sexta-feira, 26 de junho de 2020

Assassina Amelia Dyer

Amelia Dyer após a sua prisão, em 1896
Fonte: Wikipédia
Amelia Elizabeth Dyer, nascida em 1837, foi uma das maiores assassinas em série de toda a história.

Ao contrário do que se passava com a maioria das pessoas daquela altura, principalmente com as mulheres, Amelia aprendeu a ler e a escrever e desenvolveu uma paixão por literatura e poesia.

No entanto, a sua infância foi marcada pela doença mental da sua mãe, causada por febre tifóide. Amelia testemunhou as atitudes violentas da sua mãe e foi obrigada a tomar conta dela até morrer, delirante, em 1848.

Depois da morte da sua mãe, passou a viver com uma tia em Bristol durante uns tempos, antes de ser aprendiz de uma fabricante de espartilhos.

O seu pai morreu em 1859. O seu irmão mais velho, Thomas, herdou o negócio de sapatos da família. Em 1861, aos 24 anos, Amelia ficou permanentemente distanciada de, pelo menos, um dos irmãos, James, e mudou-se para Trinity Street, Bristol.

Então, casou-se com George Thomas. George tinha 59 aos e ambos mentiram sobre a sua idade na certidão de casamento de forma a reduzir a diferença de idades. George tirou 11 anos à sua idade e Amelia adicionou seis anos.

Depois de se casar, Amelia estudou enfermagem. Através de uma parteira, Ellen Dane, aprendeu uma forma simples de viver a vida - usando a sua própria casa para providenciar alojamento para mulheres jovens que tivessem concebido ilegitimamente e depois levar os bebés para adoção ou deixá-los morrer à fome ou por maus tratos.

Mulheres solteiras tinham que "desfazer" dos filhos, pois desde 1834, com o Ato da Emenda da Lei da Pobreza que retirou qualquer obrigação financeira dos pais de crianças ilegítimas, o que tornava impossível a criação destas crianças.

Isto leva à prática de venda de bebés onde indivíduos se dirigiam a agências de adoção ou orfanatos, em troca de pagamentos regulares ou únicos, com taxas das mães das crianças. Muitos negócios foram criados com o objetivo de cuidar de mães jovens até ao nascimento. As mães, consequentemente, deixavam os bebés não desejados, para serem tratados por enfermeiras.

A classe dos pais envolvidos era muitas vezes explorada com intenções financeiras: se um bebé tinha pais de bem que apenas pretendiam manter a gravidez em segredo, a taxa única podia ser de 80£. 50£ podiam ser negociados se o pai da criança quisesse apressar o procedimento. No entanto, era mais comum para estas jovens mães, cuja "imoralidade" impedia a aceitação era apenas cobrado 5£.

Cuidadores sem escrúpulos começaram a fazer os bebés passarem fome, para poupar dinheiro e até para apressar a morte. Bebés barulhentos ou exigentes eram sedados com álcool ou opiáceos. Godfrey's Cordial, conhecido como "Amigo da Mãe", era um xarope com ópio, era uma escolha frequente, mas existiam várias preparações semelhantes.

Muitas crianças morreram em resultado destas práticas. A morte por má nutrição resultava, mas o médico legista declarava a morte como "debilidade no nascimento" ou "falta de leite materno" ou simplesmente "morte pela fome".

Mães que resolveram reivindicar ou saber do estado dos seus filhos podiam, frequentemente, encontrar dificuldades, mas a maior parte estava simplesmente com demasiado medo ou envergonhadas para dizer à polícia sobre qualquer suspeita. Até as autoridades tiveram problemas em encontrar as crianças, dadas como desaparecidas.

Este era o mundo de Amelia. Amelia teve que deixar a enfermagem com o nascimento da sua filha, Ellen Thomas.

Em 1869, Amelia ficou viúva e precisava de dinheiro.

Amelia era, aparentemente, boa a fazer dinheiro com a venda de crianças, e apesar de tomar conta de mulheres grávidas, publicitou-se como enfermeira e adotava um bebé, em troa de um pagamento substancial e roupa para a criança. Nas suas publicidades e reuniões com clientes, ela garantia que era responsável, casada, e que providenciava uma casa segura e com amor para as crianças. Pouco depois de receber cada criança, matava-as, e ficava assim com os lucros.

Durante algum tempo, Amelia iludiu o interesse da polícia. Foi eventualmente apanhada em 1879 depois de um médico ter ficado com suspeitas sobre o número de mortes de crianças que estavam ao cuidado de Amelia.

No entanto, em vez de ser condenada por homicídio, foi condenada a seis meses de trabalho por negligência.

Depois da sua libertação, tentou reformar-se da enfermagem. Fez palestras em hospitais psiquiátricos sobre a sua, alegada, instabilidade mental e tendências suicidas, estas coincidiram sempre com alturas em que era conveniente para ela "desaparecer".

Em 1890, Amelia cuidou do bebé ilegítimo de uma governanta. Quando voltou para visitar a criança, a governanta ficou imediatamente com suspeitas e despiu o bebé para ver se tinha presente uma marca de nascença numa das suas ancas. Não tinha, e mais suspeitas pelas autoridades levaram a que Amelia tivesse, ou fingisse, um esgotamento nervoso. Amelia bebeu duas garrafas de láudano numa tentativa de suicídio, mas o seu abuso a longo prazo deu-lhe tolerância a produtos com ópio, e sobreviveu.

Inevitavelmente, voltou à venda de bebés, e aos assassinatos. Amelia percebeu a insensatez de envolver médicos para passarem certidões de óbito e começou a livrar-se dos corpos pessoalmente. A natureza precária e a atitude nas suas funções voltaram a atrair atenções indesejadas.

Amelia e a sua família mudavam-se com frequência para cidades diferentes para escaparem às suspeitas, permanecendo anónimas. Durante anos, Amelia usou vários nomes falsos.

Em 1893, Amelia foi libertada do seu compromisso final no asilo psiquiátrico de Wells. Ao contrário de anteriores "esgotamentos" esta foi a experiência mais desagradável e não voltou a entrar num asilo.

Em janeiro de 1896, Evelina Marmon, uma empregada de bar de 25 anos, deu à luz uma filha ilegítima, Doris, numa casa em Cheltenham. Rapidamente procurou ofertas de adoção e colocou um anúncio de "Miscelânea" do jornal Bristol Times & Mirror. Dizia apenas: "Precisa-se de mulher responsável para ficar com criança pequena". Evelina pretendia voltar a trabalhar e mais tarde recuperar a filha.

Por coincidência, junto do seu anúncio, estava um que dizia: "Casal casado sem família adotaria criança saudável, boa casa de campo. Temos 10£". Evelina respondeu a uma "Mrs. Harding", e poucos dias depois recebeu uma resposta de Amelia. De Oxford Road em Reading, "Mrs. Harding" escreveu que "seria do meu agrado ficar com a criança, uma a que pudesse chamar minha". Ela continuou: "Somos honestos, pessoas caseiras, em ótimas circunstâncias. Eu não quero uma criança por dinheiro, mas para conforto... Eu e o meu marido adoramos crianças. Não temos filhos nossos. Uma criança comigo teria uma boa casa e um amor de mãe".

Evelina pretendia pagar um valor mais baixo pela sua filha, mas "Mrs. Harding" insistiu em que o pagamento fosse feito em avançado. Evelina estava desesperada, portanto concordou em pagar 10£,e  uma semana mais tarde "Mrs. Harding" chegou a Cheltenham.

Evelina ficou surpresa pela idade avançada de Amelia, mas esta mostro-se afetuosa para com Doris. Evelina entregou a sua filha, uma caixa de cartão com roupas e as 10£. Ainda com receio de entregar a sua filha, Evelina acompanhou Amelia até à estação de Cheltenham, e depois até Gloucester.

Evelina voltou para casa e poucos dias depois recebeu uma carta de "Mrs. Harding" a dizer que estava tudo bem. Evelina respondeu de volta, mas não recebeu resposta.

Amelia não viajou para Reading, como disse a Evelina. Foi até ao número 76 de Mayo Road, Willesden, em Londres, onde estava a sua filha Polly de 23 anos. Lá, Amélia encontrou fita usada em vestidos, enrolou duas vezes em volta do pescoço da bebé e deu um nó. A morte não foi imediata.

Ambas as mulheres, alegadamente, ajudaram a envolver o corpo do bebé num guardanapo. Mantiveram algumas das roupas que Evelina lhes tinha dado, o resto foi penhorado. Então Amelia pagou a renda à senhoria e ainda lhe deu um par de botas de criança como presente para a filha desta.

No dia seguinte, 1 de abril de 1896, outra criança, chamada Harry Simmons, foi levada até Mayo Road. No entanto, não havia fita disponível, então retiraram a fita de Doris e usaram para estrangular o novo bebé de 13 meses.

A 2 de abril, ambos os corpos foram colocados num saco, juntamente com tijolos para adicionar peso. Amelia levou-os para Reading. Num determinado local que conhecia, perto de uma barragem, em Caversham Lock, largou o saco no rio Thames.

A 30 de março de 1896, sem Amelia saber, um saco foi retirado do rio por um barqueiro. Tinha o corpo de uma menina, mais tarde identificada como Helena Fry.

A polícia ao investigar fez uma descoberta importante, além de encontrar um rótulo da estação de Temple Meads, Bristol, usou análise microscópica do papel de embrulho, e decifrou um nome legível "Mrs. Thomas" e uma morada.

Estas provas foram suficientes para levar a polícia até Amelia Dyer, mas ainda não tinham provas suficientes para a ligar diretamente a qualquer crime.

Outras provas adicionais através das testemunhas, e informação obtida da polícia de Bristol, apenas serviriam para aumentar as suas preocupações. Então D.C. Anderson com o Sargento James, puseram a casa de Amelia sob vigilância.

A investigação sugeria que Amelia iria fugir se levantassem suspeitas. Os oficiais decidiram usar uma jovem mulher como isco, esperando que conseguissem um encontro com Amelia para discutir os seus serviços.

Amelia estava à espera que o novo cliente, o isco, ligasse, mas em vez disso encontrou os detetives à sua espera na sua porta.

A 3 de abril,a  polícia foi até à sua casa. Lá não encontraram restos mortais. Mas existiam várias provas, incluindo fita branca, telegramas sobre arranjos de adoção, recibos de penhores sobre roupas de crianças, recibos de publicidade e cartas das mães a perguntarem sobre o estado dos seus filhos.

A polícia calculou que nos meses anteriores, pelo menos 20 crianças tinham sido colocadas ao cuidado de "Mrs. Thomas" agora associada a Amelia Dyer. Também parecia que estava prestes a mudar de casa novamente, desta vez para Somerset.

Esta escala de homicídios levou a que se pensasse que Amelia, durante várias décadas, tenha morto cerca de 400 bebés e crianças, fazendo dela um dos assassinos mais intensos de sempre, assim como a mulher assassina com mais mortes.

Helena Fry, o bebé retirado do rio a 30 de março, foi dada a Amelia na estação de Temple Meads a 5 de março. Nessa mesma tarde, chegou a casa levando apenas um papel de embrulho castanho. Escondeu a embalagem na sua casa mas, depois de três semanas, o cheiro de decomposição levou-a a deitar o bebé ao rio. Como não colocou peso adequado no saco, este foi descoberto facilmente.

Amelia Dyer foi presa a 4 de abril e acusada de assassinato. O seu genro Arthur Palmer foi condenado de cumplicidade. Durante o mês de abril, o rio Thames foi revisto e mais seis corpos foram encontrados, incluindo Doris Marmon e Harry Simmons, as últimas vítimas de Amelia.

Cada bebé foi estrangulado com fita branca, que ela mais tarde disse à polícia "é como se distinge se é um dos meus". Onze dias depois de ter entregue a sua filha a Amelia, Evelina Marmon, cujo nome tinha surgido em objetos na posse de Amelia, identificou os restos da sua filha.

No inquérito sobre as mortes no início de maio, não foram encontradas provas que Mary Ann ou Arthur Palmer estivessem envolvidos com Amelia. Arthur foi absolvido no seguimento de uma confissão escrita por Amelia.

A 22 de maio de 1896, Amelia Dyer apareceu em Old Bailey e deu-se como culpada de homicídio, o de Doris Marmon.

A única defesa de Amelia era a insanidade: tinha estado num asilo duas vezes em Bristol. No entanto, a acusação argumentou com sucesso que as suas exibições de instabilidade mental tinham sido uma máscara para evitar suspeitas, ambos os assassinatos coincidiram com alturas em que Amelia estava consciente dos seus crimes.

Bastaram apenas quatro minutos e meio para o júri a dar como culpada.

Nos seus três meses na solitária, encheu cinco cadernos com a sua "sincera e final confissão". Foi visitada pelo capelão na noite anterior à sua execução e perguntado se tinha algo a confessar, ela então ofereceu-lhe os cadernos, dizendo: "isto é suficiente?".

Curiosamente, não se opôs a ser testemunha no julgamento de Polly por homicídio, determinado para uma semana depois da sua data de execução. No entanto, foi decidido que Amelia estaria já legalmente morta depois da sentença e portanto qualquer testemunho não seria válido. Portanto, a sua execução não foi adiada.

Na véspera da sua execução, Amelia soube que as queixas contra Polly tinham sido retiradas. Foi enforcada por James Billington na prisão de Newgate, numa quarta-feira, 10 de junho de 1896. Quando lhe pediram as suas últimas palavras apenas disse: "Não tenho nada a dizer."

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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