segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Elisa e Marcela - As Lésbicas que Enfrentaram a Igreja Católica para se Casarem

Marcela Gracia Ibeas e Elisa Sánchez Loriga no dia do seu casamento
Fonte: Observador.pt

Na década de 1880, Elisa Sánchez Loriga conheceu Marcela Gracia Ibeas no colégio, onde Elisa estudava e Marcela trabalhava, rapidamente se apaixonaram, numa altura em que este romance era um enorme tabu para a sociedade.

Começaram a viver uma hisória de amor, mesmo com todos os contras. Durante muito tempo, viveram juntas, no anonimato até que decidiram estabelecer a relação oficialmente no Estado, e consequentemente, na Igreja.

Tiveram que desenvolver uma estratégia para se poderem casar na Igreja. De facto, naquela época, relações entre pessoas do mesmo género ainda não eram reconhecidas, algo que só viria a acontecer no país (Espanha) em 1998.

No dia 8 de junho de 1901, Elisa vestiu-se como se fosse um "homem" e foi falar com o padre da região, pedindo que a batizasse. Disse que o seu nome era Mario, e que queria se converter. Dois dias depois, o mesmo jovem voltou a falar com o padre para pedir que o casasse com a rapariga com quem vivia há muitos anos, Marcela. O padre não desconfiou e, assim, aconteceu o primeiro, e único, casamento homossexual aprovado pela igreja.

Após o casamento, tiraram uma fotografia com José Sellier, um dos fotógrafos mais importantes da cidade. E voltaram a Dumbría, cidade onde Marcela trabalhou. Já na viagem, alguns passageiros descobriram que Mario era, na verdade Elisa.

Depois da exposição da farsa do casamento, o anonimato acabou. Assim, as pessoas da cidade começaram a interessar-se pela curiosa história, chamando até mesmo a atenção na imprensa.

O caso teve uma grande repercussão não só na Galiza, mas também em Madrid e na imprensa de outros países como França, Bélgica e Argentina.

Como tinham enganado a igreja ao se casarem como heterossexuais, as duas começaram a sofrer represálias da igreja, mas também da polícia. Eram perseguidas pela justiça espanhola, então decidiram fugir para o país natal de ambas. Dirigiram-se para a cidade do Porto, em Portugal, onde foram inocentadas dos crimes - Elisa por adulterar documentos e Marcela por encobrir o crime da amante.

Mesmo assim, Portugal enviou as duas mulheres de volta para a Espanha quando o país pediu as suas extradições. No entanto, pelo que se sabe, elas não voltaram para solo espanhol. Aproveitando a situação, fugiram para a Argentina, Elisa chegou em 1903 e Marcela pouco tempo depois, Ela, no entanto, estava acompanhada de uma criança, que tinha nascido em janeiro de 1902, apenas seis meses depois do casamento.

O mistério da criança nunca foi plenamente resolvido, assim como o destino das duas mulheres que foram as únicas a casarem-se na igreja católica.

Para o escritor Narciso Gabriel, existem duas possibilidades:
- "Marcela teria engravidado de um jovem da cidade e Elisa teria assumido o bebé. Ou, a segunda hipótese, que é a que eu mais gosto, mas reconheço que não tenho base para sustentá-la, é que poderia tratar-se de uma gravidez premeditada. Ou seja, Elisa e Marcela não se conformavam em se tornar marido e mulher sem terem filhos".

Mesmo depois da longa história, o final das duas provavelmente não foi feliz. Documentos históricos apontam que Elisa se casou novamente na Argentina, mas desta vez com um homem. Sobre Marcela, nada se sabe após a sua chegada à Argentina.

Segundo Narciso Gabriel, o casamento entre Elisa e o homem de origem dinamarquesa não deu certo. Ela não queria ter relações sexuais com ele, e, algum tempo depois, ele acabou por descobrir que ela era uma das protagonistas de um dos casamentos mais polémicos da Espanha. Então "denunciou a sua mulher e pediu a anulação do casamento. O juiz decidiu que Elisa, então Maria, deveria ser examinada por três médicos. A conclusão foi de de que ela era mulher e que o casamento era perfeitamente válido", afirmou Gabriel. Depois disso, as evidências de Elisa e Marcela praticamente desapareceram na história, não se sabe o que aconteceu com as duas mulheres.


Fonte: Aventuras na História | Observador.pt


MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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