D. Amélia, Imperatriz do Brasil |
Filha do General Eugénio de Beauharnais e da Princesa Augusta da Baviera.
Pais de D. Amélia: General Eugénia de Beauharnais e a Princesa Augusta da Baviera |
Após a queda de Napoleão Bonaparte em 1814, o seu pai assumiu o título de Duque de Leuchtenberg, e fixou residência em Munique.
Depois da morte do seu pai a família ficou numa situação complicada, sem grandes perspetivas para o futuro. Embora fossem Nobres, o seu parentesco com o Napoleão não facilitava o seu deslocamento entre as Cortes e o reconhecimento da sua Nobreza.
A possibilidade de casar D. Amélia com o Imperador do Brasil, D. Pedro I (IV de Portugal) pareceu à sua mãe, a melhor alternativa para garantir à Casa de Leuchtenberg um estatuto régio.
Imperador D. Pedro I do Brasil (Rei D. Pedro IV de Portugal) |
Após a morte da primeira mulher de D. Pedro, D. Maria Leopoldina, em dezembro de 1826, D. Pedro incumbiu o Marquês de Barbacena de procurar por uma nova esposa na Europa.
D. Pedro tinha imposto quatro condições para aceitar uma nova mulher: deveria ser de bom nascimento, bela, virtuosa e culta. O que complicava as buscas pois não eram muitas as princesas disponíveis que satisfaziam todos os requisitos.
Além disso, a imagem de D. Pedro não era muito boa na Europa, devido à sua amante, a Marquesa de Santos, pois dificilmente alguma candidata deixaria as Cortes europeias para casar-se com alguém que tinha fama de infiel, assumindo também os cinco filhos do anterior casamento.
Após oito princesas terem recusado casamento com D. Pedro, então este baixou as expectativas passando apenas a procurar uma noiva "bela e virtuosa". Surgiu então a D. Amélia como uma boa possibilidade.
D. Amélia não tinha uma linhagem particularmente distinguida por parte da mãe, e o seu pai, enteado de Napoleão Bonaparte, em muitos lugares não tinha a sua Nobreza reconhecida justamente pelo ódio que o ex-Imperador francês suscitara na maioria da Europa.
D. Amélia era muito bela, alta, bem proporcionada, com um rosto delicado e bem alourados. O Marquês de Resende, foi enviado para confirmar a formosura da jovem, escreveu ao Imperador enchendo-a de elogias e disse que ela tinha "um ar de corpo como o que o pintor Correggio deu nos seus quadros à Rainha Sabá". Era, também, muito culta e sensível.
Então o casamento foi arranjado. A convenção matrimonial foi assinada na Inglaterra a 30 de maio de 1829, ratificada a 30 de junho em Munique, pela mãe e tutora da noiva. A 30 de julho, foi confirmado, no Brasil, o tratado do casamento de Sua Majestade com D. Amélia.
Ao confirmar-se o casamento, D. Pedro terminou definitivamente a sua ligação à Marquesa de Santos e instituiu, como prova de boas intenções, a Ordem da Rosa, cujo o lema é "Amor e Fidelidade".
A cerimónia do casamento, realizada por procuração em Munique, na capela do Palácio de Leuchtenberg, a 2 de agosto, foi singela, contando com poucos convidados, já que D. Amélia decidiu doar a um orfanato de Munique a doação enviada por D. Pedro para uma celebração faustosa.
D. Pedro foi representado pelo Marquês de Barbacena e D. Amélia tinha apenas 17 anos e o seu marido 30 anos.
A mãe da noiva preveniu-a das dificuldades pelas quais a filha passaria e providenciou que esta fosse preparada. Além de um bom dote e enxoval, aconselhou-a, recomendando que demonstrasse os seus sentimentos e deixasse de lado a timidez para não desestimular o marido, que fosse amorosa com os enteados e, sobretudo, se mantivesse fiel, como Imperatriz, aos interesses brasileiros.
A sua mãe incumbiu o cientista Carl Friedrich von Martius de, durante a sua viagem, instruí-la sobre a nação que governaria, e a Condessa de Itapagipe, de introduzi-la no conhecimento da personalidade do seu marido, da língua portuguesa e dos costumes da Corte brasileira.
Cientista Carl Friedrich von Martius |
D. Amélia chegou ao Rio de Janeiro, no Brasil, a 15 de outubro de 1829, na fragata Imperatriz, vinda de Ostende, na Bélgica, antes da data prevista.
Diz a tradição que ao saber que o navio se aproximava, D. Pedro embarcou num rebocador para encontrá-lo fora da barra, e ao ver que a beleza da esposa correspondia às suas expectativas, desfaleceu de emoção.
Acompanhavam-na a bordo o Marquês de Barbacena e a pequena Maria da Glória, filha de D. Pedro e futura D. Maria II de Portugal, também o irmão da noiva vinha na embarcação, Augusto de Beautharnais.
Pouco depois do primeiro encontro do casal, os filhos do primeiro casamento de D. Pedro conheceram a madrasta ainda no navio que a trouxera, para almoçarem todos juntos.
No dia seguinte, chovia com intensidade, D. Amélia desembarcou, sendo recebida com uma solene procissão. Em seguida dirigiu-se, com D. Pedro, à Capela Imperial para receberem as bênçãos nupciais.
D. Amélia deslumbrou todos com a sua beleza, realçada por um longo vestido branco e um manto bordado em prata, segundo a moda francesa. Depois da cerimónia houve uma celebração pública com fogos de artifício e a Corte foi servida com um grande banquete de Estado.
Cerimónia de casamento de D. Amélia e D. Pedro I do Brasil (IV de Portugal) - 1829 |
É apresentada formalmente como nova Imperatriz à Corte, em janeiro de 1930, com um baile em que todas as damas se vestiram de cor-de-rosa, a sua cor preferida. Apenas no dia seguinte, o casal iniciou a sua lua-de-mel, passando seis semanas na fazenda do Padre Correa, local onde futuramente se ergueria a cidade de Petrópolis.
Quando voltaram e D. Amélia se instalou no Palácio de São Cristóvão, percebeu a falta de protocolo que lá havia. D. Amélia impôs à Corte como língua oficial o francês e o cerimonial de uma Corte europeia. Procurou atualizar a moda e a culinária, redecorou o palácio e renovou os serviços de pesa e pratas, tentando refinar os costumes.
Segundo relatos, a relação de D. Amélia com os enteados foi muito positiva. Tendo cativado imediatamente o afeto do seu marido, pela sua bela aparência, seu bom senso e a sua gentileza no trato conseguiram o mesmo com as crianças.
D. Amélia também foi uma figura importante para resgatar a popularidade do seu marido e animá-lo num momento difícil do novo Império, mas o entusiasmo gerado pelo casamento entre a população durou pouco. A precariedade da situação económica e a turbulência política levaram a uma crise incontornável, e a 7 de abril de 1831 D. Pedro abdicou, deixando o trono para o seu filho, D. Pedro de Alcântara.
Após a abdicação voltaram à Europa, D. Améla seguiu com D. Pedro, agora com o titulo de Duques de Bragança, de navio para a Europa. D. Amélia estava grávida de três meses e terá sofrido muito com os enjoos.
Apresentação da abdicação de D. Pedro I, atrás deste encontrava-se sentada D. Amélia, com D. Pedro II ao colo |
Foi-lhes oferecido um palácio para que se acomodassem, mas a 20 de junho D. Pedro seguiu para Londres, deixando D. Amélia, à qual se reuniu a D. Maria da Glória no dia 23 de junho.
D. Amélia acabou por estabelecer residência em Paris, na França. No dia 30 de novembro de 1831, deu à luz a Princesa Maria Amélia de Bragança, a que viria a ser sua filha única.
D. Amélia com a sua única filha, D. Maria Amélia em 1840 |
D. Pedro expressou a sua felicidade numa carta que escreveu a D. Pedro II que dizia: "A Divina Providência quis diminuir a tristeza que sente o meu coração paterno pela separação de V.M.I. (Vossa Majestade Imperial) dando-me mais uma filha e, à V.M.I., mais uma irmã".
Enquanto isto, D. Pedro empreendia uma forte luta contra o seu irmão, D. Miguel I, pelo trono português, em nome da sua filha, D. Maria da Glória.
Com a notícia da vitória do Duque de Bragança em Lisboa, D. Amélia partiu com a sua filha e a enteada, D. Maria da Glória, para Portugal, chegando a Lisboa a 22 de setembro de 1833.
Com D. Miguel derrotado e exilado de Portugal, D. Pedro e a sua família estabeleceram-se inicialmente no Palácio do Ramalhão e, mais tarde, no Palácio Real de Queluz.
D. Pedro contraiu tuberculose e acabou por falecer a 24 de setembro de 1834. D. Amélia respeitou as disposições do testamento de D. Pedro, que desejava ter a sua filha ilegítima com a Marquesa de Santos, Maria Isabel, bem educada na Europa. D. Pedro também estipulara dotes para outros dos seus filhos ilegítimos, que foram concedidos às expensas da herança de D. Amélia e da sua própria filha.
D. Amélia não voltou a casar-se, mudou-se para o Palácio das Janelas Verdes e dedicou-se a obras de caridade e à educação da filha, que demonstrou possuir grande inteligência e interesse para a música, ocasionalmente visitavam a Baviera juntas.
Embora estando em território português, não eram consideradas parte da família real portuguesa. D. Amélia solicitou então ao governo brasileiro o reconhecimento dela e da sua filha como membros da família imperial brasileira, com direito a uma pensão, mas D. Pedro II ainda era menor de idade e o Brasil era governado por uma Regência, que temia uma possível influência da Imperatriz-viúva nos negócios de Estado, assim, recusou o reconhecimento como da filha de Princesa brasileira e proibiu-a e à sua mãe de irem ao Brasil.
Com a maioridade de D. Pedro II, que mantinha boas relações com elas, esta situação alterou-se e a 5 de julho de 1841, D. Amélia e a filha foram reconhecidas como membros da família imperial brasileira.
D. Pedro II Imperador do Brasil |
A filha de D. Amélia, D. Maria Amélia ficou noiva do Arquiduque Maximiliano da Áustria no início de 1852, no entanto a Princesa começou a mostrar sintomas de tuberculose, o que levou que se mudasse com a sua mãe para o Funchal, na Ilha da Madeira, chegando a 31 de agosto.
Porém, a Princesa não resistiu e morreu aos 22 anos de idade a 4 de fevereiro de 1853. A sua morte atingiu profundamente a sua mãe, que visitou o túmulo da filha todos os anos no dia 4 de fevereiro até morrer.
D. Amélia financiou a construção de um hospital no Funchal chamado "Princesa Dona Maria Amélia", ainda existente, e legou as suas propriedades na Baviera ao Arquiduque Maximiliano, a "quem ficaria feliz em ter como genro, se Deus tivesse conservado a sua amada filha Maria Amélia".
D. Amélia nos seus últimos anos de vida |
Após a morte da filha, D. Amélia voltou a residir em Lisboa, onde faleceu a 26 de janeiro de 1873, aos 60 anos.
De acordo com o seu testamento, a sua principal herdeira foi a sua irmã, a Rainha da Suécia, D. Josefina, mas legou para o Brasil muitos documentos pertencentes a D. Pedro, hoje conservados no Arquivo Histórico do Museu Imperial de Petrópolis.
D. Josefina, Rainha da Suécia e irmã de D. Amélia |
Foi sepultada na cripta do Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, transladados para o Brasil em 1982. Até aí estava sepultada ao lado do corpo do irmão de D. Pedro, D. Miguel, no Panteão dos Braganças, em Lisboa.
Em 2012 os restos mortais de D. Amélia, assim como de D. Pedro e da sua primeira esposa, D. Maria Leopoldina, foram exumados pela primeira vez da cripta Imperial por uma equipa de cientistas. Descobriu-se que o corpo de D. Amélia estava mumificado, com vários órgãos preservados. Os exames realizados revelaram que sofria de grave escoliose, uma deformação na coluna espinhal e osteoporose. Media entre 1,60 m e 1,66 m de altura e tinha perdido vários dentes. O vestido que usava era preto, já que desde a morte de D. Pedro, ela estaria de luto.
As causas da sua mumificação ainda não foram bem esclarecidas, mas descobriu-se que o seu corpo sofreu um processo de conservação após a morte, com a inoculação de substãncias aromáticas como a mirra. Também deve ter contribuído para o processo o lacramento hermético do caixão, impedindo a invasão de microrganismos que decompõem a matéria orgânica.
MZ
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