A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida ao ser humano através das pulgas, ratos-pretos ou outros roedores.
Peste negra foi uma das mais devastadoras pandemias na história humana, resultando na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Europa e nos países asiáticos que faziam fronteira com a Europa.
Estima-se que tenha vitimado pelo menos um-terço da população em geral só no continente europeu, tendo sido o auge da peste entre os anos de 1346 e 1353.
A crença é que a praga se espalhou por causa do aumento da presença de ratos que transportavam as pulgas, portadoras da bactéria. Estudos recentes concluiu que existem grandes possibilidades de que as pulgas e piolhos teriam mordido humanos infetados, depois disso, as pulgas e piolhos passaram para outras pessoas que ficavam em ambientes fechados, transmitindo a doença numa velocidade alarmante.
Na época da praga da peste negra os conhecimentos científicos eram muito poucos. Muitas doenças eram vistas como obras do demónio. Para tratar os pacientes, os médicos da época baseavam-se em técnicas simples e nada sofisticadas. O sangramento, por exemplo, foi uma técnica para tentar curar a doença, outros tratamentos eram a queima de ervas aromáticas ou um banho com água de rosas ou vinagre, mas não eram nada eficazes.
Durante a epidemia as pessoas pensavam que a praga era um castigo pelos pecados cometidos, como a ganância, luxúria e blasfémia. Outros viam a doença como consequência do alinhamento das estrelas. Houve também a atribuição da doença aos judeus, que infelizmente foram massacrados entre 1348 e 1349.
Quando se apanhava a peste negra o tempo de vida dos pacientes era de apenas uma semana. Os sintomas eram:
- Febre alta de 40ºC, calafrios, vómitos e até convulsões;
- Caroços nas axilas e virilhas, que podiam adquirir cores esverdeadas e azuis - gangrena;
- Tosse com pus e sangue;
- Hemorragia em vários órgãos;
- Diarreia e náuseas;
- Inchaço dos gânglios, expectoração, delírio, dor de cabeça, falta de ar, etc.
Os sintomas da peste ocorriam poucos dias após a exposição à bactéria. Normalmente surgiam dois a cinco dias, mas há casos em que demoraram 12 dias. A maior parte das mortes ocorria entre o terceiro e o quinto dia após o surgimento dos sintomas.
Uma das medidas para tratar da doença era a quarentena, que realmente ajudou. As cidades que usaram este método na Idade Média conseguiram manter a doença ausente. Outras estratégias que funcionaram foram o controlo das fronteiras nos portos e acesso às cidades, passaportes de saúde individuais.
Dos 140 monges de um convento em Montpellier, na França, apenas sete sobreviveram. O medo do contágio era tanto que o Papa acabou por suspender a extrema unção dos doentes.
Relatos da época mostram que a doença foi tão grave e fez tantas vítimas que faltavam caixões e espaço nos cemitérios para enterrar os mortos e na maioria das vezes eram queimados.
O preconceito com a doença era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados, pela própria família, nas florestas ou em locais afastados.
O mais famoso cirurgião da época, médico do Papa Clemente VI, Chauliac sobreviveu à peste e deixou o seu testemunho:
"A grande mortandade teve início em Avinhão em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias. Decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra. O pai não ia ver o seu filho nem o filho ia ver o seu pai, a caridade desaparecera por completo". E continua: "Não se sabia qual a causa desta grande mortandade. Em alguns lugares pensava-se que os judeus haviam envenenado o mundo e por isso os mataram."
Muitos médicos aceitavam atender os doentes com risco para a própria vida. Adotavam por isso roupas e máscaras especiais. Alguns evitavam aproximar-se dos doentes, prescreviam à distância e lancetavam (cortavam) as bolhas com facas de até 1,80 m de comprimento para evitar a proximidade.
Vestes do médico quando tratava da Peste Negra |
Em Portugal, a peste chegou no outono de 1348. Matou entre um-terço a metade da população, segundo as estimativas mais credíveis, levando a nação ao caos.
Um dos efeitos indiretos da peste em Portugal seria a revolução após o reinado de D. Fernando I - Crise de 1383-1385. Este interregno mais que uma guerra civil pela escolha de um novo rei, terá antes sido a luta da nova classe de pequena nobreza e burguesia que subira a escada social aproveitando as oportunidades após os desequilíbrios sociais provocados pela peste, contra o "antigo regime" desacreditando, a enfraquecida alta nobreza que presidira à catástrofe e cujos titulares, nascidos e criados nos anos da doença, não terão adquirido as capacidades necessárias à governação eficaz.
A peste, que nunca tinha existido antes na Península Ibérica, voltou a Portugal várias vezes até ao fim do séc. XVII, ou seja sempre que nasciam suficientes novos hóspedes não imunes. Nenhuma foi tão devastadora como a primeira, mas a Grande Peste de Lisboa de 1569 terá matado 600 pessoas por dia, ao todo 60 mil habitantes da cidade terão morrido.
A última grande epidemia foi em 1650. No entanto, no seguimento da terceira pandemia a peste foi importada para o Porto em 1899 do Oriente. A epidemia do Porto foi estudada por Ricardo Jorge, que instituiu as medidas de Saúde Pública necessárias, e que a conseguiram limitar.
Médico Ricardo de Almeida Jorge |
Uma das últimas grandes epidemias da peste negra ocorreu na Índia e em alguns países da Ásia, no final do séc. XIX e início do séc. XX, matando cerca de 11 milhões de pessoas.
Mas a peste negra não foi a primeira epidemia a atingir a Europa. No séc. VI, ocorreu a praga de Justiniano. A doença foi uma pandemia, ocorrida no reino de Justiniano I, causada pela peste bubónica e que afetou o mundo mediterrâneo, com maior incidência no império Bizantino entre os anos 541 e 544. A mesma matou cerca de 20 a 30 milhões de pessoas.
MZ
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