menino se sentou perto do fogo na cozinha, a sua avó foi assassinada no quarto. Burke e Hare, em seguida, pegaram no menino e levaram-o para a mesma sala onde estava a sua avó e o mataram.

Burke disse mais tarde que este foi o assassinato que o perturbou mais, pois foi perseguido pela expressão do rapaz. Burke e Hare receberam £8 por cada corpo.

A 24 de junho, Burke e a mulher foram até Falkirk para visitar o pai de Burke. Como Burke sabia que Hare estava com pouco dinheiro, ao voltar e ao ver que Hare estava a usar roupas novas e tinha dinheiro extra, desconfiou que ele tivesse vendido mais algum corpo. O que se veio a confirmar, quando Burke perguntou a Knox, e este confirmou que Hare lhe tinha vendido o corpo de uma mulher por £8. Isto levou a uma discussão entre os dois homens e chegaram mesmo a se agredirem fisicamente.

A zanga entre os dois não demorou muito. No final de setembro ou início de outubro, Hare estava a visitar Burke quando a senhora Ostler, lavadeira, foi à propriedade lavar as roupas. Os homens a embebedaram e a mataram. Levaram logo o cadáver a Knox, pelo qual receberam £8.

Uma semana ou duas depois, um dos parentes da mulher de Burke, Ann Dougal estava de visita, então os dois homens a mataram e receberam £10 pelo corpo.

A vítima seguinte era uma figura conhecida nas ruas de Edimburgo, James Wilson, um rapaz de 18 anos de idade, que coxeava devido aos pés deformados. Era deficiente mental e, segundo Alanna Knight na sua história dos assassinatos, era uma pessoa inofensiva. Wilson vivia nas ruas.
James Wilson
Em novembro, Hare atraiu Wilson a sua casa. Burke e Hare então levaram Wilson até um quarto. Como Wilson não gostava muito do uísque, não estava tão bêbado como as outras vítimas, também era forte e lutou pela sua vida, mas foi dominado e morto.

O corpo de Wilson foi examinado no dia seguinte por Knox e pelos seus alunos, vários deles reconheceram Wilson, mas Knox negou que pudesse ser alguém que os estudantes conhecessem. Quando começou a circular a notícia de que Wilson estava desaparecido, Knox removeu a cabeça e os pés do corpo para que não pudesse ser identificado.

A última vítima foi Margaret Docherty, uma mulher irlandesa de meia-idade, morta a 31 de outubro de 1828. Burke a atraiu para o alojamento alegando que a sua mãe também era uma Docherty da mesma região da Irlanda, então os dois seriam primos, e começaram a beber.
Margaret Docherty
A certa altura, Burke deixou Margaret na companhia da sua mulher, enquanto ele iria sair para, supostamente, comprar mais uísque, mas na verdade ele foi chamar Hare. Quando voltaram, o consumo de bebida continuou até à noite, em algum momento da noite eles assassinaram Margaret.

Burke e Hare não se desfizeram logo do corpo, e na manhã seguinte, dois outros hóspedes encontraram o corpo de Margaret. Ao saírem para chamarem a polícia a mulher de Burke tentou suborná-los com uma oferta de £10 por semana, mas eles recusaram.

Enquanto os hóspedes relatavam os acontecimentos à polícia, Burke e Hare levaram o corpo até Knox.

Durante a busca da polícia, encontrara as roupas ensanguentadas de Margaret escondidas debaixo da cama. Burke e a mulher deram vários horários para a saída de Margaret da casa, o que levantou suspeitas suficientes para a polícia levá-los para interrogatório.

Na manha seguinte, a polícia foi até às salas de dissecação de Knox, onde encontraram o corpo de Margaret. Um dos hóspedes que tinha feito queixa à polícia, James Gray, identificou o corpo. Hare e a sua mulher também foram presos, todos negaram qualquer conhecimento dos eventos.

No total, 16 pessoas foram assassinadas por Burke e Hare.

Burke afirmou mais tarde que ele e Hare estavam "geralmente em estado de embriaguez" quando os assassinatos aconteciam, e que "não conseguia dormir à noite sem uma garrafa de uísque ao lado da cama e uma vela para queimar duas vezes", quando ele acordava tomava a bebida, às vezes meia garrafa de uma vez e isso o fazia dormir. Também chegou a tomar ópio para aliviar a sua consciência.

A 3 de novembro de 1928, um mandado foi emitido para a detenção de Burke, Hare e as suas mulheres. Os quatro suspeitos foram mantidos separados e declarações foram feitas, estes contradiziam-se com as respostas iniciais dadas.

Depois que o Dr. Alexander Black, um cirurgião da polícia, examinou o corpo de Margaret, dois especialistas forenses foram nomeados, Robert Christison e William Newbigging, relataram que era provável que a vítima tivesse sido assassinada por sufocamento, mas não poderiam comprovar isso medicamente.
Médico forense Sir Robert Christison
Com base no relatório dos dois médicos forenses, os quatro foram acusados de assassinato. Como parte da sua investigação, Christison entrevistou Knox, que afirmou que Burke e Hare estavam em casas de alojamento pobres em Edimburgo e compravam os corpos antes que alguém os reivindicasse para o enterro.

Embora a polícia tivesse a certeza de que ocorreu um assassinato e que pelo menos um dos quatro era o culpado, eles não tinham a certeza se conseguiriam uma condenação, a polícia também suspeitou que houvessem outros assassinatos, mas a falta de corpos dificultou essa linha de investigação.

Como as notícias de outros possíveis homicídios chamou a atenção do público, os jornais começaram a publicar histórias escabrosas e imprecisas dos crimes, relatos especulativos levaram o público a assumir que todas as pessoas desaparecidas foram vítimas de Burke e Hare.

Então Janet Brown foi à polícia e identificou as roupas da amiga Mary Paterson, enquanto um padeiro local informava que as calças de Jamie Wilson estavam a ser usadas pelo filho de Burke. A 19 de novembro, é emitido um mandado de prisão para os quatro suspeitos pelo assassinato de Jamie Wilson.

O advogado Sir. William Rae, o Lord Avocate, seguiu uma técnica regular, concentrou-se num indivíduo para extrair uma confissão no qual os outros suspeitos poderiam ser condenados. Então a 1 de dezembro, ofereceu imunidade de acusação a Hare, caso ele revelasse a "prova do rei" e fornecesse todos os detalhes do assassinato de Margaret e de qualquer outro.

Como Hare não podia depor contra a sua mulher, ela também ficou isenta do processo. Hare fez uma confissão completa de todas as mortes e William Rae decidiu que existiam provas suficientes para garantir uma acusação.

A 4 de dezembro foram feitas as acusações formais contra William Burke e Helen McDougal pelos assassinatos de Mary Paterson, James Wilson e Margaret Docherty.

Knox não foi acusado pelos assassinatos porque a declaração de Burke à polícia ilibou o cirurgião.

O julgamento começou às 10 horas da manhã do dia 25 de dezembro de 1828, perante o Supremo Tribunal de Justiça, na Casa do Parlamento de Edimburgo. O caso foi ouvido pelo Lord Justice Clerk, David Boyle, apoiado pelos Lordes Meadowbank, Pitmilly e Mackenzie.
Lord Justice Clerk, David Boyle
O tribunal encheu assim que as portas abriram às 9 horas e uma grande multidão se reuniu do lado de fora da Casa do Parlamento. Estavam 300 polícias de plantão para evitar distúrbios, enquanto a infantaria e a cavalaria estavam em alerta também para o caso de serem precisos.

O caso passou pelo dia e noite até à manhã seguinte. No início da tarde, Burke e a mulher declararam-se inocentes do assassinato de Margaret Docherty. As primeiras testemunhas foram chamadas de uma lista de 55 que incluía Hare e Knox, nem todas as testemunhas da lista foram chamadas.

Um dos assistentes de Knox, David Paterson, que tinha sido a principal pessoa com quem Burke e Hare lidavam quando iam entregar os cadáveres a Knox, foi chamado e confirmou que a dupla tinha fornecido ao médico vários corpos.

No início da noite, Hare subiu ao banco para dar depoimento. Sob interrogatório sobre o assassinato de Margaret, Hare afirmou que Burke tinha sido o único assassino, embora ele tivesse ajudado Burke na entrega do corpo a Knox.

Após o interrogatório Hare, entrou para o banco de testemunhas a sua mulher, levava a sua filha ao colo que se encontrava com tosse convulsa. Margaret Hare usou os ataques de tosse da criança como forma para pensar em algumas respostas, e disse em tribunal que ela tinha uma memória muito fraca e não se conseguia lembrar de muitos detalhes.

As últimas testemunhas de acusação foram os dois médicos forenses, Christison e Black, ambos disseram que suspeitavam de crime, mas que não tinham provas forenses para apoiar a teoria de homicídio.

A promotoria resumiu o caso após as três horas da manhã, então o advogado de defesa de Burke iniciou a sua declaração final, que durou duas horas. O advogado de defesa de Helen iniciou o seu discurso no júri em nome da sua cliente às cinco horas da manhã.

O júri retirou-se para considerar o seu veredicto às 8h30 e voltou 50 minutos depois. O júri emitiu um veredicto de culpado contra Burke pelo assassinato de Margaret Docherty, já a mesma acusação para Helen McDougal não a provaram.

Quando o juiz, Boyle, leu a sentença de morte contra Burke disse: "O seu corpo deverá ser dissecado publicamente e anatomizado. E eu confio que, se é costume preservar esqueletos, então os seus serão preservados, com o objetivo de que na posterioridade se possa guardar na memória os seus crimes atrozes".

A mulher de Burke, Helen foi libertada no final do julgamento e voltou para casa. No dia seguinte, ela saiu para comprar uísque e foi confrontada por uma multidão que estava contra o veredicto de não comprovada a sua culpa. Então Helen foi levada para um prédio da polícia em Fountainbridge para a sua proteção. Helen fugiu por uma janela nas traseiras e foi até ao posto da polícia na High Street de Edimburgo, onde tentou ver o marido, mas não obteve permissão. Helen deixou Edimburgo no dia seguinte, e não existem relatos claros sobre a sua vida a partir daí.

A 16 de janeiro de 1829, uma petição em nome da mãe e da irmã de James Wilson, protestando contra a imunidade de Hare e a sua libertação, foi longamente considerada pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Margaret Hare viajou para Glasgow até obter uma passagem de volta para a Irlanda, a 19 de janeiro. Enquanto esperava pelo navio, foi reconhecida e atacada por uma multidão. Ficou abrigada no posto da polícia antes de receber uma escolta policial num navio em Belfast. Também não existem relatos claros do que lhe aconteceu depois que desembarcou na Irlanda.

William Burke foi enforcado na manhã de 28 de janeiro de 1829, perante uma multidão de possivelmente 25 mil pessoas, que assistiam nas janelas dos prédios em volta do cadafalso. A 1 de fevereiro, o seu corpo foi publicamente dissecado pelo professor Monro no teatro de anatomia do Old College da Universidade.
Execução de William Burke
A polícia teve de ser chamada quando um grande número de estudantes se reuniu para pedir para assistir à palestra para a qual o número limitado de bilhetes já estava esgotado. Uma pequena revolta se seguiu, a calma foi restaurada apenas depois de um dos professores da universidade ter negociado com a multidão que eles teriam permissão para passar pelo teatro em grupos de 50, após a dissecação. Durante o procedimento, que durou duas horas, Monro mergulho a sua pena no sangue de Burke e escreveu: "Isto está escrito com o sangue de Wm Burke, que foi enforcado em Edimburgo. Este sangue foi retirado da sua cabeça".

O esqueleto de Burke foi dado ao Museu de Anatomia da Escola de Medicina de Edimburgo, onde permanece atualmente. A sua máscara de morte e um livro que se diz estar amarrado com a sua pele bronzeada podem ser vistos no Museu do Salão dos Cirurgiões.
Esqueleto de William Burke no Museu de Anatomia da Escola de Medicina de Edimburgo
Hare foi libertado a 5 de fevereiro de 1829 e foi ajudado a deixar Edimburgo disfarçado. Numa das suas paragens, foi reconhecido por um companheiro de viagem, Erskine Douglas Standford, logo este informou os seus companheiros de viagem sobre a identidade de Hare.

Na chegada a Dumfries, a notícia da presença de Hare espalhou-se e uma grande multidão se reuniu na pousada onde ele estaria a passar a noite. A polícia chegou e criou um perímetro de segurança para que Hare escapasse por uma janela nas traseiras até uma carruagem que o levou para a prisão da cidade. Então uma multidão cercou o prédio, atiraram pedras a janelas e portas, até que chegaram 100 polícias especiais para restaurar a ordem.

Nas primeiras horas da manhã, Hare foi escoltado por um oficial da polícia e um guarda da milícia, foi levado para fora da cidade, colocado na estrada Annan e aconselhado a seguir para a fronteira inglesa. Depois deste acontecimento não se soube mais nada de Hare.

Knox recusou-se a fazer declarações públicas sobre a sua relação com Burke e Hare. O pensamento comum em Edimburgo era que ele também era culpado pelos acontecimentos. Knox foi ridicularizado em caricatura e, em fevereiro, uma multidão se reuniu do lado de fora da sua casa e queimou uma efígie dele.
Caricatura do Dr. Knox colhendo cadáveres
A comissão de inquérito limpou-o de cumplicidade e relataram que não tinham "visto nenhuma evidência de que o Dr. Knox ou os seus assistentes sabiam que assassinatos tinham sido cometidos na aquisição de qualquer dos corpos que lhes levaram".

Knox demitiu-se da sua posição e foi gradualmente afastado da vida universitária. Deixou Edimburgo em 1842 e deu aulas na Grã-Bretanha e na Europa continental.

Enquanto trabalhava em Londres caiu em desgraça com os regulamentos do Royal College of Surgeons e foi impedido de dar palestras. Foi excluído da Royal Society of Edinburgh em 1848. Desde 1856, trabalhou como anatomista patológico no Brompton Cancer Hospital e teve uma prática médica em Hackney até à sua morte em 1862.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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