sexta-feira, 22 de maio de 2020

Casos de Desaparecidos: Crianças Beaumont

Crianças Beaumont
Fonte: Minilua
As crianças Beaumont eram três irmãos:
- Jane Nartare Beaumont, nascida a 10 de setembro de 1956, tinha 9 anos
- Arnna Kathleen Beaumont, nascida a 11 de novembro de 1958, tinha 7 anos
- Grant Ellis Beaumont, nascido a 12 de julho de 1961, tinha 4 anos.

Viviam com os seus pais, Jim e Nancy Beaumont, em Harding Street, em Somerton Park, nos subúrbios de Adelaide.

Perto da sua casa havia um resort de praia famoso, Glenelg, que as crianças costumavam visitar.

No dia da Austrália, a 26 de janeiro de 1966, num dia quente de verão, as crianças apanharam um autocarro, uma viagem de cinco minutos, da sua casa para a praia.

Jane, a filha mais velha, era considerada responsável o suficiente para tomar conta dos irmãos mais novos, e os seus pais não se preocuparam.

Eles saíram de casa às 10 horas da manhã e deveriam voltar por volta das 14 horas. Os seus pais começaram a ficar preocupados quando eles não voltaram e chamaram a polícia às 19h30.

A polícia que investigou o caso encontrou várias testemunhas que tinham visto as crianças perto da praia na companhia de um homem alto loiro, de cara magra com um aspeto bronzeado, atlético com cerca de 30 anos.

As crianças estariam a brincar com ele e pareciam relaxadas e a divertirem-se. O homem e as crianças foram vistos a caminhar juntos ao sair da praia algum tempo depois, o que a polícia estimou ser por volta das 12h15 da tarde.

Um empregad de uma loja disse que Jane tinha comprado pastéis e uma torta de carne com uma nota de 1£.

A polícia viu isto como prova que tinham estado com outra pessoa, por duas razões. O lojista conhecia bem as crianças de outras visitas e disseram que elas nunca tinham comprado uma torta de carne antes. E a mãe das crianças tinha-lhes dado apenas moedas para o bilhete de autocarro e comida mas não lhes tinha dado uma nota de 1£. A polícia acreditava que lhes tinha sido dada por outra pessoa.

Outro testemunho foi dado por um carteiro, que conhecia bem as crianças, e que as terá visto por volta das 15 horas, a andarem sozinhas para fora da praia, ao longo da Jetty Road, na direção da sua casa. Ele disse que as crianças estavam "a dar as mãos e a rir".

A polícia só não conseguia perceber porque é que as crianças, normalmente respeitosas, que já estavam atrasadas com uma hora, estariam a brincar sozinhas e a parecerem pouco preocupadas.

Este foi o último avistamento confirmado das crianças. Foi sugerido que o carteiro se tivesse enganado no tempo exato em que as encontrou, e que na verdade as encontrou antes do meio-dia.

Os pais descreveram as crianças, particularmente Jane, como tímida. Para que elas estivessem a brincar tão intimamente com um estranho parecia algo fora do normal.

Os investigadores teorizaram que as crianças, possivelmente, tinham conhecido o homem durante a sua anterior visita ou visitas ao local e ganharam confiança nele.

Um pormenor observado em casa, que pareceu insignificante na altura, suporta esta teoria. Anna tinha dito à mãe que Jane tinha "um namorado na praia". A mãe das crianças pensou que ela estivesse a falar de um amigo de brincadeira e não ligou até ao momento do desaparecimento.

Meses depois, uma mulher reportou que na noite do desaparecimento, um homem, acompanhado por duas meninas e um menino, entrou numa casa da vizinhança que ela achava que estaria vazia. Mais tarde viu o rapaz a andar sozinho até um beco onde foi perseguido e agarrado rudemente pelo homem.

Na manhã seguinte a casa parecia estar vazia novamente, e ela não viu nem o homem nem as crianças novamente. A polícia não conseguiu estabelecer porque é que ela não deu esta informação mais cedo.

Avistamentos das crianças foram reportados cerca de um ano depois do seu desaparecimento. O caso atraiu atenção na Austrália e acredita-se que fez uma grande mudança no estilo de vida das pessoas. Os pais começaram a acreditar que as suas crianças já não estavam seguras.

Este caso também teve atenção internacional. A 8 de novembro de 1966, Gerard Croiset, um parapsicólogo e psíquico dos Países Baixos, foi levado até à Austrália, causando uma confusão nos media. A sua busca pelas crianças não teve sucesso, com a sua história a mudar de dia para dia e a não dar pistas. Ele identificou um local onde acreditava que os corpos das crianças tinham sido enterrados.

Na altura do seu desaparecimento era um edifício novo, e ele acreditava que os corpos deles estavam escondidos por baixo do cimento, dentro dos restos de um antigo forno de tijolos.

Os donos da propriedade, que estavam relutantes em escavar com base numa declaração de um psíquico, rapidamente cederam à pressão do público depois da publicidade ter angariado 40 mil dólares para o edifício fosse demolido.

Não haviam restos, ou provas que ligassem a algum membro da família Beaumont. A polícia estabeleceu que entre as três crianças eles levavam 17 objetos individuais, incluindo roupa, toalhas e malas, mas nenhum destes objetos foi encontrado.

Em 1996, o edifício identificado por Gerard Croiset foi parcialmente demolido e os donos permitiram uma busca total ao local. Novamente não havia rasto das crianças.

Cerca de dois anos depois do seu desaparecimento, os pais Beaumont receberam duas cartas supostamente escritas por Jane, e outra por um homem que dizia ter as crianças.

Os envelopes mostravam um posto dos correios de Dandenong, Victoria. As notas breves descreviam uma existência bastante agradável e referia-se ao "homem" que a tinha.

A polícia achou, na altura, que as cartas podiam muito bem ser autênticas depois de as comparar com outras coisas escritas por Jane. Na carta do "homem" dizia-se que se tinha apontado a si mesmo como "guardião" das crianças e que estava disposto a devolvê-las aos pais. Na carta mencionava um local de encontro.

Os pais das crianças, seguidos por um detetive, foram até ao local designado mas ninguém apareceu. Foi algum tempo depois que uma segunda carta, também supostamente de Jane, chegou. Dizia que o homem estava disposto a devolvê-la mas quando se apercebeu que também estava lá um detetive disfarçado, achou que os Beaumont tinham traído a sua confiança e que iria continuar com as crianças.

Não apareceram mais cartas. Cerca de 25 anos depois, novas análises forenses às cartas mostraram que havia uma evidência. A tecnologia das impressões digitais tinha melhorado e o autor foi identificado como um homem de 41 anos que era um adolescente na altura e tinha escrito as cartas por piada. Devido ao tempo que tinha passado, não foi acusado de nada.

Em novembro de 2013, uma fábrica em North Plympton foi escavada no seguimento de uma pista sobre as crianças Beaumont. Um radar de penetração no solo encontrou "uma pequena anomalia, que podia indicar movimentos ou objetos no solo", mas a escavação não encontrou evidências adicionais e a investigação no local foi fechada.

Ao longo do tempo houve alguns suspeitos. As investigações levaram a polícia ao contabilista, de 37 anos, Bevan Spencer von Einem, que tinha 21 anos na altura do desaparecimento. As testemunhas começaram a chegar, muitas dizendo ter medo pelas suas vidas e a falar de uma sociedade secreta importante sedada em Adelaide de homens profissionais que perseguiam jovens, drogando-os, violando-os e por vezes matavam-nos. Von Einem foi acusado apenas pelo homicídio de Richard Kelvin.
Suspeito Bevan Spencer von Einem
Fonte: The Advertiser
Uma testemunha relatou uma alegada conversa com Bevan em que ele se gabava de ter levado três crianças de uma praia há vários anos, e disse que as levou para casa para fazer experiências. Ele disse que tinha feito uma "brilhante cirurgia" numa delas, e tinha "ligado-as". Umas das crianças tinha morrido durante a cirurgia e por isso matou as outras duas, largando os seus corpos numa zona de arbustos a sul de Adelaide. A polícia não tinha considerado a ligação de Bevan com as crianças, mas de alguma forma ele coincidia com as descrições e rascunhos da polícia de 1966.

Outro suspeito foi nomeado em 1998 e chamava-se Arthur Stanley Brown. Na altura com 86 anos, foi acusado dos homicídios das irmãs Judith e Susan Mackay em Townsville. Elas desapareceram enquanto iam para a escola no dia 26 de agosto de 1970, e os seus corpos foram encontrados alguns dias depois num caminho de pedras. Ambas as raparigas tinha sido estranguladas. O julgamento de Brown, em julho de 2000, foi adiado depois do seu advogado ter recorrido a um veredicto da secção 613 (inadequado para julgamento) do júri. Ele nunca foi julgado novamente porque sofria de demência e Alzheimer. Brown morreu em 2002.
Suspeito Arthur Stanley Brown
Fonte: Grafton Daily Examiner
Assim como Bevan, Arthur é considerado o melhor suspeito pelo rapto das crianças Beaumont porque tinha uma semelhança com o retrato do suspeito de ambos os casos de Adelaide e as crianças Beaumont. Uma busca por uma ligação com os Beaumont foi sem sucesso porque não existiam registos de empregos que mostrassem os seus movimentos na altura.

Apesar de não existir provas de alguma vez Arthur ter visitado Adelaide, uma testemunha lembra-se de ter uma conversa com ele onde ele mencionava ter visto o Centro de Festivais de Adelaide perto de estar completo, o que o coloca em Adelaide em junho de 1973. O rapto do estádio ocorreu no dia 25 de agosto de 1973. No entanto, não foram encontradas provas que ligassem Arthur a Adelaide em 1966 quando as crianças Beaumont foram raptadas.

No início dos anos 70, James O'Neill, que estava a cumprir prisão perpétua em 1975 pelo homicídio de uma criança de 9 anos na Tasmânia, disse a um proprietário da estação em Kimberley e a vários outros colegas que era responsável pelo desaparecimento das crianças Beaumont.

O anterior detetive vitoriano Gordon Davie passou três anos a falar com James para ganhar a sua confiança. Gordon disse que apesar de não existirem provas que ligassem James ao desaparecimento das crianças Beaumont, ele tentou levar James a assumir a culpa: "Eu perguntei-lhe sobre os Beaumont e ele disse: 'Eu não o poderia ter feito. Eu estava em Melbourne na altura'. Isso não é uma negação". Mais tarde, questionado novamente sobre a morte dos irmãos, ele respondeu "Olhem, por conselhos legais eu não vou dizer onde estava nem quando estive lá". Apesar das declarações de James de nunca ter estado em Adelaide, o seu trabalho na idústria na altura precisava que ele visitasse com frequência Coober Pedy e as estradas para viajar de Melbourne para Coober Pedy e passava por Adelaide.

A 22 de abril de 2007, um relatório no jornal The Age sugeria que as crianças Beaumont tinham sido mortas por Derek Percy, na altura prisioneiro de Victoria. Derek esteve na prisão até à sua morte em 2013, depois de ter sido dado como inocente por insanidade pelo homicídio de Yvonne Tuohy em 1969. O jornal alegava que as provas acumuladas pelos investigadores de casos arquivados indicavam que ele era um suspeito provável por um número de homicídios de crianças por resolver, incluindo as Beaumont.

A sua declaração de insanidade no homicídio de Yvonne Tuohy foi em parte baseada no seu sofrimento de uma condição psicológica que poderia preveni-lo de se lembrar dos detalhes das suas ações. Era suposto que indicasse que talvez tivesse morto as crianças Beaumont, uma vez que estava na zona na altura, mas ele não se lembrava de o ter feito.

No dia 30 de agosto de 2007, a polícia conseguiu uma permissão para questionar Derek Percy em relação ao desaparecimento das crianças Beaumont.

Em 1966, Percy tinha 17 anos e por isso aprecia muito jovem para ser o homem visto com as crianças Beaumont por várias testemunhas. Também não se sabe se Percy tinha um carro na altura, enquanto que presumia-se que o suspeito das crianças Beaumont tinha acesso a um para facilitar uma fuga rápida e também para se livrar dos corpos das crianças mais tarde.

Os pais das crianças Beaumont receberam muita simpatia do público australiano. Nunca foi sugerido publicamente que as crianças não deveriam ter sido autorizadas a viajar sem supervisão, ou que os seus pais tinham sido negligentes, simplesmente porque na sociedade australiana da altura era dado por garantido que era seguro e aceitável.

O casal ficou na sua casa de Somerton Park durante muitos anos. A mãe, em particular, ficou com a esperança que as crianças voltassem e disse em entrevistas que seria "terrível" se as crianças voltassem para casa e não encontrassem os pais à espera deles.

Depois de muitos anos, quando novos meios e teorias surgiram, os Beaumont cooperaram inteiramente explorando todas as possibilidades, fosse que as crianças tinham sido raptadas por um culto religioso e que viviam tanto na Nova Zelândia, como em Melbourne ou Tasmânia, fosse alguma pista que sugerisse um possível local de enterro das crianças.

Mais tarde, o casal vendeu a sua casa e mudou-se.  Depois divorciaram-se. Diz-se que aceitaram que a verdade pode nunca ser descoberta, e resolveram viver os seus últimos dias fora da atenção do público que os seguiu durante décadas.

Os pais das crianças ficaram devastados em 1990 quando os jornais publicaram fotografias digitais de como as crianças pareceriam enquanto adultos. As imagens, publicadas contra os seus desejos, causaram um movimento de simpatia do público.

Em setembro de 2019, a mãe das crianças, Nancy, faleceu aos 92 anos de idade, sem saber o desfecho do desaparecimento dos seus três filhos.

MZ

A(s) imagem(ns) podem ser encontradas em vários sites da Internet, o texto é baseado em várias pesquisas feitas por mim.

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