sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Navio dos Prazeres do Imperador Calígula

Imagem: Navio do Imperador Calígula, em 1932 - Fonte: Bastidores da História

Na imagem pode-se ver os italianos a observarem os restos do que foi o navio do Imperador Calígula, em 1932.

Os restos do navio foram recuperados 2 mil anos depois, em 1929, mas foram perdidos novamente durante a Segunda Guerra Mundial

Há mais de 2 mil anos atrás, o Imperador Calígula ordenou a construção de duas grandes barcaças flutuantes para ficarem estacionadas no pequeno lago Nemi, com o objetivo de serem usados como locais de rituais e prazeres mundanos.

Um dos navios seria um templo flutuante à Deusa Diana, com colunas de mármore, piso de mosaico e azulejos de bronze dourados.

A outra embarcação era uma espécie de palácio flutuante projetado especialmente para o Imperador, que incluía salas de banhos com água quente e aquecimento interno. Era decorado com pisos de mosaicos, com detalhes de pedras preciosas, estátuas, colunas de mármores, telhas de cobre dourado e jardins com árvores de fruto.

Um estaleiro foi construído nas proximidades do lago e os melhores engenheiros da época participaram na elaboração e construção das embarcações.

A tecnologia de construção foi a mais avançada. Uma característica especial era uma série de cabeças de animais feitas de bronze com grandes argolas, pequenas embarcações eram amarradas nessas argolas, nas quais o Imperador chegava acompanhado dos amigos.

Os navios feitos para serem ancorados no local, não tinham meios de propulsão, como velas, embora tivessem grandes estações de remos longos que eram usados para guiar os navios.

Os navios foram equipados com muitos detalhes de uma técnica elaborada, como âncoras com hastes móveis, bombas e válvulas para bombeamento de água, e até mesmo um sistema de rolamentos de esferas feitos de bronze atravessados por pequenos eixos do mesmo metal, talvez uma base giratória de uma estátua ou outra maquinaria.

Apesar do enorme custo para serem construídos, estes navios foram usados por um breve período, provavelmente um ano ou dois, antes do fim do reinado de quatro anos de Calígula.

Calígula foi assassinado no seu palácio no Monte Palatino, em Roma, pelos seus guardas. Uma aliança entre a Guarda Pretoriana, senadores e cortesãs em 41 d.C., conspiraram para a sua morte.

Os navios foram afundados intencionalmente, em águas rasas, a uma curta distância da área da costa onde foram construídos. 

Durante o período medieval, os pescadores locais usaram ganchos para puxar pedaços dos navios e pequenos artefactos que vendiam aos turistas.. A primeira tentativa de recuperar os navios foi encomendada pelo Papa Prospero Colonna, em 1444.

Construíram uma plataforma flutuante e mergulhadores especializados vindos de Génova foram enviados até aos destroços no fundo do lago. Mas os navios eram grandes demais para serem trazidos à superfície. Tudo o que conseguiram foi arrancar algumas tábuas e alguns tubos de chumbo.

A segunda tentativa deu-se em 1535, pelo senador Francesco de Marchi. Ele pessoalmente mergulhou no lago usando um sino de mergulho e recuperou muitos objetos de mármore, bronze, cobre e chumbo. Muitos pedaços de madeira que trouxe, foram esculpidos e viraram bengalas e caixas decorativas.

Séculos depois, em 1827, fez-se mais uma tentativa, com Annesio Fusoni como protagonista. Annesio e a sua equipa conseguiram extrair várias peças, como mosaicos, pedaços de colunas e tubos de terracota. Quando tentaram extrair pedaços maiores através de um gancho e cordas, o equipamento partiu-se.

Devido ao mau tempo, os trabalhos não foram concluídos e, infelizmente, esta aventura causou mais danos do que a passagem do tempo em si e se tivesse sido continuado, o navio inteiro teria sido cortado peça por peça. Além disso, os objetos recuperados desapareceram sem deixar rasto.

Em 1885-89, o embaixador britânico na Itália, Lord Sayvayl, organizou uma expedição ao lago Nemi e tirou dos navios afundados os mais valiosos materiais. Com ganchos, quase todos os ornamentos de bronze, mosaico, jóias de ouro e mármore foram extraídos dos navios. Posteriormente, todos estes objetos tornaram-se propriedade de museus e coleções particulares britânicos.

Em 1895, Eliseo Borghi iniciou uma investigação sistemática na área. Desta vez, os resultados foram melhores, um dos navios foi localizado, a cabeça de um dos lemes e várias esculturas de animais em bronze foram recuperadas.

30 anos depois, com a audácia do ditador italiano, Benito Mussolini, tenta-se recuperar os navios. Mussolini ordenou que todo o lago Nemi fosse drenado para que os navios pudessem ser recuperados.

Os engenheiros demoraram dois anos para reativarem um antigo canal romano de água subterrânea, com mais de 1600 metros que ligava Nemi ao lago Albano, no outro lado da montanha e de lá, até ao mar, a 23 km de distância e começaram a bombear a água.

Em março de 1929, quando a água atingiu o nível de 5,52 metros em relação ao nível original, as primeiras partes do primeiro navio surgiram das águas. Em junho de 1931, o segundo navio emergiu completamente das águas.

Os navios foram libertados da lama e cuidadosamente transportados para terra através de trilhos, onde foi utilizado um alcatrão vegetal diluído em solventes para proteger a madeira de se decompor com o ar. Um museu foi construído para abrigá-los e inaugurado em 1936.

Na noite de 31 de maio de 1944, menos de quatro anos após a Itália entrar na Segunda Guerra Mundial, o museu e os dois navios foram incendiados. Não se sabe se os incêndios foram iniciados por causa dos bombardeamentos dos EUA ou incêndio criminoso pelas tropas alemãs em retirada perante os avanços dos aliados em direção a Roma. Ambas as partes culpam a outra.

Os navios foram quase totalmente destruídos. Apenas alguns bronzes e materiais que foram transferidos para museus em Roma é que não foram afetados pela guerra.

Atualmente, apenas réplicas em escala dos navios, e artefactos sobreviventes existem no Museu Nacional dos Navios Romanos, nas margens do lago Nemi.



Fonte: Bastidores da História | Maguns Mundi


MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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