domingo, 10 de novembro de 2019

Czarina Alexandra Feodorovna - A Mulher Mais Odiada da Rússia

Czarina Alexandra Feodorovna
O seu nome de nascimento era Alice de Hesse e Reno. Nasceu a 6 de junho de 1872, em Darmstadt, no então Império Romano. Foi a sexta criança nascida do casamento de Luís IV, Grão-Duque de Hesse e Reno e da Princesa Alice do Reino Unido, pelo lado materno, era neta da Rainha Victoria I do Reino Unido.
Pais de Alexandra Feodorovna, Princesa Alice do Reino Unido e o Grão-Duque de Hesse e Reno
Foi batizada a 1 de julho de 1872 de acordo com os rituais da Igreja Luterana e recebeu os seus nomes em honra da mãe e das tias maternas. Embora a intenção da sua mãe fosse dar-lhe o nome inglês, na Alemanha, a princesa recebeu o nome de "Alix".

Numa carta à Rainha Victoria a sua mãe disse sobre ela que era uma menina doce e alegre. "Está sempre a rir-se e a mostrar uma covinha numa bochecha". Devido a esta alegria, recebeu a alcunha de Sunny.

Em novembro de 1878, a cidade foi atingida por uma onda de difteria. A própria Alice, as suas irmãs Victoria, Irene e May e o irmão Ernie foram atingidos. Enquanto as suas irmãs e irmão se recuperaram, a pequena May de 4 anos não resistiu, acabando por morrer. Entretanto, a sua mãe também ficou doente depois de cuidar do filho Ernie. Quando a pequena Alice tinha apenas seis anos de idade, a sua mãe morreu a 14 de dezembro de 1878.
Alexandra Feodorovna ainda em criança
A então Princesa Alice tornou-se muito próxima da sua avó materna, passando grande parte da sua infância no Reino Unido entre o Castelo de Balmoral, na Escócia, a Casa Osborne e a Ilha de Wright. Após a morte da sua mãe, Alice tornou-se amarga e solitária.

Em 1982, aos 20 anos, perdeu o seu pai e o seu irmão Ernie, sucedeu-o como Grão-Duque de Hesse e Reno.

Alice casou-se relativamente tarde tendo em conta a idade na época, pois tinha recusado casar-se com o Príncipe Albert Victor, Duque de Clarence, apesar da forte pressão familiar.
Príncipe Albert Victor, Duque de Clarence
Alice já estava apaixonada pelo futuro Czar da Rússia, cuja mãe dele era cunhada do seu tio, o Príncipe Eduardo e cujo tio, o Grão-Duque Sérgio Alexandrovich, era casado com a irmã mais velha de Alice, Isabel. Além disso, eram primos em segundo grau, uma vez que eram bisnetos da Princesa Guilhermina de Baden.

Alice e Nicolau conheceram-se em 1884, quando a irmã de Alice se casou com o tio de Nicolau, e quando Alice regressou à Rússia em 1889 o casal apaixonou-se.
Irmã de Alexandra Feodorovna, Isabel e o marido, tio de Nicolau, o Grão-Duque Sérgio Alexandrovich
No seu diário, Nicolau escreveu: "O meu sonho é um dia casar-me com a Alice. Já a amo há muito tempo, mas com mais sentimento e força desde 1889 quando ela passou seis semanas em São Petersburgo. Durante muito tempo resisti, mas sei que os meus sonhos se vão tornar realidade". Alice partilhava os mesmos sentimentos.

Inicialmente, o pai de Nicolau, Czar Alexandre III, rejeitou a perspetiva deste casamento. A sociedade atacava abertamente a Princesa Alice, mas não aprofundavam o assunto, uma vez que tinham a certeza de que o Czar e a sua esposa, Maria Feodorovna, eram totalmente antigermânicos e não tinham intenções de permitir uma união do seu filho com uma princesa alemã.

Apesar da Princesa Alice vir de boas famílias, era de conhecimento geral que Alexandre III estava a preparar um casamento filho com alguém de ainda maior importância para o seu filho e país. A ideia era a Princesa Helena, a filha de Luís Filipe, Conde de Paris, pretendente ao trono francês. Esta perspetiva de casamento com Helena não agradou a Nicolau e este escreveu no seu diário: "A mamã fez algumas referências à Helena, filha do Conde de Paris. Eu, pessoalmente, quero ir numa direção e é evidente que a mamã quer que escolha a outra".
Princesa Helena de Orleães
Helena também não concordou com o casamento, ela era católica e não estava disposta a mudar de religião. O Czar então decidiu enviar emissários até à Princesa Margarida da Prússia, filha do Kaiser Frederico III. Rapidamente Nicolau declarou que preferia tonar-se monge a casar-se com a aborrecida Margarida. Mas também Margarida não estava disposta abandonar a sua religião.
Princesa Margarida da Prússia
Alexandre III praticamente ignorou os pedidos do seu filho, sempre, até que a sua saúde começou a deteriorar-se em 1894. Alice levantou também dúvidas em relação ao facto de ter que abandonar a sua fé luterana, mas foi convencida por Nicolau e, por fim, converteu-se fervorosamente à Igreja Ortodoxa Russa.

Alice e Nicolau ficaram noivos em abril de 1894. Entretanto Alexandre III morre a 1 de novembro de 1894, o que fez com que Nicolau se tornasse "Czar de todas as Rússias" com apenas 26 anos de idade.
Nicolau e Alexandra em 1894
Alice então mudou o seu nome para Alexandra Feodorovna quando se converteu à Igreja Ortodoxa Russa.

Alexandra acompanhou a Família Imperial quando esta regressava a São Petersburgo com o corpo do Czar e diz-se que foi cumprimentada pelo povo da Rússia com sussuros que diziam "Ela chega-nos atrás de um caixão".

O casamento realizou-se a 26 de novembro de 1894, na capela do Palácio de Inverno, em São Petersburgo. Foi um casamento vitoriano, sereno e próprio, mas baseado num amor físico intenso e apaixonante.
Casamento do Czar Nicolau II e Alexandra Feodorovna
Alexandra escreveu à sua irmã sobre o seu dia de casamento: "Um dia no mais profundo luto, lamentando um ser querido (morte do pai de Nicolau II), no dia seguinte nas mais luxuosas roupas, casando-me. Não pode haver maior contraste (...) O nosso casamento pareceu a mera continuação das missas para o falecido, com a diferença de que então usei um vestido branco, em vez de preto".

Nicolau e Alexandra ficaram chocados e o novo Czar declarou que não podia ir ao baile organizado pelo embaixador francês, Marquis da Montebello nessa noite. No entanto, os seus tios imploraram-lhe para o fazer, pois, caso contrário, ofenderia os franceses. Tragicamente, como aconteceria muitas vezes ao longo do seu reinado, Nicolau assentiu e foi ao baile com a sua mulher.

Foi uma noite dolorosa. "A Czarina apareceu em grande angústia, com os olhos avermelhados das lágrimas" escreveu o embaixador britânico à rainha Victoria. Muitos russos mais supersticiosos, viram o desastre do Campo Khodynka como um presságio de que o reinado seria infeliz.

Outros, mais sofisticados e vingativos, usaram a tragédia para expor a falta de humanismo da autocracia e a completa superficialidade do jovem Czar e da sua "mulher alemã".

Alexandra era odiada na Corte e pelo povo russo. Quando apareceu pela primeira vez, era calada, de aparência fria, arrogante e indiferente. Ficou magoada com a receção pouco entusiasta que recebeu e afirmou estar cansada da perda de morais e etiqueta da corte russa.

Alexandra era chamada de petulante e aborrecida, provincial, enfastiante e convencida e tanto a nova Czarina como a Corte viviam em constante conflito.

Alexandra fez poucas tentativas para fazer laços de amizade com os outros membros da família Romanov e, regra geral, frequentava o menor número de ocasiões da Corte possível.

Era comparada negativamente com a mãe do Czar, Maria Feodorovna, filha do Rei Cristiano IX da Dinamarca. Na Rússia, Maria Feodorovna, ofuscava a sua nora, ao contrário do que acontecia na maioria das cortes europeias.
Maria Feodorovna
A atitude teimosa de Alexandra não lhe permitia que aprendesse nada com a sua experiente sogra, que a poderia ter ajudado muito. Maria Feodorovna tinha vivido na Rússia durante 17 anos antes de subir ao trono, enquanto que Alexandra tinha passado pouco mais de um mês no país antes de se casar.

Maria Feodorovna acusava a nora de afastar o Nicolau do convívio com a família e que era bastante possessiva. Alexandra, por sua vez, ressentia-se porque a mãe de Nicolau lhe recusava a posse das jóias da Imperatriz da Rússia, que agora eram suas por direito. O clima entre as duas ficou um pouco mais ameno após o nascimento da primeira filha do casal, Olga a 15 de novembro de 1895.

A notícia da vinda de uma filha em vez de um filho foi recebida com algum desapontamento pela população e por alguns membros da Família Imperial. Nicolau, porém, não apresentou sinais de desgosto, uma vez que ele e a sua esposa ainda eram novos e a criança era perfeitamente saudável.

Alexandra Feodorovna tornou-se Czarina da Rússia no dia do seu casamento, no entanto, a coroação oficial aconteceu no dia 14 de maio de 1896, no interior do Kremlin de Moscovo.

A 15 de maio, a tragédia atingiu as celebrações da coroação, quando se tornaram conhecidas as mortes de vários milhares de pessoas. As vítimas morreram no Campo de Khodynka, em Moscovo quando pensaram que não haveria presentes comemorativos da coroação para todos. Quando a polícia chegou, o campo parecia um campo de batalha. Nessa tarde os hospitais da cidade estavam sobrelotados com feridos e todos sabiam o que tinha acontecido.
Campo de Khodynka, em Moscovo - 1896
A tia de Alexandra, Victoria, disse numa carta à Rainha Victoria que "Alice é muito autoritária e insiste em ter tudo feito à maneira dela. Ela nunca vai conseguir manejar o poder que ela acha que tem..."

Alexandra engravidou novamente nos últimos meses de 1896, mas a criança era novamente uma menina, nascida a 10 de junho de 1897, de nome Tatiana. A 26 de junho de 1899 nasceu Maria e dois anos depois a 18 de junho, nasceu a última filha do casal Anastasia. Com quatro raparigas e nenhum rapaz, muitos chegaram a colocar a hipótese de Nicolau se separar da sua mulher, na esperança de que um novo casamento pudesse lhe trazer o tão desejado herdeiro, Alexandra perante estes rumores retraia-se ainda mais.

Muito da responsabilidade pelo insucesso em gerar uma criança do sexo masculino recaía sobre os ombros de Alexandra. A ausência de um filho tornava-a menos querida pela população. Médicos e místicos eram consultados, na esperança de que pudessem revelar algum segredo para se ter meninos.

Os mais diversos tratamentos foram tentados, mas nenhum deu resultado. A pressão para gerar um herdeiro consumiu Alexandra durante os seus primeiros anos na Corte russa. Quando finalmente deu à luz um menino, a 12 de agosto de 1904, Alexei. Cedo percebeu-se que a criança era portadora da doença que atingia muitos dos descendentes da Rainha Victoria, a hemofilia.

Na época, que tinha esta doença poucos eram os que passavam dos 13 anos de idade. Era uma doença ainda pouco conhecida e o seu tratamento era bastante rudimentar.

A partir de então a dinâmica da família mudou em função de Alexei. O mundo não poderia saber que o herdeiro do trono da Rússia era portador "da terrível enfermidade da família inglesa" como descreveu a Grã-Duquesa Xenia, irmã de Nicolau.
Alexandra com o Czar Nicolau II e todos os seus filhos ainda pequenos
A manutenção desse segredo acabou por consumir o resto das forças da Czarina. Por dez anos, desde que chegou à Rússia, Alexandra e Nicolau esperaram pelo nascimento de um filho. Agora que esse filho finalmente chegou, trazia consigo a hemofilia. Para os mais íntimos, que sabiam da condição da criança, Alexandra responsabilizava-se pela transmissão da doença.
Alexandra Feodorovna e Alexei
Foi cada vez mais se ausentando da vida pública para cuidar de Alexei. O quase desaparecimento de Alexandra dos eventos ao lado do marido e das filhas levava à criação de rumores. Além disso, às vezes era acometida de fortes dores no nervo ciático, a ponto de ficar dias recolhida  ou se movendo com uma cadeira de rodas.
Alexandra Feodorovna e Alexei
Neste contexto surge a figura de Rasputin, um místico que passou a ter muita influencia sobre a Czarina. O que fazia Rasputin no Palácio Alexandre, em horas tão impróprias? A imprensa se questionava qual era a razão das visitas do místico junto da Família Imperial.
Grigori Rasputin
Entretanto, o que poucos sabiam era que a presença de Rasputin estava estritamente ligada à enfermidade de Alexei. Alexandra acreditava que as orações de Rasputin tinham o poder miraculoso de estancar as crises de hemorragia que atormentavam o seu filho.

O povo e a Família Imperial, porém, não consideravam a associação de Alexandra àquele místico como algo apropriado. Membros do governo e jornais logo deram notícia dos escândalos sexuais envolvendo o nome de Rasputin. Mesmo assim, Nicolau recusava-se a bani-lo da convivência da família.

Ninguém negava a influencia que Rasputin tinha sobre Alexandra e a imprensa revolucionária não tardou a inventar uma série de boatos, nos quais Alexandra e Rasputin eram amantes, afirmação essa que ganhou maior força com a publicação de algumas das cartas trocadas entre ambos.
Panfleto espalhado pelas ruas da Rússia insinuando que haveria uma relação amorosa entre a Czarina Alexandra e Rasputin
Alexandra era fervorosamente protetora do papel do seu marido como Czar e apoiava ativamente o seu direito de governar de forma autocrática. Ela defendia o seu direito divino e acreditava ser desnecessário pensar na aprovação de outras pessoas.

Em 1914 a Rússia entra na Primeira Guerra Mundial ao lado da Inglaterra e da França, a Czarina e Rasputin tornaram-se as figuras mais odiadas do país. A imprensa estrangeira chegou a compara-la a Maria Antonieta, chamando Alexandra pejorativamente de "a alemã", assim como a esposa de Luís XVI era chamada de "a austríaca" pelos franceses do final do séc. XVIII.

A intromissão de Rasputin nos negócios do Estado chocou muitos primos de Nicolau, que lhe escreviam abertamente para afastar Rasputin e Alexandra de quaisquer decisões do governo.

Muito se tem argumentado sobre a participação da Czarina na queda da dinastia Romanov, ocorrida em fevereiro de 1917. É de realçar que Alexandra não foi educada para governar, nem sequer para ocupar o papel de Imperatriz Consorte da Rússia. O seu estilo de vida recolhido, dentro de uma autocracia que sobrevivia do cerimonial público, aos quais ela pouco comparecia, certamente contribuiu para o seu desprestígio junto da população.

Desabituada com toda aquela pompa da Corte Russa, a sua timidez foi tomada por arrogância. Eles a queriam feliz, quando a pressão por gerar um herdeiro e depois a doença do filho a tornaram triste. O povo esperava que a esposa do Czar fosse uma mulher energética, mas as fortes dores que sofria no nervo ciático a deixaram dependente de uma cadeira de rodas.

Alexandra não era uma bruxa má, como pintavam alguns jornais revolucionários, embora fosse incompatível aos anseios de um povo que ela nunca chegou a compreender totalmente. A sua participação como enfermeira durante a Primeira Guerra Mundial passou-lhe a falsa sensação de que o conhecia e que "os verdadeiros russos amavam o seu paizinho (o Czar)".

Com a sua família Alexandra era diferente, o quarto de brincar das crianças ficava por cima do "Mauve Boudoir" de Alexandra no Palácio de Alexandre. De manhã, Alexandra podia encostar-se no seu sofá e ouvir os passos dos filhos e o som dos seus pianos. Um elevador e uma escadaria privados levavam diretamente aos quartos do andar superior. Para o povo russo, Alexandra era uma alemã fria que não conseguia ver a necessidade daqueles que a rodeavam a não ser que fossem da família e, até certo ponto, tinham razão.

A Czarina, assim como o seu marido, era muito dedicada à sua família. Desde a sua infância que tinha sido muito tímida, uma característica que partilhava com a sua avó Victoria. Odiava aparições públicas e as evitava, aparecendo apenas quando era absolutamente necessário. Alexandra preferia retirar-se, oferecendo o protagonismo à sua sogra.

Por vezes, Alexandra tinha dificuldades com a sua filha mais velha, Olga, talvez devido ao facto de esta ser mais próxima do seu pai. Olga era tímida e submissa e impressionava as pessoas com a sua bondade, inocência e força dos seus sentimentos privados. Quando ficou mais velha, Olga lia muito, tanto ficção como poesia, levando muitas vezes livros da sua mãe antes de ela os ler.
Alexandra Feodorovna com as filhas Olga e Maria
Alexandra era mais próxima da sua segunda filha, Tatiana. Tanto em público como em privado, Tatiana rodeava a sua mãe de atenção. Durante os últimos meses de vida da família, Tatiana ajudava a sua mãe a locomover-se, passeava pela casa na sua cadeira-de-rodas e tentava animá-la.
Tatiana e a mãe, Alexandra Feodorovna
A filha Maria gostava muito de falar sobre casamentos e filhos. O Czar achava que ela daria uma esposa excelente. Maria era vista como um anjo da família.

Anastasia, a filha mais nova e a mais famosa, era conhecida como shvibzik (PT: "diabrete"), ela subia às árvores e recusava-se a descer a não ser que fosse especialmente mandada pelo seu pai. A sua tia e madrinha, a Grã-Duquesa Olga Alexandrovna, recordou mais tarde uma ocasião em que Anastasia estava a falar de forma tão mal educada que teve de lhe dar um estalo.
Alexandra Feodorovna e a filha Anastasia
Quando eram pequenas, Alexandra vestia as filhas aos pares, as duas mais velhas e as duas mais novas usavam vestidos iguais.

Quando Olga e Tatiana cresceram, começaram a ter mais protagonismo em aparições públicas. Apesar de, em privado, tratarem os pais por "Mamã" e "Papá", em público, os seus filhos tratavam-nos por "Imperador" e "Imperatriz".

Alexandra adorava as suas filhas, no entanto, a Czarina centrava todas as suas atenções no seu único filho, Alexei. Ela era totalmente devota ao filho. O tutor das crianças, Pierre Gillard, escreveu: "O Alexei era o centro desta família unida, o centro de todas as esperanças e afetos. As irmãs dele veneravam-no. Ele era o orgulho e alegria dos pais. Quando ele estava bem, o palácio transformava-se.
Alexandra Feodorovna com o filho Alexei
Tendo de viver com o conhecimento de que lhe tinha transmitido a doença sanguínea, Alexandra vivia obcecada com a ideia de proteger o filho e mantinha sempre um olho em cima dele o tempo todo, consultando um grande número de médicos até se virar para o misticismo com Rasputin. Alexandra mimava o seu filho e deixava que ele fizesse tudo o que quisesse. Parecia que lhe prestava mais atenção do que a qualquer uma das suas quatro filhas.

Quando o grave estado de saúde de Alexei foi finalmente anunciada ao público em 1912, Alexandra tornou-se numa figura ainda mais odiada entre o seu povo.

A grave situação politica e económica da Rússia acabou por resultar na Revolução de Fevereiro de 1917. Num esforço de pôr fim aos eventos que se desenrolavam na capital, Nicolau tentou chegar a São Petersburgo de comboio, no entanto o seu caminho foi bloqueado em Pskov onde, depois de ser aconselhado por todos os seus generais, abdicou por si e pelo seu filho Alexei

Alexandra ficou então numa situação perigosa, como esposa do Czar deposto, odiada pelo povo russo. Nicolau recebeu finalmente a autorização para regressar ao Palácio de Alexandre em Tsarskoye Selo onde ficou sob prisão domiciliária juntamente com a sua família.

Apesar de ser primo tanto de Alexandra como de Nicolau, o Rei Jorge V do Reino Unido recusou-se a deixar a família ser evacuada para o seu país, uma vez que tinha receio da má fama da família no seu país e a que a sua presença pudesse ter repercussões no seu trono.

O governo provisório, formado depois da revolução, manteve Nicolau, Alexandra e os seus filhos limitados à sua residência no Palácio de Alexandre., até serem levados para Tobolsk a 1 de agosto de 1917, uma decisão tomada pelo governo de Kerensky com o objetivo de manter a família afastada da capital e do perigo.

De Tobolsk, Alexandra conseguiu enviar uma carta à sua cunhada Xenia Alexandrovna que se encontrava na Crimeia: "Minha querida Xenia, os meus pensamentos estão contigo, imagino que, contigo, esteja tudo mágico, bom e bonito - tu és as flores. Mas é indescritível como tudo é doloroso aqui, não consigo explicar. Estou feliz por ti que estás novamente reunida com a tua família de quem tinhas sido separada. Gostaria de ver Olga (irmã do Czar que se casou durante o exílio da família) na sua nova felicidade. Todos estão saudáveis, mas eu, durante as últimas seis semanas, tenho tido dores insuportáveis na cara por causa do meu maxilar. Muito tormentoso... Nós vivemos tranquilamente. Estamos bem instalados apesar de Tobolsk ser, muito, muito longe de toda a gente, mas Deus é misericordioso. Ele dá-me força e consolo...".
Grã-Duquesa Xenia Alexandrovna
Alexandra e a sua família ficaram em Tobolsk até à Revolução de Outubro, mas acabaram por ser levados pelos bolcheviques para a cidade de Ecaterimburgo em abril de 1918. Alexandra e Nicolau acabaram por fazer a viagem em primeiro lugar com a sua filha Maria e chegaram à Casa Ipatiev no dia 30 de abril de 1918.

Quando entraram na nova prisão, foi-lhes ordenado que abrissem a sua bagagem. Alexandra protestou imediatamente. Nicolau tentou defendê-la afirmando: "Até agora temos sido tratados educadamente por homens que eram cavalheiros, mas agora...". O antigo Czar foi rapidamente interrompido e informado pelos guardas de que já não se encontrava em Czarskoe Selo.

Qualquer recusa ao cumprimento das regras resultaria na sua separação do resto da família, uma segunda ofensa seria recompensada com trabalho pesado e, partir daí, a sentença seria a morte. Temendo pela segurança do marido, Alexandra desistiu rapidamente e permitiu que a revistassem.

Na parede daquele que seria o seu último quarto, Alexandra desenhou uma suástica, o seu símbolo preferido de boa sorte e escreveu debaixo a data 17 de abril (segundo o calendário que eles seguiam) que era 30 de abril de 1918. Em maio, o resto da família chegou a Ecaterimburgo. Alexandra ficou feliz por ter a sua família novamente junta.

Em Ecaterimburgo, haviam 75 homens a guardar constantemente a Casa Ipatiev. Muitos deles eram trabalhadores de fábricas locais. O comandante da casa, Alexandre Avdeyev foi descrito como um verdadeiro bolchevique. Se lhe chegasse qualquer tipo de pedido por parte da família, a resposta era sempre: "Eles que vão para o Inferno!" Os guardas da casa ouviram-no referir-se muitas vezes ao antigo Czar como "Nicolau, o bebedor de sangue" e a Alexandra como "A Cabra Alemã".
Casa Ipatiev
Para os Romanov, a vida na Casa Ipatiev era um pesadelo de incerteza e medo. A família nunca soube se iria lá continuar no dia seguinte, se seriam separados ou até mortos. Os privilégios que lhes eram permitidos eram poucos. Durante uma hora, à tarde, podiam fazer exercício no jardim sempre sob a vigilância dos guardas.

Alexei ainda não conseguia andar desde o último ataque da hemofilia, por isso era o seu marinheiro Nagorny que o transportava. Alexandra raramente se juntava à família nestas atividades. Em vez disso passava a maior parte do tempo sentada na cadeira-de-rodas a ler a Bíblia ou a ler livros de São Serafim.
Alexandra Feodorovna na sua cadeira-de-rodas
À noite jogavam cartas ou liam. Recebiam muito pouco correio e os únicos jornais permitidos eram edições já ultrapassadas.

No dia 4 de julho de 1918, Yakov Yurovsky, o chefe da Tcheca de Ecaterimburgo, foi nomeado comandante da Casa Ipatiev. Rapidamente apertou a segurança, recolheu todas as jóias e valores da família e guardou-as numa caixa fechada. Alexandra apenas ficou com duas pulseiras que lhe tinham sido oferecidas pelo seu tio Leopoldo, quando ela era criança e que não conseguia tirar. Yurovsky não sabia que Alexandra e as suas filhas tinham cosido as suas jóias pessoais nos seus corpetes e almofadas. Estas apenas seriam descobertas após o assassinato.
Yakov Yurovsky
Os antigos Czares e toda a sua família, incluindo Alexei, gravemente doente, bem como alguns dos seus criados leais, foram executados pelos bolcheviques na cave da Casa Ipatiev na madrugada de 17 de julho de 1918.

Alexandra Feodorovna morreu aos 46 anos de idade. Encontra-se sepultada na Fortaleza de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, na Rússia.

Em 2000, Alexandra e a sua família foram canonizados como Portadores da Paixão pela Igreja Ortodoxa Russa. A família foi anteriormente canonizada em 1981 pela Igreja Ortodoxa Russa no exterior como neomártires. Os corpos do Czar Nicolau II, da Czarina Alexandra e de três filhas foram finalmente enterrados na Catedral de São Pedro e Paulo a 17 de julho de 1998, 80 anos após o seu assassinato.
Assinatura de Alexandra Feodorovna

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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