quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Patrícia Douglas - Primeira Atriz a Denunciar uma Violação em Hollywood

 

Patrícia Douglas
Fonte: Memórias Cinematográficas

Patrícia Douglas, nascida a 24 de março de 1917, em Missouri, nos EUA, foi a primeira atriz a denunciar um crime sexual em Hollywood, no final da década de 1930.

Em meados de 1937, Patrícia foi convidada pela MGM para fazer um casting para um filme. No entanto, ao chegar ao local, a atriz e outras 120 mulheres que compareceram na audição foram obrigadas a vestir fantasias minúsculas e sensuais.

As jovens foram surpreendidas com a notícia que seriam levadas para uma festa regada a 500 caixas de whisky e muito champanhe. O evento, sediado pelo próprio estúdio, comemorava mais um bom ano. Segundo testemunhos, eram mais de 300 executivos e vendedores da MGM.

O que as jovens não sabiam, é que elas tinham sido contratadas para animar os homens presentes na festa. Segundo Patrícia, numa entrevista à Vanity Fair, em 2003, ela não sabia que era para uma festa, e que caso soubesse não teria ido.

No final do trabalho, todas receberam 7,50 dólares. Foram menos de 10 dólares para lidar com homens bêbados, que, de acordo, com um empregado ouvido pela Vanity Fair: "estavam a tentar violá-las" a noite toda.

Segundo a versão de Patrícia, num determinado momento da noite, David Ross, um dos empresários, tentou dançar com ela. Percebendo as segundas intenções, a jovem tentou fugir para a casa de banho, mas foi apanhada no caminho.

David Ross
Fonte: Wear Your Voice

Ross e um amigo seguraram a atriz e forçaram-na a beber uma garrafa de whisky inteira. Patrícia foi para a casa de banho, para vomitar. Patrícia, então, que David Ross a seguir até à casa de banho das senhoras.

David a arrastou até ao estacionamento, onde estava o seu carro, e a violou. Com gritos de "vou destruir-te" e "nunca mais respirarás", ele a espancou. Patrícia quase desmaiou e ele bateu-lhe no rosto e disse: "quero-te acordada, coopere!".

Um funcionário do estacionamento encontrou Patrícia nua, ferida, cambaleando, e chegou a ver Ross a fugir do local, por volta das 23h30.

Patrícia foi levada para o hospital da MGM, e o médico Edward Lindquist ordenou que as enfermeiras dessem um longo banho a Patrícia. Só depois, após apelos da atriz, fez um exame de corpo de delito, mas as provas da violência tinham sido providencialmente removidas por ordem do médico.

Um carro do estúdio levou-a a casa, e nenhuma queixa de violação foi aberta. A jovem também não teve nenhum contacto com policias, apenas recebeu a ordem de comparecer no dia seguinte na MGM, para receber os seus 7 dólares devidos.

Em casa, Patrícia desmaiou, acordando apenas 14 horas depois da violação. Com o descaso do estúdio, Patrícia pediu autorização da mãe, já que ela era menor de 21 anos, e fez queixa. A polícia registou o caso como "honra danificada", e Mannix a procurou, dizendo que ela poderia mover um processo, mas nunca mais atuaria em Hollywood.

Patrícia não se intimidou, e deu continuidade à sua queixa, que chamou a atenção da imprensa. Dois empregados aceitaram depor a favor da atriz. Oscar Buddin, o primeiro a falar declarou que "ouviu conversas sujas e viu as jovens se afastando porque os homens tentavam violá-las". Outro empregado, Henry Schulte disse que "a atitude dos homens foi muito rude, eles passavam as mãos sobre os corpos das meninas e as forçavam a beber".

O estúdio, por sua vez, demonstrou surpresa, mas não fez qualquer protocolo para ajudá-la. Muito pelo contrário, o agente da MGM fez de tudo para que as pessoas não acreditassem em Patrícia. Entre as tentativas, alegou que a jovem teria bebido demais na festa e que teria passado por uma "infeção urinária genital".

No julgamento, Patrícia Douglas recebeu uma foto com os agentes sentados na mesa, onde então ela reconheceu o seu agressor. Depois foi confirmada a identidade de David Ross. O agente de vendas declarou-se inocente, alegando ser "um bom homem cristão".

Das 120 meninas, apenas outras duas aceitaram depor a favor de Patrícia. A primeira foi Ginger Wyatt e a outra foi Paula Bromley, também ouvida no tribunal.

A estratégia da defesa foi de desacreditar a vítima. Lester Roth, advogado de Ross, chegou a apontar para Patrícia Douglas, e disse aos jurados: "olhem para ela! O que vocês acham que ela quer? E quem iria querer ela?".

A MGM providenciou algumas das jovens da festa para deporem contra Patrícia. Virgínia Lee disse que a festa foi um "caso alegre com muita diversão boa e limpa" e Grace Downs disse "que só lembrava da exuberância e refinamento". Já Sugar Geise disse que tinha visto Patrícia "embriagada, desmaiada, já no começo da festa".

Virgínia Lee (esquerda) | Sugar Geise (direita

Ao contrário de Patrícia, Gynger Wyatt e Paula Bromley, que tiveram as suas carreiras destruídas, Virgínia, Sugar e Grace receberam papéis significativos no estúdio nos meses seguintes.

O funcionário que socorreu Patrícia também foi promovido no estúdio, após negar o seu depoimento original.

Durante o julgamento, humilhada e desesperada, Patrícia chegou a tentar o suicídio, correndo para se atirar de uma janela do prédio, mas foi contida por polícias. Após meses de julgamento, David Ross foi inocentado, por faltas de provas.

A atriz ficou sem justiça e cresceu acompanhada daquele trauma. Segundo Patricia: "(Ross) arruinou a minha vida (...) Tirou toda a minha confiança. Nunca me apaixonei. Nunca tive um orgasmo. Fui uma zombie ambulante que deslizou pela vida".

Em 1993, o jornalista David Steen estava a escrever um livro sobre a morte da atriz Jean Harlow, que era editado pela ex-Primeira Dama Jacqueline Kennedy. Então deparou-se com o caso da atriz Patrícia Douglas nos jornais antigos, e foi estimulado por Jackie Kennedy a procurar Patrícia.

Encontrou-a 10 anos depois, e em 2007, lançou o documentário "Girl 27".


Patrícia Douglas não chegou a ver o documentário pronto, faleceu a 11 de novembro de 2003, em Las Vegas.



Fonte: Wikipédia | Aventuras na História | Memórias Cinematográficas


MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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